16/04/2021
Ano 24 - Número 1.218






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MILTON XIMENES


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Milton Ximenes Lima

 

 

ANTIGOS DOMINGOS DE SOL MAIOR

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

Parabéns, Cachoeiro, 154 anos de emancipação em maio de 2021.


Desde a infância aprendemos que o domingo era dia especial, um dia para ser festejado, dia de alegria maior, dia de encontros com os coleguinhas de rua, ou com os familiares.

Lá em Cachoeiro de Itapemirim, a partir dos meus nove anos, me levantava às cinco da manhã para “pegar a missa” das cinco e meia na então Matriz de Nosso Senhor dos Passos, bem defronte à nossa casa, e, depois de um reforçado café, me dirigia à quadra de tênis construída ao lado da casa dos vizinhos Semprinis, lá na rua Don Fernando. O Zezinho, funcionário da Papelaria Semprini e responsável pela conservação do local dos jogos, me convidara para a novidade de ser “catador de bolas”. Chegava lá assim, mais cedo, atendendo à ansiedade dos jogadores que pretendiam iniciar logo seus embates, mas assim também tinha minha recompensa ao final dos jogos, lá pro meio dia ou mais: a minha “gorjeta” era mais engordada a cada jogo que se acrescentava... Os jogadores, então, ficavam atentos às quantidades de atuações dos “catadores” que ali chegavam depois de mim, principalmente o “Seu” Semprini, “dono” da quadra, e responsável pelo controle da frequência de atuações dos outros meninos, merecedores de menores quantias. Soube lá que meu pai fora adepto do esporte. (Estava aí explicada a existência daquela raquete abandonada sobre o armário do quarto do ex-casal). Novamente em casa, banho tomado, entregava os “trocados” lá apurados à administração da minha mãe que não me recusava, depois, a uma ajuda para frequentar o Cinema Central, ou comprar miudezas infantis.

Às vezes, quando a família tinha tempo maior para se curtir, também planejava visitas a familiares e a lugares de lazer da cidade, principalmente o espaço arborizado da grande Ilha da Luz e suas águas mais tranquilas das prainhas do seu entorno, ou as das pequenas piscinas “encachoeiradas”. Em havendo tempo, passava-se a tarde ali, entre folguedos e comes e bebes. Só me amedrontava com a travessia das pontes, lados norte e sul, um tanto precárias, que até lá nos levavam, e a gente vendo, com receio, entre as tábuas do seu chão, o rio Itapemirim profundo e apressado.

E depois, então, nos aboletávamos no ônibus Ilha-Coronel Borges até as paradas da rua Moreira que nos aproximavam da caminhada até lá em casa.

Como natural, a cidade cresceu e a elite construiu um belo clube no seu lado sul, onde as quadras de tênis não foram esquecidas no projeto e foram preenchidas por jogadores/admiradores de uma nova geração.

Ali, lá de cima da montanha do Clube Jaraguá, muitos anos depois, contemplo a agora vasta paisagem que se me oferece, desde os seus casarios, antigos ou novos (e altos), o seu rio fragmentando o coração da cidade, e, ao longe, lado direito, as pedras famosas do Itabira e do Frade e da Freira teimosamente se oferecendo contra o belo dia azul de um céu de inverno. Fotografias minhas em cima de tudo isto: são futuras ilusões táteis para machucarem e ressuscitarem as muitas lembranças preciosas da minha terra...

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Fiquem frios, agora, meus caros... cá entre nós, atenuem minha abordagem sentimental acima para o que lhes vou revelar. Descobri, nessa minha última viagem de saudades, que o espaço da antiga quadra de tênis foi simplesmente preenchido por um... salão/ templo religioso...

Página virada, amigos: lamento apenas minha memória tristemente violentada e camuflada diante do inevitável avanço do tempo sobre pessoas e casas da minha querida aldeia natal. Saudades muitas dos caminhos pisados por meus então alegres e inocentes pés-meninos...

Vamos viver outras vidas, conterrâneos!

 

Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email miltonxili@hotmail.com





Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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