16/03/2021
01/10/2021
Ano 24
Número 1.242



 


ARQUIVO
RONALDO WERNECK

 

Ronaldo Werneck




De soslaio, uma charada

Ronaldo Werneck - CooJornal



Enquanto, na foto, a bela Mariléa me (nos) olha de “soslaio” (obrigado, Geraldinho Barbosa) eu vou castigando as pretinhas aqui na redação do Cataguases (agora sem o Z da época do Roneck e do Botão). A máquina Olivetti Linea 88 é do François, razão pela qual as linhas estão devidamente maltraçadas. Na oficina, o Mário continua compondo nossos textos inadimplentes, como sempre, como antigamente, comme il faut. O grande Homero continua catando latas velhas e todos os comunistas da praça, em cada esquina, por trás da calandra e das resmas de papel, que vão virar, eu espero, alguma coisa parecida com jornal.

Não sei bem onde nosso diagramador vai jogar este Bubbaloo, mas espero que cole, isto é, que o cole junto ao Drops do meu amigo Acir Vassalo (de quem?). Olhaí, Acir: todos os botequins de Cataguases estão indo à falência, da Jane ao Augusto, do SL ao Taramela, do bar da Ritinha Lee, na Rodoviária, ao Bote/Quinn. Após beber metade da água do Rio Pomba e degustar o negro licor do Meia-Pataca, o poeta agora só vai de coca-cola, suco de laranja e gin distônico (claro, a tônica é sem gin!).

Ontem à noite, no Taramela, altos papos sobre espiritismo, tema onde Cataguases é imbatível. Rachel apareceu para o Zebrão, que o Geraldinho Barbosa insiste em chamar de Baleia. Neidinha se mostra entusiasmada e diz que falou com a Rachel há poucos dias, em sua cama (dela, Neidinha). Eu começo a não entender mais nada. Geraldinho puxa do bolso esquerdo da calça e de algum lugar perdido na memória uma citação das mais porretas de Santo Agostinho, pede um café, me fila um cigarro e diz entre baforadas inacreditáveis: “O Rosário Fusco tem aparecido constantemente lá no PLA (pode me chamar de Paz, Luz e Amor). Está muito bem, curtindo horrores no Além. Parou de beber em homenagem ao François. Que nem você, Ronaldo, que parou em homenagem ao Pablo.”.

Do outro canto da redação a Paulinha grita dizendo que o texto-legenda sobre a Mariléa tá ficando muito grande, o François reclama que eu estou muito mal-humorado, aproveita para filar um cigarro: o francesinho anda muito nervoso, bebendo muito café. Também, pudera. Com esta malfadada Olivetti como instrumento de trabalho não há redator que aguente.

Bem, fica assim. Termino de mastigar este Bubbaloo deixando para os meus três leitores de cabeceira, Zebrão, François e Kimura (olhaí, bicho, tem que estudar mais, que o teu violão ainda anda meio maroto, vê se pega uma aulinhas com a Andréa, lá no Baixo Leblon), enfim deixando para os três & até mesmo pra vocês, se é mesmo verdade que vocês existem e que até aqui chegaram, uma píccola charada em homenagem ao Chiquinho, meu único leitor em Teresópolis:

Cantor com trava na língua (duas).
O filho do Couto (três).
Não é ele, mas o outro.

Quem disse Gago Coutinho se deu mal: pode me chamar de Sacadura Cabral.
– Yyyeeesssssss! O outro.


Bubbaloo 1
Jornal Cataguases/ 06.12.87

 






- Comentários sobre o texto  podem ser enviados, diretamente, ao autor: Ronaldo Werneck


Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/



Direitos Reservados
É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação eletrônico ou impresso sem autorização do autor.