29/01/2011
Ano 14 - Número 720


ARQUIVO
MILTON XIMENES

 

Milton Ximenes Lima



 RUBEM BRAGA/ RUBEM-BRAGUICES (III)


 

Milton Ximenes, colunista - CooJornal



Marataizes, praia-saudade do Cronista – Foto MXL


MULHERES


Apesar do seu modo de ser, “prá dentro”, há testemunhas de que Rubem era uma pessoa sedutora. Casou-se com a escritora Zora Seljan, com quem teve um filho, Roberto, e se separaram em 1940. Na Gazeta Mercantil (SP) de 10.01.2003, o jornalista Álvaro Costa e Silva afirma que “foi um homem de muitas paixões: Mimi de Ouro Preto (ou Maluh? – observação minha, conforme Marco Antonio de Carvalho, pgs. 366 e 437 do seu livro); Danusa Leão (platonicamente), Bluma Wainer. E Tonia Carrero...” A propósito, esta atriz, que esteve na Bienal Rubem Braga, não gostava de se aprofundar nessa história, porém, mais tarde, assumiu o relacionamento, conforme diálogo que manteve com Heloneida Studart, transcrito da seção dominical Entrevistas do JB de 12.02.2006:
Heloneida: E Rubem Braga, que dizia que você era o amor da vida dele?
Tonia: - Fomos amigos para sempre!
Heloneida: - Que bom, tenho grande interesse pelos amores platônicos.
Tonia: - Que platônico! Rubem Braga? As melhores amizades começam na cama.
Mais discreto foi o seu romance com a filha do poeta Carlos Drummond de Andrade, Maria Julieta, que costumava anotar sua vida em diários. Segundo ela confessou mais tarde ao poeta, escritor e advogado mineiro Octávio Mello Alvarenga, seu companheiro de cinco anos (1982/1987), o pai violara sua correspondência, nela incluídas as cartas remetidas por Rubem, bem como sumiu com os livros que o cronista lhe remetera. Muitos fatos Octávio relatou em “Rosário de Minas”, autobiografia contendo “verdades e mentiras”, como ele mesmo alertou. (O Globo, 24.05.2003, Suplemento Ela, texto de Elisabeth Orsini).

PENSAMENTOS E POSICIONAMENTOS

A sabedoria popular nos aconselha a não perder tempo discutindo política, religião e futebol. Tradução: em geral, uma vez consolidados pensamentos e posicionamentos, dificilmente as pessoas admitem mudá-los, tornando-se, assim, linha de conduta própria da vivência de cada um. Eis as notícias que nos chegam sobre Rubens: ao lado de Hermes Lima e João Mangabeira, foi um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro. Simpatizante da Aliança Nacional Libertadora, foi alvo de perseguições no Estado Novo, de Getúlio Vargas, abrigado por amigos em Cachoeiro e em Vassouras, no sítio do seu amigo Carlos Lacerda, preso algumas vezes. (JB, 21.12.1990 e pequena biografia no seu livro Recado de Primavera, Círculo do Livro). Em 1935, na primeira vez que desembarcou em Porto Alegre, duas pessoas o esperavam: o jornalista e amigo Carlos Reverbel e “um policial, com uma ordem de prisão decretada pelo Filinto Müller, chefe da repressão getulista”. (Entrevista de Reverbel a Jerônimo Teixeira, Revista Zero Hora, Porto Alegre, 19.05.1996). O próprio Reverbel “acabou sendo preso junto com o recém-chegado, mas foi logo solto porque era amigo do delegado Plínio Brasil Milano. De imediato, telefonou para Breno Caldas - que era cunhado de Plínio Brasil Milano – conseguiu que o interventor Cordeiro de Farias determinasse a soltura de Rubem.”.
João Máximo (JB, 21.12.1990, Cidade, fl.6) acresce detalhes que me parecem contemporâneos dos fatos acima: “Certa vez, preso em Porto Alegre, deixou para trás mulher e filho, meteu-se num navio, saltou em Paranaguá e dali, por terra, foi reencontrar a família em S.Paulo. De volta ao Rio, outra prisão.” Só que Reverbel não fala na família, mas que Rubens deixara o Rio por Porto Alegre “pressionado por uma crise sentimental” não revelada pelo entrevistado.
Rubem era também anticlerical, chegou a polemizar com Alceu Amoroso Lima (1930). Repelia, curiosamente, o voto feminino, entendendo que, através do púlpito os padres manipulariam as mulheres (Gazeta Mercantil,10.01.2003, Álvaro Costa e Silva, Marco Antonio de Carvalho). Outra: “Em um texto de 25 de outubro de 1939, o cronista denunciou uma missão salesiana de Mato-Grosso que teria apresentado faturas falsas para justificar uma subvenção. A igreja pressionou Cordeiro de Farias, o Rubem não pôde mais ficar.” (Reverbel, Jerônimo Teixeira, idem, acima). Também foi contra a volta das aulas de religião nas escolas públicas. (Gazeta Mercantil, idem,acima).
Entretanto, mais tarde teve seu nome lembrado para colaborar com os órgãos públicos. Em 1943, rápida experiência na chefia do Setor de Publicidade do Serviço Especial de Saúde Pública (Perfil, Rubem Braga, publicação não identificada); em 1955, na chefia do Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil no Chile, no governo Café Filho; 1961 a 1963, embaixador do Brasil no Marrocos, governo Janio Quadros.
A propósito, O Globo de 10.12.2005, na seção “Há 50 anos”, relembrou gesto político do cronista, eticamente correto:
“ O Ministro do Trabalho, Sr. Nelson Omegna, concedeu dispensa ao jornalista e cronista Rubem Braga da função de Chefe do Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil no Chile. Como se recordam os leitores, Rubem Braga solicitou dispensa no dia 11 de novembro último, “inteiramente solidário com o presidente Café Filho, ilegalmente impedido de exercer o seu mandato”, como escreveu em telegrama enviado ao GLOBO.”
 



Cachoeiro amanhecendo, Pedra do Itabira – foto MXL

(continua)

(29 de janeiro/2011)
CooJornal no 720


Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com

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