01/10/2021
Ano 24
Número 1.242





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Raízes na profundidade, frutos no topo

De várias formas e com várias interpretações o ditado acima pode ser interpretado. Parece-me que se adapta muito bem a um ancestral que vê os frutos de sua vida serem representados por descendentes, que se tornaram pessoas do bem. Há exceções. Ótimas raízes e frutos podres e vice versa. Só que ter raízes voltadas para o amor ao próximo, merecem ser enaltecidas. E saindo do particular, no caso a família e indo ao geral, as populações têm relações com os governos pretéritos e fica muito difícil apresentar frutos sadios, quando as raízes foram deletérias. Será excepcional, quando raízes degeneradas propiciam frutos de valor, até porque da educação familiar e formal dependem os cidadãos e se de cima vêm desacertos, fica difícil a família ter bons propósitos. Com a globalização pode se ter a ideia que raízes benfazejas serão honradas com frutos de valor. Só que esta globalização, sob o aspecto de raízes e frutos, não ocorre e mesmo; nações ditas de raízes de boas cepas, de quando em quando vacilam e me parece que citar Ronald Trump é exemplo que vem a calhar e vejam que expressivo número de votantes teve. Pode parecer que determinados governantes preferem cultivar incultos, para sua própria colheita ficar, tranquila, já que é mais fácil um inculto cair em demagogias. Fui apenas a exemplo mundial, quando quero ficar no geral e valorizar as raízes das quais todos dependemos. E como é meritório encontrar um ancestral raiz, que teve vida louvável em muitos matizes, onde predominaram cores claras, deixando os desvãos sem cores soturnas. Com é saudável saudar um ancestral raiz assim. E não valem desculpas pessoais, onde tortos acusam árvores mal nascidas e frutificadas com frutos degenerados, pelos erros cometidos. E por falar em frutos, lembro-me Strange Fruit, música na voz rascante e sofrida de Billie Holiday. E os estranhos frutos, oh fato horrível, eram negros assassinados e dependurados em árvores pelos da Ku Klux Klan. E se citei fatos ocorridos nos “esteites” pode parecer que tenho birra especial contra os do pais USA, quando não tenho, até porque, havendo democracia, há transparência e malfeitos vêm a público de forma mais palatável e quando há cortinas de ferro, muito do ruim não vaza pelas barreiras. E para países quem deve mostrar raízes e frutos? Acredito que seja Dona História, que é Senhora de respeito e sofre vacilos e muitas vezes, anos e anos depois dos fatos ocorridos e contados de modo impróprio, aparecem retificações históricas, que também podem permitir acaloradas discussões e até com viés político e momentâneo. E ficam raízes sem ser exploradas e com frutos que deixam a desejar. Que Dona História seja veraz, é pedido constante, mesmo que frutos malévolos teimem em reescrever a História, conforme seus interesses momentâneos e se perdem noções sobre raízes e frutos, Tudo bem, tratamos com gente e não robôs, daí...

Citado no texto. “Strange Fruit”, poema do Professor de Inglês Abel Meeropol, musicado depois por ele sob o pseudônimo de Lewis Allan e que fez sucesso na voz dolorosa e rascante de Billie Holiday. 

 

Strange Fruit

Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black body swinging in the Southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant South,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolia sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh!

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

Estranho Fruto

As árvores do Sul estão carregadas com um estranho fruto,
Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Um corpo negro balançando na brisa sulista
Um estranho fruto pendurado nos álamos.

Uma cena pastoral no galante Sul,
Os olhos esbugalhados e a boca torcida,
Perfume de magnólia doce e fresco,
Então o repentino cheiro de carne queimada!

Aqui está o fruto para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores fazer cair,
Eis aqui uma estranha e amarga colheita


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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