16/03/2024
Ano 27
Número 1.359




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Saudades do Abel


Acredito que se chamava originalmente Abelardo e ficou Abel, na minha saudade e por que não dizer remorso. E em 2022, que aconteceu muita coisa, inclusive mortes muito sentidas, vide Pelé e Gal Costa, entre outros sentidos encantamentos, ocorreu a morte do Abel. Dando veracidade à crônica de saudade e de mitigação de remorsos, Abel era de fato Abelardo. Se dissessem Abelardo, ele nem saberia que era com ele. E se estou crônica necrológica de homenagem, vale dizer que vis a vis nunca estive com Abel. Só retratos. Como se pode fazer parecer amizade, se nunca estiveram juntos? Ótimo quando se pode dar exemplo palpável. Durante mais de vinte anos fui amigo de Artur da Távola e nunca apertamos mãos. E posso provar que fomos amigos e até estou indo a livro em sua homenagem e com material, muito material, original e de comprovação da duradoura amizade entre dois homens ocupados, um político, deputado e senador, presidente de partido, jornalista, com programa radiofônico, escritor de renome e quem digita e que sempre almejou dias de 36 horas, tais suas múltiplas atividades. Então Artur de Távola e Pedro Franco foram amigos e o título do livro será ARTUR da TÁVOLA e Pedro Franco e o tamanho das letras é para diferenciar homenageado e homenageador. Agora o homenageado é o Abel, em quem me fixo e definitivamente. Temos amiga que cuida de nossas colunas, de Maria Helena e da minha, há mais de vinte anos. Sou ruim de determinar anos e então vai pelo geral, o mais de vinte anos e sem mentir. A Fisiatra tem filha, que se casou e comprou Abelardo. E chego ao clímax da crônica, um pitbull enorme. Quis fazer festa em criança da família e a jogou no chão e JP passou a detestar cachorros. E a filha da amiga, dona do Abelardo, casa e engravida. E até então Abel fora o rei do apartamento, dito o “enfant gâté” do casal. Vem o Luís. Como reagirá o Abel, se tiver ciúmes? Avó preocupada e me passa a preocupação. Como reagirá Abel? Seus pais, seus donos, não têm qualquer dúvida. Abel, feito eles, vai adorar o Luís. E aí o remorso. Tenho amizade à avó do Luís e mal conheço os donos do Abel. E pela primeira vez na vida bateu vontade de ir à carta apócrifa, não assinada e oh estupidez, prevenir donos sobre os possíveis ciúmes do monstro. em tamanho e força, Abel. Bom senso vindo e só desejei que Abel fosse tão bom, como seus donos previam. Por que não escrever carta assinada, honesta, bem intencionada? Pôr a sogrinha no fogo e ela já tem fama de bruxa de vassoura, ainda que nada tenha de bruxa e sim dedos fisiatras mágicos. Posso chegar ao fim e com louvores, Abel foi o maior amigo de Luís, que fazia o cão amigo de gato e sapato e custou a se reconciliar com a vida, quando um câncer lhe levou o amigo, tipo irmão. Santo Abel descanse em paz e que tenha encontrado no céu dos ótimos cachorros uma cadela pitbull, que o faça ter até menos saudades do irmão Luís. Os pais do Abel, sábios pais, tinham razão, Abel sempre foi gente muito fina, de ótimo coração. Saudades, Abel.
Duas observações em relação à crônica, escrita há meses. Saiu o livro pelas Edições Scortecci e com título “Meu amigo Artur da Távola”. Quando do falecimento da Abel, Luís chorava e dizia. “Quero meu irmão Abel.”


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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