Em qualquer profissão a fase do aprendizado é, sem dúvida, a mais interessante e importante, fazendo com que, pela constante e apurada observação, a inteligência se mobilize para aceitar e enfrentar os inesperados caminhos-obstáculos.

Na Literatura, dois médicos só encontraram o sucesso fazendo valer, talvez, uma vocação tardia: A.J.Cronin e Fernando Namora, os quais nos relatam, em memórias, seus primeiros passos profissionais.

O segundo, de nacionalidade portuguesa, festejado autor de vários livros, entre eles ”Domingo à tarde” (Premio José Lins do Rego), lembra que montara consultório na mesma sala de um advogado. Quando chegava um cliente com sintomas difíceis de diagnosticar, ele se fingia preso de incomodativo acesso de tosse, pedia licença, e se retirava, por momentos, para uma saleta ao lado. Lá, ele consultava ansiosamente seus alfarrábios, e mais tossia quando custava a identificar a possível doença. Era a sua “escapatória intelectual”.

Já o famoso autor inglês recorda que, certa ocasião, fora chamado urgentemente a um bairro de pobres para examinar um garoto que apresentava convulsões, uma respiração ofegante, e, ao mesmo tempo, “assobiante”!

Pensara em doença possivelmente nova e, portanto, pouco conhecida, pouco estudada em livros próprios. Ao seu redor, mulheres da vizinhança palpitavam suas impressões, vozes em zorra tremenda.

Desesperou-se, e já que não resolvia de imediato o caso, mandou chamar o médico com quem trabalhava, mais idoso, e, portanto, mais sábio e experiente.

O homem chegou e primeiro tratou de esvaziar o quarto. Assim, totalmente a sós com o pequeno paciente, observou calmamente o comportamento da criança, depois começou a exploração tátil. Aí, tranquilão, retirou de umas das narinas um pequeníssimo apito. E aproveitou, em seguida, em calma voz, para sugerir ao colega iniciante:

- Leve sempre este apito no bolso... Quando você começar a se vangloriar dos próprios sucessos, tenha-o à mão para se lembrar do que você foi e de quem você é...

------------------------------------

Em tempos mais ou menos recentes, balconista de uma farmácia no bairro do Flamengo atendia à clientela exibindo-se em poses e palavras de médico.

E aquela moça, certa tarde, lhe apresentou um papel com algo escrito, talvez uma receita meio comprida. Ele correu os olhos pelas prateleiras atrás, subiu e desceu escadas e, já cansado, veio, enfim, anunciar:

- Sinto muito, senhorita, encontrei esses remédios aqui, mas este tal de HEMOGRAMA COMPLETO ainda não temos!