16/01/2024
Ano 27
Número 1.351




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Bajuladores e afins


Definir conceitos de determinados termos fica difícil, porque não são sinônimos, só que tem algum parentesco nas suas interpretações. Vamos a exemplo. Bajulação e adulação. Parece-me que adulação, trocando em miúdos, é uma prestação de contas, ou elogios, verdadeiros, ainda que mostrados de forma exacerbada. Já a bajulação é algo abjeto, pode até conter verdades, só que o ato em si é degradante na forma e na apresentação. É deletério, tenha raízes verídicas, ou não, já que a finalidade e a interpretação são ruins. Certa vez vi figura de relevo em minha profissão e para manter seu emprego bem remunerado, bajular de forma vergonhosa profissional, que por manobras chegara a cargo importante e o usava para ser bajulado e em público. O bajulado quer ter plateia e que o bajulador fique fazendo um triste papel perante os convivas. Já a adulação, se feita de modo próprio e com comedimento, serve de elogio franco de um para o outro. É um pleito, tipo homenagem, na maioria de corpo presente. Já bajuladores têm de apregoar com desfaçatez sua ação. E também condeno os que se sentem bem, ao serem bajulados. Quase dizem, é homenagem que mereço deste individuo carente de escrúpulos. Eufonicamente não me agradam os termos bajulação e adulação. Ao primeiro prefiro o tosco “puxa-saco”, bem agressivo e beirando o precipício de termo vulgar. Seu outro sinônimo ainda é pior; eis “baba-ovo”. Para ação tão pecaminosa até que a chulice vai bem. E chego à nova categoria de bajuladores e vem com adulteração do termo parceiros e se fica bonito ouvir, aqueles dois sempre foram parceiros no amor e até comemoraram bodas de diamante. Então são parceiros de vida já por sessenta anos. Já os parças são novos. Novos bajuladores. É ação especial, idem atribuição. Parça. Um jovem artista de telinha, ou de futebol, ganha absurdos, grana para valer e carece de juízo. Quer palmas e companheiros para qualquer tropelia e dizendo amém. Tudo bem, ´tou contigo, sou seu parça e um verdadeiro parça só diz o que o astro determina. Não lhe cabe dar conselhos, apenas acompanhar, aplaudir e ajudá-lo a gastar o dinheiro fácil e fazer o que o pretenso amigão julga por bem e gasta, como gasta!. Parça não dá bola nas costas e nem conturba o vestiário. É a gangue do ´tou contigo e não abro. No âmago, ´tou contigo, enquanto grana houver e este negócio de amizade é “caretaça”! Então podemos ter bajuladores, aduladores, puxa-sacos, baba-ovos e parças. Se a grana acaba, ou interesse politico finda, adeus bajuladores e parças. Qual o pior? Que tal o bajulador político, que atrapalha o bajulado e aqueles, que dependeriam de suas boas ações políticas, ficam lesados e pobres, famintos. Já os parças são bons de farra e enquanto ocorrem bons contratos, a legião dos parças aumenta, ainda que parça tente na surdina não deixar outros parças chegarem. Chegou agora e já quer sentar na janela?


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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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