01/05/2018
Ano 23

Semana 1.075







 
ARQUIVO
de
MÚSICA

 

 

 

 




A nova turnê brasileira de John Pizzarelli:

o show “Sinatra & Jobim @ 50”



Cândido Luiz de Lima Fernandes


Distante dos palcos desde fevereiro de 2016, Milton Nascimento decidiu voltar para a estrada com o show Semente da Terra. A primeira apresentação ocorreu no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, no dia 25 de março do ano passado. Depois da estreia, o show foi levado ao Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Pelotas, Chapada dos Guimarães, Curitiba, Recife, Florianópolis, Belém, Vila Velha, Juiz de Fora, Brasília e Goiânia, retornando, em 2018, a São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Neste show Milton presta uma homenagem a um dos seus grandes parceiros, o compositor Fernando Brant, que morreu em 2015, vítima de complicações de um transplante de fígado. Com Travessia ao fundo e uma foto dos dois quando jovens em destaque no cenário, esta homenagem vem emocionando o público. A obra de Fernando Brant está presente em boa parte do repertório do show. Das 18 canções do set list, muitas foram compostas por parceria entre os dois amigos, como Credo, Milagre dos Peixes, Coração Civil, San Vicente, Caxangá, Sentinela e Maria Maria. Além dessas, o cantor e compositor apresenta Tutu (Marcus Miller), A Terceira Margem do Rio (Milton e Caetano Veloso), Me Deixa Em Paz (Monsueto e Airton Amorim), O Que Será (À Flor da Terra) (Chico Buarque), O Cio da Terra (Milton e Chico Buarque), Sueño Con Serpientes (Silvio Rodríguez), Clube da Esquina 2 (Milton, Lô Borges e Márcio Borges), Lágrima do Sul (Milton e Marco Antônio Guimarães) e Canção do Sal (Milton Nascimento). No bis, canta Nada Será Como Antes (Milton e Ronaldo Bastos) e Fé Cega, Faca Amolada (Milton e Ronaldo Bastos). O repertório foi montado por Danilo Nuha, seu assessor de imprensa, que escolheu clássicos do compositor com conotações políticas e sociais. A questão indígena, racismo, trabalho, e mobilização social dão a tônica das canções do show.

A pausa na carreira parece ter deixado Milton bem mais leve. Contando casos, brincando com a banda e até fazendo piadas, o cantor e compositor traz ao palco temas que sempre fizeram parte de sua trajetória: a luta dos negros, temas políticos e sociais e a questão indígena. Milton dedica esse show aos seus novos amigos, os índios da nação guarani kaiowá, do Mato Grosso do Sul (MS), que o batizaram de Ava Nheyeyru Iyi Yvy Renhoi, que, na língua indígena, quer dizer A semente ancestral que germina na terra, ou simplesmente, Semente da Terra.

Acompanhado por excelentes músicos – Wilson Lopes (direção musical e cordas), Beto Lopes (violões), Lincoln Cheib (bateria), Alexandre Ito (baixo) e Widor Santiago (sopros) –, Milton conta neste show com a participação especial da jovem cantora mineira Bárbara Barcellos, que vem conquistando o público com sua bela voz e carisma. Um dos pontos altos da apresentação é sua interpretação de Sentinela (parceria com Brant). A artista, de apenas 26 anos, recordou como foi a primeira vez que se encontrou com aquele que considera seu “grande ídolo”. Durante um show de Rodrigo Borges (sobrinho de Lô, Márcio e Telo Borges) no antigo Bar Godofredo, em Santa Tereza, (hoje Bar do Museu Clube da Esquina), ela deu uma canja ao cantar justamente Sentinela. “Lá tem uma escada e só me lembro de ver o cabelinho do Bituca aparecendo. Eu gelei, quase morri. Tive que continuar cantando de olhos fechados, senão ia errar a letra tamanha a emoção. Estar no show ao lado dele é a realização de um sonho”, conta Bárbara.

Em certo momento do show Milton sai de cena com o restante dos músicos e avisa: “Agora é com os irmãos Lopes”. “Só o Bituca mesmo para dar esse espaço pra gente”, diz Wilson, que ainda dá um recado citando uma letra de Fernando Brant, Saídas e bandeiras: “O que vocês diriam dessa coisa que não dá mais pé?/O que vocês fariam pra sair dessa maré?. Está complicado, não é gente?”, fazendo a plateia vir abaixo.

Com a banda completa de volta, Milton Nascimento lê em espanhol uma citação do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht, antes de interpretar Sueño com serpientes, do cubano Sylvio Rodríguez: “Hay hombres que luchan un día y son buenos. Hay otros que luchan un año y son mejores. Hay quienes luchan muchos años, y son muy buenos. Pero hay los que luchan toda la vida, esos son los imprescindibles”. (“Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há aqueles que lutam toda a vida, estes são imprescindíveis”), levando o público ao delírio.

Para quem não teve ainda oportunidade de assistir ao Semente da Terra, no corrente mês o show será novamente apresentado em Belo Horizonte (dias 19 e 20 de maio) e no Rio de Janeiro (dia 26 de maio). Milton Nascimento, com 75 anos, é uma das mais belas vozes masculinas do Brasil. Reconhecido como um compositor de linguagem universal, Milton é reverenciado no exterior desde o lançamento do disco Courage (1969), produzido por Creed Taylor, com arranjos de Eumir Deodato. Em maio de 2017, ele foi a Boston receber o título de Doutor Honoris Causa na Berklee College of Music, em reconhecimento às suas muitas realizações e conquistas na carreira. Sua música tem influenciado gerações de músicos e enriqueceu e enriquecerá para sempre a música popular brasileira.
 

Cândido Luiz de Lima Fernandes é
economista e professor universitário em Belo Horizonte;
email:
candidofernandes@hotmail.com



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Direção e Editoria
Irene Serra