01/11/2022
Ano 25

Semana 1.294







 
ARQUIVO
de
MÚSICA

 

 

 

 




Tim Maia



Cândido Luiz de Lima Fernandes


Tim Maia é o nome artístico de Sebastião Rodrigues Maia (tendo nascido no Rio de Janeiro, em 28 de setembro de 1942 e falecido em Niterói, em 15 de março de 1998), cantor e compositor responsável pela introdução dos gêneros soul e funk na música popular brasileira e reconhecido como um dos maiores ícones da música no Brasil.

Tim Maia era o décimo oitavo filho de uma família numerosa. Seu pai tinha uma pensão que fornecia marmitas e quando movimento aumentava, Tim tinha que ajudar, fazendo entregas por todo o Rio de Janeiro. A infância não foi nada fácil, sendo que Tim não escapara dos apelidos maldosos, o mais popular deles era “Tião Marmiteiro”. No entanto, o menino desengonçado e gorducho descobrira ainda muito cedo o seu talento para música. Adorava cantar no coral da igreja, e sua voz alta e grave se destacava.

A primeira banda musical que ele montou foram os “Tijucanos do Ritmo”. Nessa época, ele era o vocal e também o baterista. A banda não durou muito tempo, pois o temperamento rebelde e difícil de Tim contribuiu aos poucos para pôr fim do grupo. Logo depois, no ano de 1957, fundou o grupo “The Sputniks”, no qual cantou junto a Roberto Carlos e Jorge Ben Jor. O grupo até que chegou a se apresentar em igrejas e fora convidado para tocar num programa local, mas, novamente, a ideia da banda não decolou, devido a uma discussão de Tim com Roberto Carlos. Um dos poucos amigos que fizera na juventude foi Erasmo Carlos.

Em 1959, emigrou para os Estados Unidos, onde teve seus primeiros contatos com o soul, vindo a ser preso e deportado por roubo e porte de drogas. De volta ao Brasil, sem dinheiro e sem ter onde morar, Tim pede abrigo a um cantor paraguaio, Juan Senon Rolón, cujo nome artístico era Fábio Stella. Contudo, o apartamento do amigo era um entra-e-sai de gente, principalmente de meninas atraídas pelo sucesso do artista estrangeiro. Aquele movimento intenso de jovens lindas mexeu muito com o emocional de Tim, que era sempre preterido pelas mulheres. Por diversas noites, ao som de muitos risos e gemidos, o jovem Maia se consolava ligando o gravador e cantando tão alto, com tristeza e raiva. Como compositor, era extremamente desorganizado, escrevia em qualquer pedaço de papel que encontrava quando a inspiração chegava. Muitas vezes, suas composições surgiam embaladas pelo efeito de álcool e do sentimento de frustração e solidão. A solidão e as decepções amorosas foram uma temática frequente nas músicas que escrevia.

Em 1970, gravou seu primeiro álbum, intitulado “Tim Maia”, que, rapidamente, tornou-se um sucesso com músicas como "Azul da Cor do Mar" e "Primavera".
Nos três anos seguintes, lançou vários discos homônimos, fazendo sucesso com canções como "Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)" e "Gostava Tanto de Você". De julho de 1974 a 25 de setembro de 1975, aderiu à doutrina filosófico-religiosa conhecida como Cultura Racional, lançando, nesse período, dois discos, com destaque para "Que Beleza" e "O Caminho do Bem". Desiludiu-se com a doutrina e voltou ao seu estilo de música anterior, lançando sucessos como "Descobridor dos Sete Mares" e "Me Dê Motivo". Ganhou o apelido de "síndico do Brasil" de seu amigo Jorge Ben Jor na música W/Brasil.

Sua carreira no Brasil fortaleceu-se a partir de 1969, quando gravou um compacto simples pela Fermata com "These Are the Songs" (regravada no ano seguinte por Elis Regina em duo com ele e incluída no álbum “Em Pleno Verão”, de Elis) e "What Do You Want to Bet".

