01/03/2022
Ano 25
Número 1.262





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Como nos filmes de seção da tarde


E depreciativamente os filmes da seção da tarde são chamados de feitos por Walt Disney, isto é, películas de sinal feliz. E final feliz não é meta dos grandes filmes, o chamado cinema maior, tipo Ladrão de Bicicleta (De Sicca), ou meu preferido Amacord (Fellini), ou da saga Woody Allen, ou Morangos Silvestres, ou alguma película distinguível pelos Cahiers du Cinema. Filmes de final alegre, leves, de amor correspondido e de “happy end” não servem, posto que não acontecem, já que, resumindo, toda a vida termina na morte e filmes alegres não elevam a sétima arte. E hoje aconteceu um trecho de filme de seção da tarde. Ora vejam! Estavam na Pousada Altenhaus. Nela já haviam comemorado bodas de ouro e de diamante naquela segunda casa deles. Era terça-feira e os parentes só subiriam no fim de semana e no whatsApp da família já tinham espocado os votos e os dois velhos foram até chamados de pombinhos por neto. E o bisavô vai ao Supermercado Extra, que, ficando em pousada por um mês, utensílios são precisos e tinham que ser comprados. E se foi o velho ao mercado no Honda Fit de seis anos de idade e pouco rodado. Já tinham trocado os presentes de praxe, só que vasinho de plástico, seis reais, com florzinha silvestre foi comprado no Extra. A parceira de 64 anos de casados estava tomando um solzinho. O velho não estava jogando para a plateia e deu as flores, pensando que o ato não chamaria a atenção de outros hóspedes. Engano, foram saudados por palmas de três alegres senhoras, que também tomavam sol. E perguntaram o porque das flores. 64 anos de casados. Que música era a de vocês? September Song. E no celular de uma das senhoras, Ella Fitzgerald brindou as cinco pessoas com terna interpretação da música do casal, onde os principais fatos ocorriam em setembro. As três senhoras ficaram ao sol de Itaipava e o casal voltou ao seu quarto com as ternas flores silvestres, que nunca sonharam ter cena em pelo menos um quadro final feliz e de um casamento idem. Algum percalço no casal? Estamos na seção da tarde e o cronista não visa tirar o Oscar, ou mesmo qualquer prêmio menor literário e, assim sendo, pode pôr ponto final e com sorriso nos lábios.




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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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