01/02/2021
Ano 24 - Número 1.208




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RONALDO WERNECK



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Ronaldo Werneck




PERFIL DESTE POETA AO VIRAR O SÉCULO
Um inútil perfil do poeta no ano 2000, do rol dos não publicados

 

Ronaldo Werneck - CooJornal

Nome – Ronaldo Werneck

Estado Civil – Momentaneamente separado. Mas isso passa – e já não dói tanto.

Filhos – Ulla e Pablo & Júlia – esta filha do último, sobrinha da penúltima e, coitadinha!, neta do “vô safadinho”, quer dizer, “Ronaldinho”.

Natural de Cataguases? – Sim, para sempre. Da esquina de Dr. Sobral com Rua do Pomba, daquela casa ali, que antes era da Força & Luz, daquela janela agora constantemente fechada, opaca, apagada, sem as vozes de outrora, vovó, papai, mamãe, Cacai, tio Chiquito, os latidos da Bolinha, o amor-agarradinho cobrindo de rosa o muro, o portão e o mundo lá fora. Está ali a casa, mas não mais o ruído das manhãs, a música essencial da máquina da Vovó Cota, o compassar do pedal, o dedo no dedal costurando o fascínio daquele menino sentado a seus pés: por que você se levantou, meu filho?

Por que veio para Cataguases – Por que não? Assim, como quem não quer nada, entre a noite e a alvorada, tempo de trabalho onde me (re)invento, faço o definitivo “descobrimento”: Cataguases é meu eterno intento, pura ficção. A derradeira musa que de mim abusa – essas coisas de paixão assim à última vista: violenta-suave, primeira e primária, amante súbita e derradeira.

Ramo de trabalho – Sozinho na cama é bom que me lembre: faço poemas como quem ama – e desde sempre.

Currículo – Bolas, ora bolas, muitas bolas pela vida afora: de pano, de couro, de marfim, de carne. Goleiro – perdão: goal-keeper! – das peladas da Dr. Sobral e depois do infanto-juvenil do Operal, campeão local. Só não segui carreira dada a estatura definitiva e derradeira: com muito orgulho, metro e sessenta e quatro acima do nível do Pomba (isso em tempo de chuva e de cheia!). O marfim das bo-las de bilhar, vício e quase profissão, pra desespero da mamãe. Gente é pra brilhar, como dizia o velho/novo Vladímir Maiakóvski: o grande poeta da revolução russa, outro emérito sinuqueiro. Sim, como eu já disse num poema, “gente é para brilhar/caro vladímir/de arrebol a arrebol/este é meu emblema/ – o seu e o do sol”. Como se vê, se o negócio é dar um brilho, eu devia mesmo é ter sido engra-xate. Ah, sim, as bolas de carne! Pois é, é preciso mergulhar de vez no seio de mi-nha história, quer dizer, das amadas-inglórias e sestrosas, minhas f(g)êmeas capri-chosas. Eu disse gemas: pedras e prazeres.

Cataguases em relação ao seu ramo profissional – Musa levada, amante safada: eterna namorada.

Um projeto realizado – Meu primeiro livro de poemas, “Selva Selvaggia”, de todos o que me deu mais prazer: um roteiro poético-cinematográfico, editado como se fosse um filme. Poemas-fotogramas, planos-poemas como no cinema – outra de minhas paixões.

Um projeto a ser realizado –
“Dentro & Fora da Melodia”, um espetáculo que será encenado aqui em Cataguases em meados deste ano, entremeando música (letra de) & poemas, e que vai ser gravado ao vivo para a produção de um CD (o projeto já foi aprovado pela Secretara Estadual de Cultura em BH, através da Lei de Incentivo, e os recursos já estão sendo captados junto à Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina). “Dentro da Medodia” vão estar a Maria Juliana (nos te-clados e direção musical, o Olney Figueiredo (bateria e voz), o Zi no baixo, a Ma-ria Júlia no vocal e a Patrícia Alonso dizendo os poemas. “Fora da Melodia”, naturalmente, estarei eu, com meus poemas, os do João Cabral, do Vinícius, do Drummond, do Manuel Bandeira e outros mais/menos votados. Eu que eterna-mente desafino na vida e em cena: do ouviram do Ipiranga (nunca ouvi direito!) ao flor esplendente da Mata. Mas, paciência que vai valer a pena: o resto da turma é de rara competência.

Sua visão política e econômica do país – Sou míope desde criancinha.

Suas expectativas para o novo milênio – Os poetas são a antena da raça, dizia o americano Ezra Pound. A minha antena voou com aquela chuvarada do mês passado, acho que para sempre.

Carro – De boi & bostalgia.

Griffe – Roupas de baixo na Rua da (meia) Estação. Guarda-chuva na Nacional. Calças e suspensórios sempre do Sobe-e-desce.

Perfume – Na cara & axilas, Axe – axé! O “musk”que é um “must” sovacal.

Comida – Frango com angu e quiabo, daqueles “babando” como só a mãe da gente sabe fazer, daqueles que se a gente fosse honesto mesmo (evoé, Vinicius!) só comeria de joelhos, pensando no máximo na empregada, quer dizer, na mulher amada.

Bebida – Drinques finos: copo alto, gelo, água “trônica” & guaraná diet. É leve e barato e se o sujeito for bom bebedor acaba entrando numa, quer dizer, pinta um ligeiro pilequinho: – Garçom, solta um necroton!

Hobby – De chambre.

Livro – Bem essencial, meu bem.

Filme – Fellini 8 ½

Autor – Inventar bem que se quis: mas vence o Machado de Assis.

Um sentido – Esquerda, volver!

Uma frase – “Pelo decote do horizonte, antevejo o seio da saudade”: do para-choque de um caminhão de Cachoeiro do Itapemirim (será do Roberto Carlos?).

Um recado – Amor estanca o tempo amor estanca.


Cataguases, 2000

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Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/



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