16/03/2022
Ano 25
Semana 1.264

 


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Paquetá, a Ilha dos Amores

Parque das Pedras - Foto de Luiz Anciães

Entre outros encantos, a Baía de Guanabara abriga uma ilha de 1.096.100 de extensão que proíbe o tráfego de veículos para permitir que bicicletas e charretes se locomovam em suas ruas revestidas de saibro e coloridas pelos flamboyants.

Paquetá deve seu nome aos índios Tamoios, de dialeto Tupi, seus primeiros habitantes, que assim batizaram a ilha por ser um "lugar habitado por pacas e etás" - abundantes na época.

André Thevet, cosmógrafo da expedição de Villegaignon - que esteve pela ilha com a missão de fundar a França Antártica, em 1555 - foi quem registrou a descoberta de Paquetá. Formalmente reconhecida em 18 de dezembro de 1556, hoje tem o nome oficial de "Freguesia do Senhor Bom Jesus do Monte da Ilha de Paquetá".

Paquetá foi também um dos principais focos da resistência francesa à expedição de Estácio de Sá, que tinha como uma de suas principais missões expulsar os franceses: os portugueses aliados aos Temiminós do Cacique Araribóia contra os franceses aliados aos Tamoios do Cacique Guaixará. Nas águas de Paquetá ocorreu uma das principais batalhas da vitória portuguesa, com a morte do líder tamoio Guaixará.

No ano da fundação da Cidade do Rio de Janeiro (1565), Estácio de Sá incluiu Paquetá nas terras doadas a seus aliados, sob forma de duas Sesmarias: a parte norte da ilha, hoje o bairro do Campo, doada a Inácio de Bulhões e a parte sul, bairro da Ponte, doada a Fernão Valdez.

A chegada de D. João VI a Paquetá, em 1808, ocorreu após uma tempestade na Baía de Guanabara em que o galeão de Dom João VI atracou na Ilha. Deslumbrado com sua beleza, o Príncipe Regente chamou-a de "Ilha dos Amores", dela fazendo seu local preferido para as férias de verão.

Paquetá assumiu, então, o papel de centro político. Vários nobres e personalidades importantes passaram a frequentar, ou mesmo morar em Paquetá. Destaca-se a presença de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, que em 1829 afastou-se da Corte por motivos políticos, nela se exilando. José Bonifácio, perseguido e combatido por defender o fim da escravidão e do latifúndio, foi mantido preso, a partir de 1833 e até completar 70 anos, em sua casa na ilha de Paquetá.

O transporte regular aquaviário na Baía de Guanabara foi iniciado em 1853, com a criação da "Companhia de Navegação de Nichteroy", empresa privada que fazia o transporte de passageiros entre o Rio de Janeiro e Niterói, utilizando apenas três embarcações.

Paquetá é um lugar pitoresco e aprazível. O acesso à ilha é feito em barcas, catamarãs e aerobarcos que partem do cais da Praça Quinze, no Centro do Rio, em horários diversos.
Flamboyants de Paquetá
A vegetação é tropical, com coqueiros e árvores preservadas por sua importância na paisagem da ilha. Paquetá abriga um dos vinte únicos exemplares brasileiros do baobá - árvore originária da África, que ficou conhecida pelos moradores como "Maria Gorda". Outra árvore característica de Paquetá é o flamboyant, alguns com mais de cem anos.

Famílias de saguis e garças pousadas serenamente nas pedras redondas são também grandes atrativos da ilha.

As praias são calmas e entre os passeios mais interessantes estão o Parque Darke de Mattos e a Pedra da Moreninha (localizada no final da Praia da Guarda, passou a ser conhecida por este nome depois que Joaquim Manuel de Macedo a utilizou como cenário de seu famoso romance - "A Moreninha") .

A ilha também tem um mirante, que fica no Morro da Cruz, de onde se tem um panorama parcial da ilha.

Ao final da tarde, nada mais romântico do que passear de pedalinho assistindo ao pôr do sol da Baía de Guanabara ou namorar em um de seus inúmeros bancos que ficam à beira da praia.



A Gruta dos Amores - lenda

Era no tempo dos Tamoios que Itanhantã ia em sua ubá - espécie de canoa usada pelos índios - pescar e caçar na Ilha de Paquetá. Depois, ele sempre repousava no aconchego de uma gruta.

Uma indiazinha, chamada Poranga, ia diariamente encontrar Itanhantã, mas ele não lhe dava a mínima atenção. Todos os dias Poranga subia na gruta e cantava, esperando Itanhantã chegar, pescar, caçar e descansar. E todos os dias suas lágrimas caíam na pedra.

O canto e o choro de Poranga não amoleceram o coração de Itanhantã, mas suas lágrimas conseguiram abrir um buraco na pedra e, certo dia, caíram sobre os olhos do caçador adormecido. Ele se assustou e saiu correndo para a sua ubá, quando avistou Poranga e disse: "Cunhã-Porã" - moça linda em Tupi.

No dia seguinte, ao voltar ao seu local de descanso, Itanhantã reparou a linda voz da indiazinha e apaixonou-se por ela. Os dois foram felizes pelo resto de suas vidas. E as lágrimas de Poranga se transformaram na fonte que existe até hoje na Gruta dos Amores.

Dizem que quem quiser encontrar um amor para a vida inteira, basta beber da fonte da Gruta dos Amores, junto com a pessoa amada.


Monumentos:
Paquetá abriga edifícios históricos, como a Igreja de São Roque, o Solar del Rey e a Casa de José Bonifácio.

Casa de José Bonifácio Solar del Rey

No início do século XVII foi construída a capela consagrada a São Roque, padroeiro da Ilha. Anos mais tarde, foi erguida a Igreja da Matriz do Senhor Bom Jesus do Monte. E, em 1833, Paquetá deixou de fazer parte da Freguesia de Magé, passando a pertencer à Corte (Rio de Janeiro). Em 1938 o Solar d'El Rey foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e, em 1965, transformado no Museu de Artes e Tradições Paquetaenses tornando-se, em 1977, sede da Biblioteca Popular de Paquetá.


Mapa da localização de Paquetá



(RT, 28 de agosto, 2010)
 


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Direção e Editoria
Irene Serra