.
06/03/2010
Ano 13 - Número 674


Sheila Sacks
ARQUIVO


 


Sheila Sacks




Cresce o radicalismo no cartoon made in Brasil


 

 

Em tempo de lobisomens e eminências pardas planaltinas - que fazendo uso da excepcional visibilidade do presidente Lula no cenário mundial engendram diabruras insensatas (Uma nova OEA sem os Estados Unidos, Acordo Nuclear com o Irã) e lançam mão de cabriolas verbais mal ajambradas para Lula repercutir em suas andanças pelo planeta (‘Não devo satisfações ao EUA’) – as eleições de  2010 se mostram fundamentais no que concerne a um possível redirecionamento de nossa política externa.

Em uma oportuna prévia do que será o rotineiro na era Dilma, observa-se  que uma porção influente da inteligência acoplada nos gabinetes de Brasília ainda não superou os melindres dos embates ideológicos ocorridos há décadas no país, permanecendo atada ao atraso doutrinário e aos arroubos adolescentes de um Guevara e de um Fidel que já fizeram cada um a sua parte e ponto final.

Reflexo desse conjunto de iniciativas do grupo político instalado em áreas estratégicas do governo e que mira obsessivamente abocanhar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU,  pouco importando se para alcançar esse objetivo abrace países que reiteradamente anunciam a destruição de nações constituídas,  o site Brazil Cartoon abre mais uma vez espaço para promover a arte armada contra Israel, disponibilizando a veiculação de um catálogo de charges  maniqueístas e manipuladoras sobre a situação política no Oriente Médio.

Charges financiadas por governos autocráticos

Organizado pelo Ministério de Informação da Síria e intitulado “Gaza em Chamas” (Gaza in fire), o álbum artificioso de cunho ideológico e focado na demonização do estado judeu, resulta de um tipo de estratagema espertamente utilizado pelos países muçulmanos autocráticos (que não permitem a liberdade de expressão sob o seu jugo), nesses tempos de hipocrisia e subversão da realidade: o da organização de concursos e exposições internacionais de “arte engajada”, reunindo “artistas” sensíveis à problemática mundial da pobreza, do meio ambiente, das injustiças e de outros senões sociais.

Para isso monta-se um júri de  experts de países “amigos”, tais como o Irã, Brasil, Egito, China, Turquia e Itália, para citar alguns; despacham-se emails para as associações de cartunistas, principalmente para aquelas insanamente aferradas a conceitos e movimentos terceiro-mundistas que congregam tribos inquietas e sedentas por reconhecimento e prêmios; e grafitam-se algumas palavras de fúria, em tinta vermelha, do tipo “all for palestine” e “NO to israeli aggression” nos folhetos, cartazes e demais peças de propaganda. O resultado logo aparece: 303 cartunistas de 67 países prontos para sujeitarem a sua imaginação, talento e criatividade às amarras de um embuste ardilosamente preparado com uma única finalidade, o de transformar Israel em vilão do planeta. 

Chargistas brasileiros e iranianos são a maioria

Aliás, em relação a esse certame ocorrido em 2009, Brasil e Irã se destacaram pelo surpreendente número de cartunistas participantes – o primeiro com 39 e o outro com 42 – sobrepujando a China, a países africanos, árabes e do leste europeu, e a própria Síria, organizadora do evento. Uma enxurrada de “artistas” brasileiros teleguiados em sua indignação pela visão astuta e preconceituosa de uma mídia superficial e parcial em sua condenação a priori ao estado de Israel.

Mas, se o prêmio do melhor cartoon contra Israel não coube a um brasileiro, passou bem perto, premiando um cartunista argentino e sua charge-clichê: um keffiyeh (lenço branco e preto usado pelos palestinos) manchado de sangue. Percebe-se que a crescente proliferação desses eventos que supostamente visam estimular a criatividade e a arte são instrumentos dos mais engenhosos utilizados pela propaganda dos países árabes no sentido de inserir talentos dispersos e muitas vezes insatisfeitos pela limitação profissional em seus países de origem,  no insensato jogo de brutalidade e ódio a Israel e às comunidades judaicas.

Ainda em 2009, no 17º Salão Universitário de Humor ocorrido em Piracicaba, interior de São Paulo, a charge vencedora teve como tema o Holocausto. No desenho muito bem elaborado, o papa está de costas e ajoelhado em frente a um quadro-negro, sendo obrigado pela professora, a ministra da Alemanha vestida de guarda nazista, a escrever dezenas de vezes a frase “Holocaust is real”.  A ideia por trás da charge é abominável porque induz o espectador a acreditar que a civilização cristã representada pelo papa está de joelhos, subjugada à pressão de um suposto lobby judaico que na charge é comparável à coerção nazista.

Mais uma preocupação para os governos democráticos que mesmo advogando a liberdade de expressão estão conscientes da extensão dos danos que tais desenhos insinuantes provocam em mentes imaturas e sugestionáveis.



(06 de março/2010)
CooJornal no 674


Sheila Sacks é jornalista e trabalha em Assessoria de Imprensa no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, RJ
ssacks@oi.com.br



Direitos Reservados