16/09/2023
Ano 26
Número 1.335




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


NÓS E O COPA


Hoje o “ELA”, revista que sai no O Globo dos domingos, trouxe a fachada do Copacabana Palace, que foi dos Guinles e se tornou notório na passagem de personagens pelo Rio e nele hospedados. Permito-me uma digressão inicial e tomarei outras. Entrei aluno no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, obra meritória da Família. Saí aposentado, honrado com o título honorífico de professor emérito. No hospital da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO fui professor de centenas de alunos, inclusive de filho e neta. Isto aconteceu no Gaffrée e Guinle. Volto ao tema básico, o Copa. A lista de pessoas de relevo, que ficaram no Copacabana Palace, é enorme; o baile de Carnaval no Copa tem histórias e já foi marco turístico da cidade. E como passaram pelo Copa mulheres bonitas! Até Brigitte Bardot, antes de por Búzios no mapa mundial de atrações turísticas e até preferia que por beleza, tivesse descoberto Paquetá, face também à poeticidade da Ilha dos Amores e sua praia da Moreninha, vide obra de Macedo, hospedou-se no Copa e lá se entrincheirou. Então La Bardot saiu do Copa, depois fez pacto com a imprensa e pode seguir viagem com menos atropelo para Búzios, onde tem estátua. Como apregoava o “soi dizant” filósofo Ibrahim Sued, os cães ladram e a caravana passa. E quantas e quantas caravanas belas hospedou o Copa! Permitam-me voltar à Paquetá. Meus pais se conheceram na Ilha e muitos anos depois João e Lourdes tinham casa lá e em frente ao cemitério. Não pensem em horror e cemitério. É jardim lindo e em suas árvores vi até tiês sangue e outros passarinhos. No cemitério, que não parece cemitério, há até mastro de navio naufragado, não sei como, na calma baia da Guanabara. E eis que meu pai, que no fim de vida morava com mamãe na Ilha, vê em coche puxado por cavalos, lindas pernas. Acabaram com os coches puxados a cavalos e era som agradável ouvir ferraduras batendo nos paralelepípedos do trecho da ponte das barcas, único lugar da Ilha com piso de pedra. Deitada no coche e com pernas às brisas ternas e paquetaenses, Claudia Cardinale. Se a bela não fez pela ilha, o que a Bardot por Búzios, diga-se e vão me cair pedras na cabeça, julgo La Cardinale, a italiana, ainda que com menos charme, mais bela que a francesa. Volto ao Copa. Parece que Lady Di nadou tristemente em sua piscina. Declaro que prefiro a futura rainha Kate Midleton, que enfrenta indomitamente os ventinhos londrinos. Volto à piscina e agora não é a do Copa. Conta-se que a mulher mais bonita do cinema, Ava Gardner, visitou Papa Hemingway na sua Villa Finca perto de Havana. Muito calor e Ava resolveu se refrescar na piscina. Noite. Só na piscina. Maiô para que? Jogou na borda o maiô preto e as águas a receberam. Hemingway, que sabia das coisas e ali mandava e prendia, deu peremptória ordem. Que nunca mais se troque a água dessa piscina! Bravos, Papa! Falou, disse e nem perguntou por quem os sinos dobram. E volto ao Copa. Não é que nunca fomos ao Copa! A vida passa e algo que poderia ter feito, não foi realizado. Que tolo! Não ouvi Woody Allen tocar clarineta em Nova York e nem fui à Baker Street. Vi muita coisa, fiz algumas interessantes, só que eu e ela, nos nossos sessenta e cinco anos de casados, deveríamos ter comemorado pelo menos uma vez no Copa. Será que agora é tarde? 


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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