01/04/2022
Ano 25
Número 1.266





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Bongô no samba


E hoje na caminhada na Altenhaus (se recomendo que pacientes andem, devo caminhar também e vou abusar, aviso, de parênteses nessa história) ouvi e gostei de música, que puristas podem achar heresia. Diga-se que meu neto Maurício fez uma engenhoca, que toca escolhidas músicas e que me acompanha nas caminhadas matutinas das férias e há mais de dez anos. E por que falei em puristas e heresia? Lembram-se quando o trem bom de Minas (Milton Nascimento Beto Guedes, Fernando Brant, Tavito Moura, Lô Borges, Toninho Horta, Flávio Venturini e outros ótimos poetas e músicos) meteram guitarras na MPB? Até o pessoal da Bossa Nova, que era inovador, pôs a dita cuja de molho, ainda que só em princípio, pois quem podia antagonizar o Anjo Barroco Gogó de Ouro Nascimento e os outros valores mineiros? Caetano/Gil/Gal/Betânia eram abertos a inovações e os Novos Baianos tinham já a consagrada guitarra de Pepeu Gomes e mais Baby, Paulinho Boca de Cantor (olha que apelido porreta e cabível) e outros, já por natureza eram chegados a tudo e com um ritmo de arrebentar e bom gosto. Eta Baby Consuelo! Volto às escolhas de meu neto e aleatoriamente ouvi muito Dick Farney (não reclamem do nome artístico, que tinha que ter, pois seu nome de certidão de nascimento era Farnézio Dutra) e Dick e Lúcio Alves vieram e com charme total de “Tereza da Praia”, de Tom e Billy Blanco, aquela Tereza que tinha uma pinta do lado. E ainda sem falar na inicial heresia citada, quando falo no Blanco sempre lembro de música de sua autoria, que merecia ser cantada nos pátios das escolas primárias com os hinos pátrios. Essa MPB é a Banca do Distinto, um hino contra a soberba, defeito de caráter que muito atrapalha nosso sofrido País. Nem cito trecho da Banca, para que procurem a inspirada letra, lembrando apenas, que, quando foi feita, não havia cremações. E qual foi a interpretação, que pode ter desgostado mofados puristas. “Acontece”, Cartola, intérprete Paulinho da Viola. Que pode haver de negativo nesta dupla? De negativo nada mesmo. De inovador, Paulinho, orquestra com destaque de violinos. Até aí nada que possa ofender puristas e o que me ganhou a manhã, um solo de bongô, muito bem batido, pontuou o canto. Acredito que o autor bateu palmas na tumba e no ritmo do bongô. Valeu, da Viola!


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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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