No ano de 2011 um empresário adquiriu todo um edifício, de doze andares, na rua Uruguaiana nº 118, no centro do Rio de Janeiro. Os ocupantes das suas numerosas salas começaram a sua retirada, já paralelamente convivendo com imediatas obras de demolições de paredes.

Na cobertura, um endereço sagrado, abençoado e admirado por praticantes de várias crenças religiosas: a Academia Hermógenes de Yoga, que está completando cinqüenta anos de atividades, todas no mesmo local, em especial no famoso “salão das sete janelas”, berço de muitíssimas aulas, palestras e cerimônias.

Ultima aula da minha turma (Prof. João Baptista) - foto MXL

Na tarde do último 16 de dezembro estive lá, e presenciei/participei da festa de encerramento do ano letivo, através do costumeiro “satsang”, cerimônia ecumênica em que se mesclaram manifestações/depoimentos de professores, alunos, beneméritos, amigos, orações, mantras, cânticos indianos e cristãos, bênçãos, em meio a carinhosos cumprimentos e saudações mútuas, além de, ao final, permuta de flores e frutas (representações simbólicas da Mãe-Natureza) postadas pelos participantes, à chegada, sobre o pequeno e colorido altar (de oferendas).

Hermógenes comandando o satsang - foto MXL

Como não podia deixar de ser, a obrigatória presença do Professor Hermógenes, homem simples, mas cuja sabedoria (aulas, livros, palestras, seminários) é até reconhecida por muitos títulos e honrarias, inclusive internacionais. Com o típico boné esportivo, os olhinhos espertos dançando sobre os presentes, boca em discreto sorriso, dedos acompanhando os ritmos musicais, ele, apesar de hoje não conviver com uma plena saúde física, harmonizava e alegrava o ambiente, acolitado por seus netos.

Hermógenes, netos Raphael e Thiago, e músicos - foto MXL

Eu sabia que a cerimônia tinha também um sabor de despedida, de despojamento, um adeus a um templo de infinitas e saudáveis práticas das ásanas da Hatha yoga, mas não percebi vestígios de tristeza nos rostos, gestos e palavras. Todos se irmanavam, possivelmente conscientes de que vida é perene desapego, transformação sistemática de pensamentos, palavras e atitudes nos enfrentamentos do dia a dia. Pareciam testemunhar os ensinamentos do lema Professor/Academia : “Entrego, confio, aceito, agradeço”, tão oportuno e útil no controle das nossas emoções. Todos se aconchegaram espiritualmente, se anularam para criar uma energia única, maior, de alegria e esperança. (Por isso, não cito nomes, só o do professor Hermógenes, porque todos eram, naqueles momentos, uma unidade de identificação).

Saguão de entrada da Academia - foto MXL

Enquanto isto, além das janelas, nas encostas do Maciço da Tijuca, o Sol nos pincelava os olhos com a beleza dos reflexos seus últimos raios. Talvez ele nos acenasse com uma mística lição: o que hoje foi, passou, amanhã reaparecerei, será um novo dia, e cada um seguirá o seu caminho, sempre na busca da reaprendizagem de suas verdades existenciais.
Namastê.

Aviso, já anotado na agenda:
Em 2012, no 5º andar do prédio da rua Primeiro de Março nº 9, todos nós, alunos, nos reencontraremos.

Fotos de Milton Ximenes Lima

(06 de janeiro/2012)
CooJornal nº 769