16/09/2021
Ano 24
Número 1.240




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Assédios, paqueras e amor


Definir. Assédio, substantivo masculino. Duas vertentes. 1 - operação militar, ou mesmo conjunto de sinais ao redor ou em frente a um local determinado, estabelecendo um cerco com a finalidade de exercer o domínio. 2 - insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constante em relação a alguém.

Assédio sexual, que é definido por lei como o ato de “constranger alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função” (tirada do Código Penal).

Paquerar. Verbo transitivo direto e intransitivo [Brasil]. Informal. Demonstrar interesse amoroso por alguém; observar alguém demonstrando interesse amoroso por esta pessoa; azarar: paquerou um menino na escola; vive paquerando naquele parque.

Vistas as definições, parece que muito se valoriza interpretações para chegar às definições. Então o inocente paquerar pode ser interpretado como assédio. E não estou forçando a barra e muito menos defendendo assédios. Na atual conjuntura, plena de direitos e agravos e do detestável politicamente correto, temo que simples paquera, ou mostrar interesse, seja levado ao campo do assédio. Pode parecer que há fronteiras demarcadas entre assédio e paquera e não há. E Pitigrilli, autor que já saiu de moda, apregoava o “assim é, se lhe parece.” Quando ser e parecer podem ser confundidos e até com segundas e até terceiras intenções, quando o entendimento equivocado e proposital corre ao campo da pecúnia e, quem sabe, até o da chantagem, muito se deteriora. Repito, sou absolutamente contra assédios e friso que aquele item da definição de assédio, onde se assinala hierarquia e ascendência, é item muito complicado. Se uma chefe e com as mais puras intenções, mostra interesse em subordinado, a casa pode cair e o que era absolutamente normal, cai no código penal. Se for chefe homem e subordinada mulher e ocorre interesse amoroso e sem intenções deletérias do chefe, a situação se complica e o que era benévola paquera, vira assédio e até sexual. E finalmente chego ao ponto básico e por que vim ao assunto. Cantada é assédio? E olhar pidão pode? Olhares podem ser assédios? Podem ser, só que as interpretações variam e já ouvi queixa. Ele me olha de forma que parece me despir. Interpretações são complicadas e não há o VAR do futebol para opinar e olhar de vários ângulos. Que o digam os amantes do futebol. Acredito piamente que o amor entre dois seres seja o sentimento mais garimpável de todos. O corretor do Word não gostou do garimpável e o colocou em vermelho. Não mudo o termo e me coloco contra, quando uma inocente paquera vira assédio, assédio sexual. E um puro amor morre, mesmo antes de nascer. E será perda irreparável para dois seres e regozijo para os que estão em volta dos dois e deram força para que um interesse saudável parecesse ato vexatório. Não ocorreu e apenas morreu um amor. Se um amor morre, o ser humano perde algo de muito importante e mesmo é perda incomensurável. Um amor.


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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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