01/10/2023
Ano 26
Número 1.337




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Perder o vestiário


De quando em quando os do futebol criam frases, que se prestam a outros campos que não só aos gramados. E se frise que o emplacador de frases, mais citado no futebol, é Neném Prancha, que teve vários jornalistas a admirá-lo e citá-lo, sendo João Saldanha quem mais o divulgou. Neném era técnico do futebol de areia e desta atuação vinham seus conselhos. Há frase, que penso ser dele e que dizia: “Arrecua” os beques, senão a catástrofe é certa. Dessa, ser do Prancha, certeza não tenho.
Eis as do Prancha, que o Dr. Google mostra:
• Pênalti é tão importante que, quem devia bater, é o presidente do clube”.
• “Se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava sempre empatado”.
• “Se concentração ganhasse jogo, o time do presídio não perdia uma partida”.
• “Quem pede, tem preferência, quem se desloca, recebe”.
• “Bola tem que ser rasteira, porque o couro vem da vaca e a vaca gosta de grama”.
• “Jogador tem que ir na bola com a mesma disposição de quem vai num prato de comida”.
• “O goleiro deve andar sempre com a bola. Se tiver mulher, dorme abraçado com as duas”.
• “Jogue a bola pra cima, pois enquanto ela estiver no alto, não há perigo de gol”.
• “Jogador bom é que nem sorveteria, tem várias qualidades”.
• “Goleiro é uma posição tão amaldiçoada, que, onde ele pisa, nem grama nasce”.
• “Futebol é simples, quem tem a bola, ataca; quem não tem, defende”.
Parece que se deve ao Senador Romário uma boa frase. Chegava um novo jogador ao clube. Havia o transporte aos campos. E o cara novo no ônibus se sentava no banco colado à janela, o lugar mais fresco do ônibus nos “antigamentes”, E Romário reclamava, Chegou agora e já quer sentar na janela! De fato o lugar com melhor visão e mais fresco.
E várias frases saíram da área esporte e foram para a política e algumas com total aplicação. Vou a que deu início à crônica e pergunto quem a teria inventado, pois merece loas. Digamos que o presidente de um clube perca o vestiário, isto é, o comando do governo do clube. Tem que se relacionar e até ceder aos que dominam o vestiário. Quem sabe se o grupo tem um centro e este tem um mandatário e, por exemplo, pressiona o presidente do clube, para aumentar a compra de bolas. O presidente sabe que já comprou o número de bolas suficiente e julga que o Diretor de Esportes. com sua fala mansa e até atos subservientes, ganha percentagem por bola comprada. Se o presidente do clube barra a compra das bolas, o Diretor de Esportes tem os outros diretores na mão e então, se o presidente veda a compra de bolas, aí mesmo é que não faz nada e vira rainha da Inglaterra, ou rei, Reina, mas não governa E o presidente tem que governar, até para ficar de acordo com o que disse na campanha e também para preservar seus interesses. Para não perder seu vestiário, tem que combinar ações com o centro do vestiário, no caso o Diretor de Esportes, que leva bola, ao comprar bolas. Dirigir um clube, ou qualquer coisa, é complicado. E Benito Mussolini já apregoava: Governar a Itália não é difícil. É impossível. Benito queria mandar sozinho! Será que seu patrício e político, recém-falecido, Berlusconi concordaria? Pena que não se possa perguntar se, cedendo e muito à turma do vestiário, consegue conduzir o governo de um clube? Volto ao Prancha, que tanto valorizava presidentes, que os indicava para bater pênaltis. A experiência de presidentes de clubes mostra que para alcançar sucesso e ser indicado a bater o pênalti, tem que angariar prestígio com o centro do clube, no caso capitaneado pelo Diretor de Esportes. Se não arrecua e cede, a catástrofe é certa. 


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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