01/07/2025
Ano 28
Semana 1.423





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MÚSICA



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Raul Seixas (1945-1989): o Maluco Beleza



Cândido Luiz de Lima Fernandes



Raul Santos Seixas, conhecido como o "Maluco Beleza" e considerado um dos pais do rock brasileiro, nasceu em Salvador, Bahia, em 28 de junho de 1945 e faleceu em 21 de agosto de 1989, vítima de uma pancreatite aguda. Sua carreira musical foi marcada por canções de rock com elementos de baião e letras com forte conteúdo filosófico, místico e social, frequentemente em parceria com Paulo Coelho. Seus trabalhos são reconhecidos por letras contestadoras e inovadoras, que misturam rock com ritmos brasileiros, além de abordarem temas filosóficos e existenciais.

Raul Seixas era filho de Raul Varela Seixas, engenheiro de estradas de ferro, e de Maria Eugênia Santos Seixas. Com sete anos iniciou no curso primário. Em 1957 ingressou no Colégio São Bento, mas foi reprovado na 2ª série por três anos. Foi então mandado para o curso interno do Colégio Marista, mas só completou a 3ª série. Gostava de ler os livros da biblioteca de seu pai e criava suas próprias histórias desenhando os personagens nos cadernos da escola. Gostava de música, mas seu sonho era ser escritor.

Na adolescência ele ficava horas ouvindo as músicas de Elvis Presley e de Little Richard. Em 1959, junto com o amigo Waldir Serrão, fundou o fã clube “Elvis Rock Club”. Já integrado à cena do Rock em Salvador, em 1962, Raul entrou para a formação da banda “Os Panteras”, formado por Mariano Lanat, Eládio Gilbraz e Carleba. Em 1963 a banda se apresentou no programa “Escada de Sucesso” na TV Itapuã. Em 1967 o grupo aceitou o convite de Jerry Adriane para ir ao Rio de Janeiro e no ano seguinte gravaram o primeiro e único disco “Raulzito e Os Panteras”.

No Rio de Janeiro “Os Panteras” passaram por grandes dificuldades para divulgar o disco e com o apoio do cantor tocaram como banda de apoio. Com o fracasso da banda, o grupo voltou para Salvador. Ainda em 1968, Raul conheceu o diretor da CBS, que mais tarde o convidou para ser produtor da gravadora. Aos poucos suas músicas foram gravadas por cantores da Jovem Guarda, entre eles, Jerry Adriane, Odair José e Renato e Seus Blue Caps.

Depois de alguns lançamentos mal sucedidos, em 1970, Raul participou do Festival Internacional da Canção com “Let Me Sing, Let Me Sing”, defendida pelo próprio Raul, e “Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo”, defendida por Lena Rios & Os Lobos. Suas músicas chegaram à final do Festival a partir daí, seu nome começou a se destacar. Foi então contratado pela gravadora Philips. Conheceu o escritor Paulo Coelho que mais tarde se tornou seu parceiro musical.

Em 1973 Raul Seixas lançou seu primeiro disco” Kring-ha, Bandolo!”, que fez sucesso com as músicas “Ouro de Tolo”, “Mosca na Sopa”, “Metamorfose Ambulante” e “Al Capone”.



Em 1974, junto com Paulo Coelho, criou a “Sociedade Alternativa”, um conceito de sociedade livre inspirada no ocultista Aleister Crowley, que foi tema do disco “Gita”, lançado no mesmo ano. Neste mesmo ano, Raul e Paulo foram presos pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e exilados nos Estados Unidos.

De volta ao Rio de Janeiro, em 1975, Raul lançou “Novo Aeon”, que fez sucesso com a música “Tenta Outra Vez” composta também em parceria com Paulo Coelho.

Em 1976 lançou “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás”, um grande sucesso. Nos anos seguintes, Raul lançou “O Dia Em Que a Terra Parou”, onde se destacou a música “Maluco Beleza” e também a faixa título. Ainda na década de 70, Raul lançou os discos “Por Quem Os Sinos Dobram” e “Mata Virgem”, ambos em 1979.

Em 1980 Raul gravou o disco “Abre-te Sésamo”, porém logo depois ficou sem gravadora e mergulhou no álcool e nas drogas, sem perspectiva de novas gravações. Em 1982 fez um show na praia do Gonzaga, em Santos e no mesmo ano apresentou-se drogado para realizar um show em Caieiras, São Paulo.

No ano seguinte, foi convidado para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. No mesmo ano, lançou o disco “Raul Seixas”, no qual se destacou o sucesso “O Carimbador Maluco” e lhe deu o disco de ouro e um show na televisão.

