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Transtorno Obsessivo Compulsivo
O que é TOC?
Na doença mental
denominada transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), uma pessoa é aprisionada por
um padrão de pensamentos e comportamentos repetitivos que não têm sentido, são
desagradáveis, e extremamente difíceis de evitar.
A seguir apresentamos alguns
exemplos típicos de TOC:
Perturbada por pensamentos repetitivos de que
pode ter se contaminado ao tocar maçanetas e outros objetos "sujos", uma
adolescente passa horas todo dia lavando as mãos. Suas mãos estão vermelhas e
irritadas, e sobra pouco tempo para suas atividades sociais.
Um homem de
meia-idade é atormentado pela ideia de que pode ferir outras pessoas por
negligência. Não consegue sair de casa sem antes passar por um longo ritual de
verificação, onde se certifica diversas vezes de que os bicos de gás do fogão e
as torneiras estão fechados.
Várias vezes ao dia uma jovem mãe é dominada
pelo terrível pensamento de que vai agredir seu filho. Embora se esforce muito,
não consegue se livrar dessa ideia dolorosa e preocupante. Ela se recusa até a
tocar em facas de cozinha e outros utensílios pontiagudos, por ter medo de que
possa utilizá-los como armas.
Se o TOC se tornar grave, pode comprometer
seriamente as atividades de uma pessoa em casa, no trabalho ou na escola. Por
isso é importante conhecer mais sobre esse transtorno e os tratamentos que são
disponíveis no momento.
O TOC é comum? Por muitos anos o TOC
foi considerado uma doença rara por profissionais especializados em saúde
mental, porque apenas pequena minoria de seus pacientes queixava-se de sintomas
compatíveis com essa condição. Porém, acredita-se que muitas pessoas
atormentadas pelo TOC, tentando esconder seus pensamentos e comportamentos
repetitivos, não procurem ajuda, o que leva os profissionais de saúde mental a
subestimar o número de pessoas com essa doença. Entretanto, uma pesquisa recente
realizada pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH -
National Institute of Mental Health) - o departamento oficial que financia
pesquisas sobre o cérebro, doenças mentais e saúde mental, em nível nacional
naquele país - propiciou um melhor conhecimento sobre a prevalência (número de
casos da doença em uma população, num determinado período de tempo) do TOC. A
pesquisa do NIMH demonstra que esse transtorno afeta cerca de 2% da população, o
que significa que o TOC é mais comum do que a esquizofrenia e outras doenças
mentais graves.
Principais caraccterísticas do TOC
Obsessões:
São pensamentos ou impulsos não desejados que retornam repetidamente à mente
da pessoa com TOC. O indivíduo é perturbado continuamente por um pensamento
aflitivo como: "Minhas mãos podem estar contaminadas - preciso lavá-las"; "devo
ter deixado o bico do gás aberto"; ou "vou machucar meu filho". Esses
pensamentos são considerados intrusivos e desagradáveis pela pessoa que os
apresenta. Eles produzem ansiedade.
Compulsões: Para avaliar sua
ansiedade, a maioria das pessoas com TOC recorre a comportamentos repetitivos
denominados compulsões. As mais comuns são a de lavar as mãos e a verificação
repetitiva, como nos dois exemplos mencionados anteriormente. Outros
comportamentos compulsivos incluem a contagem (geralmente enquanto a pessoa está
realizando outra ação compulsiva, como lavar as mãos), e a arrumação
interminável de objetos, com o intuito de manter perfeito alinhamento ou
simetria entre eles. Esses comportamentos em geral têm a intenção de proteger a
própria pessoa com TOC ou outras pessoas. Normalmente são claramente
estereotipados, com pequenas variações de uma ocasião para outra, sendo
frequentemente referidos como rituais. A realização desses rituais traz algum
alívio da ansiedade à pessoa com TOC, mas esse alívio é apenas temporário.
Reconhecimento: As pessoas com TOC geralmente têm considerável
consciência do seu problema. Na maioria das vezes, elas sabem que seus
pensamentos obsessivos são sem sentido ou exagerados, e que seus comportamentos
compulsivos não são realmente necessários. Entretanto, tal conhecimento não é
suficiente para libertá-las de sua doença.
Controle: A maioria das
pessoas com TOC esforça-se para se livrar dos indesejáveis pensamentos
obsessivos e para evitar comportamentos compulsivos. Muitas são capazes de
controlar seus sintomas obsessivo-compulsivos quando estão no trabalho ou na
escola. Porém, com o passar do tempo, a resistência pode enfraquecer e, quando
isso acontece, o TOC pode se tornar tão grave que os longos rituais passam a
dominar a vida da pessoa, impossibilitando-a de continuar suas atividades fora
de casa.
Vergonha e Segredo: As pessoas com TOC geralmente tentam
esconder seu problema ao invés de procurar ajuda. Frequentemente conseguem
esconder muito bem seus sintomas obsessivo-compulsivos dos amigos e colegas de
trabalho. Uma infeliz consequência disso é que as pessoas com TOC só recebem
ajuda profissional muitos anos após o início de sua doença. Nessa ocasião, os
hábitos obsessivo-compulsivos podem estar profundamente arraigados e muito
difíceis de mudar.
Interferência: Só se considera que uma pessoa
tenha TOC quando seus comportamentos obsessivos e compulsivos atinjam gravidade
suficiente para interferir em sua vida cotidiana. Pessoas com TOC não devem ser
confundidas com um grupo muito maior de indivíduos que, às vezes, são chamados
de "compulsivos", por se ater a um elevado padrão de desempenho em seu trabalho
e até mesmo em atividades de lazer. Esse tipo de "compulsão" frequentemente
serve a propósitos valiosos, contribuindo para a auto-estima do indivíduo e seu
sucesso no trabalho. Nesse sentido, difere das obsessões e rituais que trazem
limitação e sofrimento para a vida da pessoa com TOC.
