Raul Seixas (1945-1989): o Maluco Beleza

Cândido Luiz de Lima Fernandes
Raul Santos Seixas, conhecido como o "Maluco Beleza" e considerado um dos pais
do rock brasileiro, nasceu em Salvador, Bahia, em 28 de junho de 1945 e faleceu
em 21 de agosto de 1989, vítima de uma pancreatite aguda. Sua carreira musical
foi marcada por canções de rock com elementos de baião e letras com forte
conteúdo filosófico, místico e social, frequentemente em parceria com Paulo
Coelho. Seus trabalhos são reconhecidos por letras contestadoras e inovadoras,
que misturam rock com ritmos brasileiros, além de abordarem temas filosóficos e
existenciais.
Raul Seixas era filho de Raul Varela Seixas, engenheiro de
estradas de ferro, e de Maria Eugênia Santos Seixas. Com sete anos iniciou no
curso primário. Em 1957 ingressou no Colégio São Bento, mas foi reprovado na 2ª
série por três anos. Foi então mandado para o curso interno do Colégio Marista,
mas só completou a 3ª série. Gostava de ler os livros da biblioteca de seu pai e
criava suas próprias histórias desenhando os personagens nos cadernos da escola.
Gostava de música, mas seu sonho era ser escritor.
Na adolescência ele
ficava horas ouvindo as músicas de Elvis Presley e de Little Richard. Em 1959,
junto com o amigo Waldir Serrão, fundou o fã clube “Elvis Rock Club”. Já
integrado à cena do Rock em Salvador, em 1962, Raul entrou para a formação da
banda “Os Panteras”, formado por Mariano Lanat, Eládio Gilbraz e Carleba. Em
1963 a banda se apresentou no programa “Escada de Sucesso” na TV Itapuã. Em 1967
o grupo aceitou o convite de Jerry Adriane para ir ao Rio de Janeiro e no ano
seguinte gravaram o primeiro e único disco “Raulzito e Os Panteras”.
No
Rio de Janeiro “Os Panteras” passaram por grandes dificuldades para divulgar o
disco e com o apoio do cantor tocaram como banda de apoio. Com o fracasso da
banda, o grupo voltou para Salvador. Ainda em 1968, Raul conheceu o diretor da
CBS, que mais tarde o convidou para ser produtor da gravadora. Aos poucos suas
músicas foram gravadas por cantores da Jovem Guarda, entre eles, Jerry Adriane,
Odair José e Renato e Seus Blue Caps.
Depois de alguns lançamentos mal
sucedidos, em 1970, Raul participou do Festival Internacional da Canção com “Let
Me Sing, Let Me Sing”, defendida pelo próprio Raul, e “Eu Sou Eu e Nicuri é o
Diabo”, defendida por Lena Rios & Os Lobos. Suas músicas chegaram à final do
Festival a partir daí, seu nome começou a se destacar. Foi então contratado pela
gravadora Philips. Conheceu o escritor Paulo Coelho que mais tarde se tornou seu
parceiro musical.
Em 1973 Raul Seixas lançou seu primeiro disco”
Kring-ha, Bandolo!”, que fez sucesso com as músicas “Ouro de Tolo”, “Mosca na
Sopa”, “Metamorfose Ambulante” e “Al Capone”.