Em 1984 lançou “Metrô Linha 743”. Depois de três anos sem gravar, lançou “Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!” (1987). No ano seguinte lançou “A Pedra do Gênesis”.

Em 1989 realizou diversas apresentações pelo país, em companhia do roqueiro Marcelo Nova, que resultou em seu último disco, “A Panela do Diabo”.

No dia 21 de agosto de 1989, dois dias após o álbum chegar ao mercado, Raul foi encontrado morto em sua cama, no apartamento em São Paulo. Faleceu com apenas 44 anos, vítima do álcool e das drogas.

Raul teve três filhas, Simone Andrea Wisner Seixas, Scarlet Vaquer Seixas e Vivian Costa Seixas, fruto de seus casamentos com Edith Wisner Seixas (1967 a 1974), Glória Vaquer (1975 a 1978) e Angela Affonso Costa (1979 a 1985), respectivamente.

Vivian Seixas, uma das três filhas de Raul, disse que preservar a memória do pai tem sido um ato de amor e de responsabilidade. “Eu faço isso com muita entrega, porque sei o quanto ele foi e ainda é importante. Cada projeto, cada homenagem é pensado com cuidado, com respeito à obra e à essência dele. Não é só sobre manter vivo o nome ‘Raul Seixas’, mas tudo o que meu pai representava: liberdade, questionamento, autenticidade”, revelou Vivi à Agência Brasil. Ela considera lindo ver a renovação de gerações no envolvimento com o trabalho do Raul. “Muita gente que nem era nascida quando meu pai morreu hoje canta as músicas, se emociona com as letras, se identifica com as mensagens. Isso mostra que a obra dele é atemporal. Meu pai falava com o coração, com a mente aberta, e com coragem, isso atravessa o tempo. Ele não era só um cantor, era um pensador”, observou. A DJ e produtora musical vê na coragem de ser o que se é, sem máscaras, o maior legado do pai. “Ele nunca se curvou ao sistema, nunca teve medo de mudar, de provocar. Meu pai abriu caminhos, artísticos, filosóficos e até espirituais pra muita gente. E isso se mantém vivo, principalmente entre quem sente que não se encaixa nas caixinhas da sociedade”, apontou. Vivian era bem pequena quando o pai faleceu, mas guarda algumas lembranças marcantes. “Eu lembro da barba dele, da voz… e a voz eu posso ouvir sempre que quiser, né? Isso é muito forte, porque me mantém próxima, me mantém conectada a ele. A voz dele está ali, viva, cantando. E ele era muito divertido, cheio de brincadeiras comigo. Tenho também as cartinhas que ele me escrevia, coisas simples, mas carregadas de afeto. É assim que eu guardo meu pai em mim”, afirmou.

De acordo com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), responsável no Brasil pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais das músicas aos seus autores, Raul deixou um legado de 324 obras musicais e 409 gravações cadastradas no banco de dados da gestão coletiva da música no Brasil.

A lista de canções memoráveis de Raul Seixas é longa, com letras contestadoras valorizam a crítica social e a liberdade individual: “Maluco Beleza”, “Metamorfose Ambulante”, “Ouro de Tolo”, “Eu nasci há 10 mil anos atrás”, “Sociedade Alternativa”, “Gita”, “Cowboy fora-da-lei”, “Tente outra Vez”, “Medo da Chuva”, “O trem das 7”, “Capim Guiné”, “Como vovó já dizia”, “Carimbador maluco”, “Al Capone”, “Mosca na sopa”, “Meu amigo Pedro”, “O dia em que a Terra parou”, “S.O.S”., “Aluga-se”, “Eu também vou reclamar”

O ranking das mais executadas é liderado pela música “Cowboy fora-da-lei” composta em parceria com Cláudio Roberto. O maior destaque entre as regravações é “Medo da chuva”, que compôs com Paulo Coelho, que aparece com 72 fonogramas cadastrados.

Uma das comemorações na data em que faria 80 anos ocorreu no show “Baú do Raul”, no Circo Voador, no centro do Rio de Janeiro, criado por Kika Seixas, uma das ex-mulheres do pioneiro do rock brasileiro. A lista de artistas que participaram do show do Circo Voador representa bem essa mescla de idades de admiradores e seguidores. Apresentaram-se Frejat, Paulinho Moska, Rick Ferreira, Arnaldo Brandão, Baia, Ana Cañas, Clariana, André Prando, BNegão, Emílio Dantas e Vivi Seixas.

Vale a pena assistir ao musical “Maluco Beleza”, disponível no You Tube.
 

Cândido Luiz de Lima Fernandes é
economista e professor universitário em Belo Horizonte;
email: candidofernandes@hotmail.com





Direção e Editoria
Irene Serra
Revista Rio Total