01/12/2021
Ano 24
Número 1.250





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Boleros, tangos e João

Bolero é um gênero de música, que se originou no leste de Cuba no final do século 19, como parte da tradição trova. Sem relação com a dança espanhola mais antiga de mesmo nome. O bolero é caracterizado por letras sofisticadas, que tratam do amor. Wikipedia. Dei logo a fonte, pois sei que há controvérsias sobre o assunto. Os boleros pelos mais novos são julgados cafonas. E por que hoje venho aos boleros? Porque julguei muito bem lançado o “Frio en el alma” (autoria Miguel Angel Valladares). Já sentiu frio na alma? O referido bolero explicava “porque no estas comigo”. Só que o frio na alma pode acontecer por causas várias e até por época aziaga. E voltando aos de Cuba e julgava que o bolero nascera na Argentina e se Gardel se fez no tango, um espanhol, que durante muito tempo julguei argentino, fez-se no bolero. E foi sucesso especialmente no Brasil. Gregório Barrios, um cantor que arrebatou os que eram amarrados em boleros, que desbancou tangos para dançarinos comuns, que bolero é menos complicado, mais juntinhos, enfim muito palatável. O meu tango preferido se chama "Nostalgias" (Juan Carlo Cobián). E parente já me gozou, visto que o tango se inicia com “Quiero emborrachar mi corazón”. Emborrachar foi o termo não aceito e gozado. E em boleros, fico com “Una mujer”. A letra fechará a crônica. E largo músicas para ir ao idioma espanhol. Muitos falam um portunhol, pensando falar espanhol e até presidente argentino, já em tom de blague, disse ao Mestre Sarney que o portunhol dele era ótimo. O dito em questão diplomática pode ser um fora, só que foi espirituoso e engraçado. E tenho colegas que não conseguem ler matéria médica em espanhol, tanto se acostumaram aos textos em inglês. Em alguns casos não é esnobismo e sim falta de se adaptar ao espanhol, ao castelhano e nem me peçam para diferenciar um do outro. A moçada Beatles, nada contra eles e muito pelo contrário, não vê graça em tangos e boleros. Ainda que Mestre Maca, para os menos entendidos Paul Mcartney, já de brincadeira tenha cantado um bolero. Pena tenho dos que detestam boleros, porque em matéria de músicas para dor de cotovelo tangos e boleros são ótimos, com letras de até a do frio na alma. Ah, dançar bolero com a amada! Quem foi muito a boleros? Nosso genial, repito, genial, João Gilberto e até ressuscitou os velhos “Eclipse” (Alberto Lecuona) e também o “Farolito” (Agustin Lara). E toda música com o João ganha beleza. E quase fecho com o João em italiano. “Estate”. Se não ouviu "Estate", procure e agradecerá à crônica. O fim fica para um bolero, já citado e talvez meu amigo do politicamente correto não aprecie a letra, que, censurando, não tem tempo para romantismos. “Una mujer” (Paul Misraki). Obs. E se prefiro músicas em espanhol? Desculpem-me, só que nada do acima se compara a “Chão de Estrelas”, “Carinhoso”, “Até pensei”, “A deusa da minha rua”, “Chovendo na roseira” e mais mil músicas da MPB antiga. E nem falei na Garota de Ipanema, na Tereza da praia, ou na Banca do distinto. Citando essas joias brasileiras, desisto da letra de "Una mujer", que meu dileto amigo Google pode mostrar aos interessados. Outra obs. João Gilberto tem duas gravações espetaculares de "Estate". Ele com violão e com grande orquestra. A escolher.


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

Conheça um pouco mais de Pedro Franco.



Direitos reservados. É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação eletrônico ou impresso sem autorização do autor.