Adeus, Melodia

Cândido Luiz de Lima Fernandes
Agosto, mês de desgosto, trouxe
uma perda irreparável para a música popular brasileira. No dia 4 calou-se, aos
66 anos, a bela voz do cantor e compositor Luiz Carlos dos Santos, cujo nome
artístico Melodia foi herdado de seu pai Oswaldo, estivador e compositor.
Luiz Melodia nasceu em 7 de janeiro de 1951 no Morro de São Carlos, no
Estácio, região central do Rio de Janeiro (quem não se lembra da canção
“Estácio, Holly Estácio”: “Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no
Estácio”, imortalizada na voz de Maria Bethânia?).
Gal Costa gravou uma
das suas mais lindas composições, “Pérola negra” (“Tente passar pelo que estou
passando”), que deu título ao seu primeiro disco em 1973. Outra composição
marcante, datada de 1975, foi “Juventude Transviada” (“Lava roupa todo dia, que
agonia”). Em 1976 lançou “Maravilhas Contemporâneas”, popularizado pela canção
“Mico de circo”. Já conhecido do público e tendo alcançado seu espaço no cenário
da MPB, o compositor lançou “Nós” em 1980, incluindo a música “Codinome
beija-flor”, de autoria de Cazuza, Reinaldo Arias e Ezequiel Neves. Em 1985 foi
a vez de “Relíquias”, no qual faz uma releitura com novos arranjos para sucessos
como “Ébano” e “Subanormal”. Em 1999, no registro intimista intenso de “Acústico
- ao vivo”, Melodia passeia novamente por sua obra, em um disco gravado ao vivo
durante sua turnê nacional, considerado sucesso de público e crítica.
Este excelente cantor e compositor apresentou-se também algumas vezes no
exterior: em 1987, em Chateauvallon, na França, e em Berna, Suíça; em 1992,
participou do "III Festival de Música de Folcalquier", na França, e, em 2004, do
Festival de Jazz de Montreux. Em 2007 fez o álbum Estação Melodia, que recebeu
indicação ao Grammy Latino como o melhor disco de samba/pagode. Em 2015 recebeu
o 26o Prêmio da Música Popular Brasileira na categoria de melhor cantor de MPB.
“Zerima” foi seu décimo terceiro álbum de estúdio, lançado em 2014 pela
gravadora Som Livre, depois de treze anos sem um disco de inéditas. Neste álbum
ele volta ao seu típico gênero musical: o samba ouvido nas 14 faixas é tão
pessoal e intransferível quanto sua ótima qualidade vocal.
Cronista
sensível do cotidiano das ruas e da alma, Luiz Melodia deixa uma enorme lacuna
na MPB, com sua classe e suingue, seu lindo timbre de voz, seu estilo
inconfundível, suas inimitáveis interpretações e um acervo de composições que
nunca serão esquecidas. Descanse em paz, Luiz Melodia!
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra |