16/08/2022
Ano 25
Número 1.284





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


De Alexa à Tereza da praia


Olhe, eu sabia que devia fazer esteira e assim tinha me programado. Só que o calor partira, um friozinho chegava, era lá pelas cinco da tarde, tarde nebulosa e relia “Por quem os sinos dobram”. E, para embalar o livro, pedi à Alexa que tocasse Dick Farney. Aí se deu a desistência do exercício. E do Dick foram saindo histórias. Tive amigo, que fora colega CPOR do cantor, e me contou que se chamava Farnézio Dutra. E o irmão, galã de outros tempos e em homenagem ao Dick nem comento o desempenho do Cyl Farney, possivelmente Cileno Dutra. Volto ao amigo, amigo mais velho e de mérito profissional incontestável, tipo figura. E este amigo, que fora colega do Farnézio, ouvia com desusado interesse a música “Nick Bar”. Gostava em geral das músicas do Dick, ainda que seu forte musical fossem as grande bandas americanas do seu tempo, Tommy Dorsey, Glenn Miller e semelhantes. Então gostava da música do Dick, só que ouvia “Nick Bar” com mais dedicação. Pelo jeito havia especial motivo e as recordações não pareciam ser com sua esposa. Pergunto, não pergunto e não perguntei. Aconteceu-lhe algo no Nck Bar, ora se aconteceu. Volto ao Dick Farney, para mim a posteridade não lhe presta o valor devido. Parece-me que nos “estates” foi o primeiro a gravar Tenderly. Ou estou dando chute fora? E se apaixonou por aeromoça. Tocava, cantava e que grave tinha! Só não compunha. Passa a missão a Billy Blanco. E então canta “Aeromoça”, aquela do “Com esta flor a bordo eu concordo então, é bobagem medo de avião”. Dick foi quem melhor cantou “Fotografia”, que lhe foi oferecida por Tom e como cantou bem, o bar que fechava a tarde e veio aquele beijo. Que pena, não vivi momento semelhante. Havia algo complicado no romance. E conto que ia ao Otto, restaurante que havia na rua Mariz e Barros. E tinha ótimo pianista na hora do almoço de domingo. Tocava bem e até soube depois que fez graduação na Inglaterra. Só que há que ganhar o pão de cada dia. Reafirmo, tocava bem e a moçada, no garfo e faca, pouco ouvia. Tocava “Fotografia” de forma inspirada. Tinha escrito crônica sobre “Fotografia”, das músicas brasileiras mais gravadas. Deixei a crônica sobre o piano e no outro domingo, quando entramos, acabou a música, que já iniciara e veio de Fotografia. Virou fato domingueiro. Levamos a filha a almoçar. Sentamos e disse à Denise. Se não me engano, vai tocar Fotografia agora. E para espanto dela veio a Fotografia. Então contei a história da crônica e do gentil pianista, de quem perdi a direção. Como se perde direções na vida! De toda a forma, muito obrigado pelas fotografias. Dick contava que se encontrara com Caymmi e o baiano lhe disse.
Você, que gosta de música americana, tenho algo para você. Era “Marina”. Olhe, tenho alguns CDs do Dick e, quando se junta ao Lúcio Alves (depois ao Toninho de seu Trio) e chegam à Tereza da praia, música de Billy e Tom, é de apreciar. E Lúcio a descreve Tereza com uma pinta do lado... De novo. Não deram a Dick Farney, pianista e cantor, a posteridade e as honras que merece. Que pena! 


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

Conheça um pouco mais de Pedro Franco
.



Direitos reservados. É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação eletrônico ou impresso sem autorização do autor.