Sintomas
Prolongados: O TOC tende a persistir por muitos anos, até mesmo décadas.
Os sintomas podem tornar-se menos graves de tempos em tempos, podendo haver
longos intervalos com sintomas discretos. Em geral, o TOC é uma doença crônica.
Quem desenvolve TOC? O TOC aflige pessoas de todos os grupos
étnicos. Tanto homens como mulheres são afetados. Os sintomas se iniciam
caracteristicamente durante a adolescência ou no início da idade adulta.
Tratamento do TOC A pesquisa clínica e
em animais, financiada pelo NIMH e por outras organizações científicas, está
revelando tratamentos que podem ajudar a pessoa com TOC.
A seguir são descritos
dois desses tratamentos:
1) Tratamento com Medicamentos: O medicamento
denominado clomipramina pode aliviar os sintomas de TOC em muitas pessoas. A
clomipramina pertence a um grupo de medicamentos denominados antidepressivos
tricíclicos, amplamente utilizados para o tratamento da depressão. Porém, muitos
estudos demonstraram que a clomipramina pode ser benéfica também em pacientes
com TOC, quer apresentem ou não depressão concomitante. Dois outros medicamentos
- fluvoxamina e fluoxetina - também podem ser eficazes no tratamento do TOC.
Esses medicamentos, como a clomipramina, aumentam a capacidade de o cérebro
utilizar a serotonina, um composto químico que ocorre naturalmente no cérebro.
Cientistas do NIMH e outros, que recebem financiamento do Instituto, estão entre
os pesquisadores que investigam medicamentos para o tratamento do TOC.
2)
Terapia Comportamental: A psicoterapia tradicional, cujo objetivo é o de ajudar
o paciente a reconhecer e elaborar seus próprios problemas, geralmente não é
eficaz no tratamento dos sintomas obsessivo-compulsivos. Entretanto, uma
abordagem terapêutica comportamental, denominada "exposição e prevenção da
resposta", demonstrou ser eficaz em muitas pessoas com TOC. Nessa abordagem, o
paciente é deliberadamente exposto ao objeto ou à ideia temidos, tanto
diretamente como pela imaginação, sendo então desencorajado ou impedido de
utilizar a resposta compulsiva usual. Por exemplo, uma pessoa que lave as mãos
compulsivamente pode ser estimulada a tocar um objeto supostamente contaminado e
depois faz-se com que não lave as mãos durante horas. Quando o tratamento surte
efeito, o paciente gradualmente sente menos ansiedade em decorrência de seus
pensamentos obsessivos e consegue permanecer sem atitudes compulsivas por
períodos mais prolongados. Na pesquisa financiada pelo NIMH, investigadores da
Temple University, de Filadélfia, Estados Unidos, avaliaram sua própria versão
desse método e descobriram que três quartos dos pacientes incluídos no estudo
apresentaram melhora.
Causas do TOC
O fato de que alguns
pacientes com TOC respondem bem a medicamentos específicos sugere que o
transtorno tenha uma base neurobiológica. Por essa razão, não se atribui mais o
TOC a comportamentos aprendidos na infância - por exemplo, ênfase excessiva em
limpeza ou a crença de que certos pensamentos sejam perigosos ou inaceitáveis.
Ao contrário, a pesquisa das causas atualmente se concentra na interação entre
fatores neurobiológicos e influências ambientais. Acredita-se que pessoas que
desenvolvem TOC tenham uma predisposição biológica a reagir de forma acentuada
ao "stress". Tal reação se manifesta sob a forma de pensamentos intrusivos e
desagradáveis, que geram mais ansiedade e "stress", criando, por fim, um círculo
vicioso do qual a pessoa não consegue sair sem ajuda.
Com o propósito de
identificar fatores biológicos específicos que possam ser importantes para o
início ou a persistência do TOC, pesquisadores financiados pelo NIMH têm
utilizado uma técnica denominada tomografia por emissão de pósitrons (PET -
"positron emission tomography") para estudar o cérebro de pacientes com TOC.
Vários grupos de pesquisadores obtiveram informações, com o uso do PET, que
sugerem que pacientes com TOC apresentam um padrão de atividade cerebral
diferente do de outras pessoas sem doença mental ou com alguma outra doença
mental. Estudos com imagens cerebrais de pacientes com TOC demonstram atividade
neuroquímica anormal em áreas do cérebro com participação reconhecida em certos
distúrbios neurológicos sugerindo que tais áreas podem ser cruciais no
desenvolvimento do TOC. Sintomas de TOC, embora não a síndrome completa, são
observados em associação com outros distúrbios neurológicos. Entre eles
incluem-se a "Síndrome de Tourette", uma condição que se desenvolve em
determinadas famílias, caracterizada por movimentos (tiques motores) e
vocalizações (tiques vocais) abruptos, involuntários e repetitivos. Estudos
genéticos de TOC e de outras condições relacionadas poderão algum dia
possibilitar, aos especialistas, definir com precisão a base molecular desses
transtornos.
A investigação em andamento sobre as causas, aliada à
pesquisa sobre o tratamento, promete proporcionar ainda mais esperança para as
pessoas com TOC e suas famílias. O Congresso Americano designou a década de 90
como a Década do Cérebro, para transformar em prioridade nacional em termos de
pesquisa a melhora da prevenção, diagnósticos, tratamento e reabilitação dos
transtornos mentais e neurológicos.
National Institute of Mental
Health - USA Pesquisa: Ana Lima
Revista Rio Total, 02/02/2008
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