16/10/2021
Ano 24
Número 1.244





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Ultimamente

Não tenho falado de flores, até porque gosto mais de passarinhos que de flores. Vocês já se detiveram na beleza da cabeça de um bico-de-lacre, ou de canário-da-terra macho? Na natureza às vezes machos são mais belos que fêmeas e já me peguei discutindo acerbamente com ex-professor, que defendia que o bicho homem era mais bonito que o bicho mulher. Defendo e com unhas e dentes que a mulher é mais bela que o homem e agora, que a cosmética e as academias ajudam, julgo que para cada homem aceitável há cinquenta mulheres belas, algumas lindas, que desfilam nos palcos da vida. Para não encher páginas de nomes e sempre haverá omissões, vale dizer que muitas belezas são efêmeras. Era assim, ficou assim. Emagrecer, ou engordar, pode desfavorecer belas e, sabendo dos segredos das balanças, lutam, no que fazem bem, pela beleza. Só que cuidado com plásticas e botox! E se nos “antigamentes” havia a lenda da loura burra, nos “agoras” tenho visto muita loura, ou que penso ser loura, falando e há o que ouvir. E nas atrizes, se a beleza ajuda, mesmo as não tão belas conseguem ir ao sucesso, se cuidam do seu mister de forma própria, vão as gambiarras da fama com a própria arte e personalidade. E, se aparece mulher que vence o tempo, não precisa fugir de espelhos e por anos e anos, alem de sua beleza, esbanja talento. Parabéns! E tirando o termo empoderamento, com o qual tenazmente impliquei, mulheres vão evoluindo em relação ao poder. E em maioria vão bem. E olhe que, revendo minhas crônicas e contos, tenho falado pouco em mulheres, passarinhos e flores. Na quarentena não há muita propensão para dias de vinhos e rosas. Ficamos no Covid 19, nas tolices diárias, nos terríveis números da pandemia, quarentena, que de quarenta não tem nada. E já ia deixando os bicos de lacre sossegados, ainda que em minha modesta obra recorra mais a sabiás, vide o conto em que vou à mesma e não ao de lacre. Tentemos retornar a antiga normalidade, esquecendo o rame-rame das notícias escabrosas do dia a dia. E todos devemos ter esperanças que as flores, vide flamboyants vermelhos e as saíras multicoloridas, voltarão a dar as cartas e o amor reviverá. Pena que sem a inspiração de um Orestes Barbosa. “A lua furando nosso zinco, salpícava de estrelas nosso chão”, ou do J. Faraj, aquele da “A deusa da minha rua tem os olhos onde a lua costuma se embriagar”. Do Orestes há charge. As balas, furando nosso zinco, salpicavam de sangue nosso chão. Triste versão. Poetas no pós pandemia voltem a ser românticos, pois muito precisamos de alentos, para repensar amores e tocar a vida ao som de uma viola, ou quem sabe, até de um realejo, que não seja tristonho.


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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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