Em
1974, junto com Paulo Coelho, criou a “Sociedade Alternativa”, um conceito de
sociedade livre inspirada no ocultista Aleister Crowley, que foi tema do disco
“Gita”, lançado no mesmo ano. Neste mesmo ano, Raul e Paulo foram presos pelo
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e exilados nos Estados Unidos.
De volta ao Rio de Janeiro, em 1975, Raul lançou “Novo Aeon”, que fez
sucesso com a música “Tenta Outra Vez” composta também em parceria com Paulo
Coelho.
Em 1976 lançou “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás”, um grande
sucesso. Nos anos seguintes, Raul lançou “O Dia Em Que a Terra Parou”, onde se
destacou a música “Maluco Beleza” e também a faixa título. Ainda na década de
70, Raul lançou os discos “Por Quem Os Sinos Dobram” e “Mata Virgem”, ambos em
1979.
Em 1980 Raul gravou o disco “Abre-te Sésamo”, porém logo depois
ficou sem gravadora e mergulhou no álcool e nas drogas, sem perspectiva de novas
gravações. Em 1982 fez um show na praia do Gonzaga, em Santos e no mesmo ano
apresentou-se drogado para realizar um show em Caieiras, São Paulo.
No
ano seguinte, foi convidado para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. No mesmo
ano, lançou o disco “Raul Seixas”, no qual se destacou o sucesso “O Carimbador
Maluco” e lhe deu o disco de ouro e um show na televisão.
Em 1984 lançou
“Metrô Linha 743”. Depois de três anos sem gravar, lançou
“Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!” (1987). No ano seguinte lançou “A Pedra do
Gênesis”.
Em 1989 realizou diversas apresentações pelo país, em companhia
do roqueiro Marcelo Nova, que resultou em seu último disco, “A Panela do Diabo”.
No dia 21 de agosto de 1989, dois dias após o álbum chegar ao mercado, Raul
foi encontrado morto em sua cama, no apartamento em São Paulo. Faleceu com
apenas 44 anos, vítima do álcool e das drogas.
Raul teve três filhas,
Simone Andrea Wisner Seixas, Scarlet Vaquer Seixas e Vivian Costa Seixas, fruto
de seus casamentos com Edith Wisner Seixas (1967 a 1974), Glória Vaquer (1975 a
1978) e Angela Affonso Costa (1979 a 1985), respectivamente.
Vivian
Seixas, uma das três filhas de Raul, disse que preservar a memória do pai tem
sido um ato de amor e de responsabilidade. “Eu faço isso com muita entrega,
porque sei o quanto ele foi e ainda é importante. Cada projeto, cada homenagem é
pensado com cuidado, com respeito à obra e à essência dele. Não é só sobre
manter vivo o nome ‘Raul Seixas’, mas tudo o que meu pai representava:
liberdade, questionamento, autenticidade”, revelou Vivi à Agência Brasil. Ela
considera lindo ver a renovação de gerações no envolvimento com o trabalho do
Raul. “Muita gente que nem era nascida quando meu pai morreu hoje canta as
músicas, se emociona com as letras, se identifica com as mensagens. Isso mostra
que a obra dele é atemporal. Meu pai falava com o coração, com a mente aberta, e
com coragem, isso atravessa o tempo. Ele não era só um cantor, era um pensador”,
observou. A DJ e produtora musical vê na coragem de ser o que se é, sem
máscaras, o maior legado do pai. “Ele nunca se curvou ao sistema, nunca teve
medo de mudar, de provocar. Meu pai abriu caminhos, artísticos, filosóficos e
até espirituais pra muita gente. E isso se mantém vivo, principalmente entre
quem sente que não se encaixa nas caixinhas da sociedade”, apontou. Vivian era
bem pequena quando o pai faleceu, mas guarda algumas lembranças marcantes. “Eu
lembro da barba dele, da voz… e a voz eu posso ouvir sempre que quiser, né? Isso
é muito forte, porque me mantém próxima, me mantém conectada a ele. A voz dele
está ali, viva, cantando. E ele era muito divertido, cheio de brincadeiras
comigo. Tenho também as cartinhas que ele me escrevia, coisas simples, mas
carregadas de afeto. É assim que eu guardo meu pai em mim”, afirmou.
De
acordo com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad),
responsável no Brasil pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais das
músicas aos seus autores, Raul deixou um legado de 324 obras musicais e 409
gravações cadastradas no banco de dados da gestão coletiva da música no Brasil.
A lista de canções memoráveis de Raul Seixas é longa, com letras contestadoras
valorizam a crítica social e a liberdade individual: “Maluco Beleza”,
“Metamorfose Ambulante”, “Ouro de Tolo”, “Eu nasci há 10 mil anos atrás”,
“Sociedade Alternativa”, “Gita”, “Cowboy fora-da-lei”, “Tente outra Vez”, “Medo
da Chuva”, “O trem das 7”, “Capim Guiné”, “Como vovó já dizia”, “Carimbador
maluco”, “Al Capone”, “Mosca na sopa”, “Meu amigo Pedro”, “O dia em que a Terra
parou”, “S.O.S”., “Aluga-se”, “Eu também vou reclamar”
O ranking das mais
executadas é liderado pela música “Cowboy fora-da-lei” composta em parceria com
Cláudio Roberto. O maior destaque entre as regravações é “Medo da chuva”, que
compôs com Paulo Coelho, que aparece com 72 fonogramas cadastrados.
Uma
das comemorações na data em que faria 80 anos ocorreu no show “Baú do Raul”, no
Circo Voador, no centro do Rio de Janeiro, criado por Kika Seixas, uma das
ex-mulheres do pioneiro do rock brasileiro. A lista de artistas que participaram
do show do Circo Voador representa bem essa mescla de idades de admiradores e
seguidores. Apresentaram-se Frejat, Paulinho Moska, Rick Ferreira, Arnaldo
Brandão, Baia, Ana Cañas, Clariana, André Prando, BNegão, Emílio Dantas e Vivi
Seixas.
Vale a pena assistir ao musical “Maluco Beleza”, disponível no
You Tube.
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com

Direção e Editoria
Irene Serra
Revista Rio Total

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