O politicamente correto
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De quando em quando me pego
alfinetando o politicamente correto. Então ele me incomoda. Quando algo nos
incomoda, há que se estudar bem o incômodo e vou logo a exemplo. Que
personagem, que tanto fez rir, do Chico Anysio, sairia incólume do julgamento
politicamente correto? Andei perpassando olhos sobre a galeria dos seus
hilários tipos e julgo que os do politicamente correto cassariam os mesmos e
sem exceções. E as risadas que nos fizeram dar? Já demos, só que se o Chico,
ou algum com a verve afiada do Chico, agora não poderia dar vaza à uma
brilhante saga de hilários personagens. Então esse tipo de censura aboliria
centenas de ótimas gargalhadas, que ainda daríamos, mesmo se houvesse outro
Chico Anysio. Vamos a outro, que foi censurado. Seu Lalá, que era Lamartine
Babo e em música dizia que, como a cor da mulata não pegava, queria o seu
amor. E a música era boa e a belas mulatas eram até chamadas de pancadões,
elogio que merecia entrar para o rol dos encômios para lindas em geral. Por
exemplo, ao invés das Certinhas do Lalau, leia-se Stanislaw Ponte Preta, ou
Sérgio Porto. Seriam As Pancadões do Lalau. E as belas, que não estivessem
entre as certinhas, o que o politicamente acharia? Diz o samba, quem acha,
vive se perdendo. OK. Como ficariam os críticos de ofício no politicamente
correto? Oh ofício ingrato, criticar. Como os políticos gostariam que não
houvesse críticos e muitos labutaram pela censura, ainda que não contra
“fakes”. Deixemos políticos em paz, que vem eleição por ai e não vejo
oponentes conhecendo a liturgia do candidato democrático. Aliás, homenagem ao
Grande Otelo, que dizia, aliás, como ninguém. Elogiar o ator pode? E os
outros? Assisti Otelo fazer um Sancho Pança espetacular. Parece que o
Chacrinha, que jogava bacalhau nos assistentes, avisava que não vinha para
explicar e sim para confundir. E por que falei no Chacrinha agora? Foi porque
pensei em tumultuar. Nem falo nos tipos do Chico e vou ao Gago do Noel Rosa.
Ótima música. Será que os gagos gostaram dela? Será que meninos gagos na
escola tiveram seu bullying aumentado com a música? Então ficou a favor do p
correto? Os filósofos aconselham que se dê margem sempre à dúvida filosófica.
Então tenho certeza disto e vou ficar tendo dúvidas? Viver e pensar são atos
complicados. Só que se pesar fatos na balança do bom senso, tudo fica mais
fácil. Onde se compra essa balança e quanto custa um quilo de bom senso? E
como ficamos com o politicamente correto? Contra, que é censura.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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