
Marataizes, praia-saudade do Cronista – Foto MXL
MULHERES
Apesar do seu modo de ser, “prá dentro”, há testemunhas de que Rubem era uma
pessoa sedutora. Casou-se com a escritora Zora Seljan, com quem teve um
filho, Roberto, e se separaram em 1940. Na Gazeta Mercantil (SP) de
10.01.2003, o jornalista Álvaro Costa e Silva afirma que “foi um homem de
muitas paixões: Mimi de Ouro Preto (ou Maluh? – observação minha, conforme
Marco Antonio de Carvalho, pgs. 366 e 437 do seu livro); Danusa Leão
(platonicamente), Bluma Wainer. E Tonia Carrero...” A propósito, esta atriz,
que esteve na Bienal Rubem Braga, não gostava de se aprofundar nessa
história, porém, mais tarde, assumiu o relacionamento, conforme diálogo que
manteve com Heloneida Studart, transcrito da seção dominical Entrevistas do
JB de 12.02.2006: Heloneida: E Rubem Braga, que dizia que você era o amor
da vida dele? Tonia: - Fomos amigos para sempre! Heloneida: - Que bom,
tenho grande interesse pelos amores platônicos. Tonia: - Que platônico!
Rubem Braga? As melhores amizades começam na cama. Mais discreto foi o
seu romance com a filha do poeta Carlos Drummond de Andrade, Maria Julieta,
que costumava anotar sua vida em diários. Segundo ela confessou mais tarde
ao poeta, escritor e advogado mineiro Octávio Mello Alvarenga, seu
companheiro de cinco anos (1982/1987), o pai violara sua correspondência,
nela incluídas as cartas remetidas por Rubem, bem como sumiu com os livros
que o cronista lhe remetera. Muitos fatos Octávio relatou em “Rosário de
Minas”, autobiografia contendo “verdades e mentiras”, como ele mesmo
alertou. (O Globo, 24.05.2003, Suplemento Ela, texto de Elisabeth Orsini).
PENSAMENTOS E POSICIONAMENTOS
A sabedoria popular nos aconselha a
não perder tempo discutindo política, religião e futebol. Tradução: em
geral, uma vez consolidados pensamentos e posicionamentos, dificilmente as
pessoas admitem mudá-los, tornando-se, assim, linha de conduta própria da
vivência de cada um. Eis as notícias que nos chegam sobre Rubens: ao lado de
Hermes Lima e João Mangabeira, foi um dos fundadores do Partido Socialista
Brasileiro. Simpatizante da Aliança Nacional Libertadora, foi alvo de
perseguições no Estado Novo, de Getúlio Vargas, abrigado por amigos em
Cachoeiro e em Vassouras, no sítio do seu amigo Carlos Lacerda, preso
algumas vezes. (JB, 21.12.1990 e pequena biografia no seu livro Recado de
Primavera, Círculo do Livro). Em 1935, na primeira vez que desembarcou em
Porto Alegre, duas pessoas o esperavam: o jornalista e amigo Carlos Reverbel
e “um policial, com uma ordem de prisão decretada pelo Filinto Müller, chefe
da repressão getulista”. (Entrevista de Reverbel a Jerônimo Teixeira,
Revista Zero Hora, Porto Alegre, 19.05.1996). O próprio Reverbel “acabou
sendo preso junto com o recém-chegado, mas foi logo solto porque era amigo
do delegado Plínio Brasil Milano. De imediato, telefonou para Breno Caldas -
que era cunhado de Plínio Brasil Milano – conseguiu que o interventor
Cordeiro de Farias determinasse a soltura de Rubem.”.
João Máximo (JB,
21.12.1990, Cidade, fl.6) acresce detalhes que me parecem contemporâneos dos
fatos acima: “Certa vez, preso em Porto Alegre, deixou para trás mulher e
filho, meteu-se num navio, saltou em Paranaguá e dali, por terra, foi
reencontrar a família em S.Paulo. De volta ao Rio, outra prisão.” Só que
Reverbel não fala na família, mas que Rubens deixara o Rio por Porto Alegre
“pressionado por uma crise sentimental” não revelada pelo entrevistado.
Rubem era também anticlerical, chegou a polemizar com Alceu Amoroso Lima
(1930). Repelia, curiosamente, o voto feminino, entendendo que, através do
púlpito os padres manipulariam as mulheres (Gazeta Mercantil,10.01.2003,
Álvaro Costa e Silva, Marco Antonio de Carvalho). Outra: “Em um texto de 25
de outubro de 1939, o cronista denunciou uma missão salesiana de Mato-Grosso
que teria apresentado faturas falsas para justificar uma subvenção. A igreja
pressionou Cordeiro de Farias, o Rubem não pôde mais ficar.” (Reverbel,
Jerônimo Teixeira, idem, acima). Também foi contra a volta das aulas de
religião nas escolas públicas. (Gazeta Mercantil, idem,acima).
Entretanto, mais tarde teve seu nome lembrado para colaborar com os órgãos
públicos. Em 1943, rápida experiência na chefia do Setor de Publicidade do
Serviço Especial de Saúde Pública (Perfil, Rubem Braga, publicação não
identificada); em 1955, na chefia do Escritório de Propaganda e Expansão
Comercial do Brasil no Chile, no governo Café Filho; 1961 a 1963, embaixador
do Brasil no Marrocos, governo Janio Quadros. A propósito, O Globo de
10.12.2005, na seção “Há 50 anos”, relembrou gesto político do cronista,
eticamente correto: “ O Ministro do Trabalho, Sr. Nelson Omegna, concedeu
dispensa ao jornalista e cronista Rubem Braga da função de Chefe do
Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil no Chile. Como se
recordam os leitores, Rubem Braga solicitou dispensa no dia 11 de novembro
último, “inteiramente solidário com o presidente Café Filho, ilegalmente
impedido de exercer o seu mandato”, como escreveu em telegrama enviado ao
GLOBO.”
 Cachoeiro amanhecendo, Pedra do Itabira – foto MXL
(continua) (29 de janeiro/2011) RT,
CooJornal nº 720
Comentários sobre o texto podem ser encaminhados ao autor, no email
miltonxili@hotmail.com

Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
Email: miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes Lima
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