15/08/2017
Ano 20

Semana 1.041







 
ARQUIVO
de
MÚSICA

 

 

 

 




Adeus, Melodia



Cândido Luiz de Lima Fernandes


Agosto, mês de desgosto, trouxe uma perda irreparável para a música popular brasileira. No dia 4 calou-se, aos 66 anos, a bela voz do cantor e compositor Luiz Carlos dos Santos, cujo nome artístico Melodia foi herdado de seu pai Oswaldo, estivador e compositor.

Luiz Melodia nasceu em 7 de janeiro de 1951 no Morro de São Carlos, no Estácio, região central do Rio de Janeiro (quem não se lembra da canção “Estácio, Holly Estácio”: “Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio”, imortalizada na voz de Maria Bethânia?).

Gal Costa gravou uma das suas mais lindas composições, “Pérola negra” (“Tente passar pelo que estou passando”), que deu título ao seu primeiro disco em 1973. Outra composição marcante, datada de 1975, foi “Juventude Transviada” (“Lava roupa todo dia, que agonia”). Em 1976 lançou “Maravilhas Contemporâneas”, popularizado pela canção “Mico de circo”. Já conhecido do público e tendo alcançado seu espaço no cenário da MPB, o compositor lançou “Nós” em 1980, incluindo a música “Codinome beija-flor”, de autoria de Cazuza, Reinaldo Arias e Ezequiel Neves. Em 1985 foi a vez de “Relíquias”, no qual faz uma releitura com novos arranjos para sucessos como “Ébano” e “Subanormal”. Em 1999, no registro intimista intenso de “Acústico - ao vivo”, Melodia passeia novamente por sua obra, em um disco gravado ao vivo durante sua turnê nacional, considerado sucesso de público e crítica.

Este excelente cantor e compositor apresentou-se também algumas vezes no exterior: em 1987, em Chateauvallon, na França, e em Berna, Suíça; em 1992, participou do "III Festival de Música de Folcalquier", na França, e, em 2004, do Festival de Jazz de Montreux. Em 2007 fez o álbum Estação Melodia, que recebeu indicação ao Grammy Latino como o melhor disco de samba/pagode. Em 2015 recebeu o 26o Prêmio da Música Popular Brasileira na categoria de melhor cantor de MPB.

“Zerima” foi seu décimo terceiro álbum de estúdio, lançado em 2014 pela gravadora Som Livre, depois de treze anos sem um disco de inéditas. Neste álbum ele volta ao seu típico gênero musical: o samba ouvido nas 14 faixas é tão pessoal e intransferível quanto sua ótima qualidade vocal.

Cronista sensível do cotidiano das ruas e da alma, Luiz Melodia deixa uma enorme lacuna na MPB, com sua classe e suingue, seu lindo timbre de voz, seu estilo inconfundível, suas inimitáveis interpretações e um acervo de composições que nunca serão esquecidas. Descanse em paz, Luiz Melodia!


Cândido Luiz de Lima Fernandes é
economista e professor universitário em Belo Horizonte;
email:
candidofernandes@hotmail.com  


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Direção e Editoria
Irene Serra