Em 1970, gravou seu primeiro álbum, “Tim Maia”, na Polydor, por indicação da banda Os Mutantes. Nesse disco, obteve sucesso com as faixas "Azul da Cor do Mar", "Coroné Antônio Bento" e "Primavera" e "Eu Amo Você". Nos três anos seguintes, com a mesma gravadora, lançou os discos “Tim Maia Volume II”, tornando-se cada vez mais famoso com canções como a dançante "Não Quero Dinheiro (Só Quero amar)”, Tim Maia volume III e Tim Maia volume IV”, no qual se destacaram "Gostava Tanto de Você" e "Réu Confesso", ambas misturando a soul music com o samba.
Em 1974, Tim Maia entrou em contato com a doutrina “Cultura Racional”, liderada por Manuel Jacinto Coelho, se converteu e escreveu letras inspirados na seita. Os discos “Tim Maia Racional, volumes 1 e 2” são considerados por muitos os melhores do compositor, com grandes influências do funk e do soul e pelo fato de que, nesta época, ele se manteve afastado dos vícios, o que refletiu na qualidade de sua voz. Desiludido com a doutrina, percebeu que o mestre Manuel não correspondeu ao ideal de um mestre. O cantor, revoltado, tirou de circulação os álbuns, tendo virado item de colecionadores, devido à raridade. Já nos anos 2000, foram descobertas novas músicas pertencentes à "fase racional", levando a um terceiro álbum, “Racional Volume Três”, lançado em CD em agosto de 2011. Após o término de sua fase racional, Tim voltou a seu antigo estilo de vida e aos temas não religiosos em suas canções.
Após o compacto "Do Leme ao Pontal" em 1982 (que somente seria lançamento em álbum no disco “Tim Maia”, de 1986), Tim lançou em 1983 o LP “O Descobridor dos Sete Mares”, que deu origem aos sucessos "O Descobridor dos Sete Mares" e "Me dê Motivo". Em 1985, gravou "Um Dia de Domingo", em um dueto com Gal Costa, obtendo grande sucesso.

Ao longo dos anos 90, Tim gravaria discos de bossa nova (um deles com Os Cariocas) e de versões clássicos do pop e do soul. Assim, aumentou muito a produtividade nesta década, gravando mais de um disco por ano com grande versatilidade: o repertório passou a abranger bossa nova, canções românticas, funks e souls. Descontente com as gravadoras, Tim Maia criou a editora Seroma e a gravadora Vitória Régia Discos, pela qual passou a fazer seus lançamentos, começando por “Tim Maia Interpreta Clássicos da Bossa Nova”, em 1990, seguido por “Voltou Clarear” (1994) e “Nova Era Glacial” (1995). Só voltou aos grandes selos para o bem-sucedido “Tim Maia ao Vivo”, em 1992. Também teve muitas composições regravadas por artistas da nova geração, como Os Paralamas do Sucesso e Marisa Monte.

Em 1993, a pedido de seu amigo Nelson Motta, Tim regravou "Como Uma Onda", de Lulu Santos, para um comercial dos chinelos Rider feitos pela W/Brasil, se tornando uma das músicas mais executadas do ano Em 1996, lançou dois CDs ao mesmo tempo: “Amigo do rei”, juntamente com Os Cariocas, e “What a Wonderful World”, com recriações de standards do soul e do pop norte-americanos dos anos de 1950 a 1970. Em 1997, lançou mais três CDs, perfazendo 32 discos em 42 anos de carreira.

É do conhecimento público que Tim Maia era dono de uma voz grave e potente, mas também era um artista polêmico, que acumulou processos e desafetos dentro e fora do mundo artístico. Há episódios em sua trajetória de cantor que denunciam o fato recorrente de não honrar seus compromissos de shows, por estar bêbado ou fazendo uso de entorpecentes. Tim Maia tornou-se notável por não aparecer ou atrasar o início dos shows e, frequentemente, reclamar da qualidade do áudio. Isso ocorria devido ao intenso consumo de uísque, cocaína e maconha antes dos shows, que ele chamava de "triátlon". Contudo, pouco se sabe ou tenha sido falado que Tim era um cara muito extrovertido e de um senso de humor extraordinário. Ele adorava imitar os outros, dono de um coração generoso, amava. Na maioria das músicas que fez, foi embalado por um estilo confessional. Nessas, Tim mescla recordações do passado e experiências mal fadadas no presente, confirmando ser um solitário, mal-amado e um incompreendido em suas relações. O tema da solidão em suas composições é frequente e quase sempre é desencadeado por seus dramas e desilusões amorosas. A solidão, a melancolia e os amores não correspondidos eram fontes de inspiração para a sua produção artística.

No final de sua vida sofreu com problemas relacionados a obesidade, diabetes e problemas respiratórios Em 8 de março de 1998, enquanto gravava um show para a televisão no Teatro Municipal de Niterói, Tim Maia se sentiu mal e foi internado no Hospital Universitário Antônio Pedro com crise hipertensiva e edema pulmonar. Um quadro grave de infecção se desenvolveu nos dias seguintes e ele acabou morrendo aos 55 anos em 15 de março daquele ano, de falência múltipla de órgãos, causando grande comoção em todo o Brasil. Seu corpo está sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, Rio de Janeiro.

No dia em que Tim Maia completaria 80 anos de idade, em 28 de setembro de 2022, o Globoplay lançou a série documental Original "Vale Tudo com Tim Maia", dirigida por Nelson Motta e Renato Terra. Na série de três episódios, o próprio Tim Maia traz sua versão para os fatos ocorridos em sua vida através de imagens raras, muitas inéditas, de entrevistas, shows, depoimentos e filmagens caseiras. Vale a pena assistir.

Cândido Luiz de Lima Fernandes é
economista e professor universitário em Belo Horizonte;
email:
candidofernandes@hotmail.com  


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Direção e Editoria
Irene Serra