22/01/2011
Ano 14 - Número 719


ARQUIVO
MILTON XIMENES

 

Milton Ximenes Lima



 RUBEM BRAGA/ RUBEM-BRAGUICES (II)


 

Milton Ximenes, colunista - CooJornal



Cachoeiro, Casa dos Bragas – foto MXL


PERSONALIDADE

Conheci só o também talentoso prosador e poeta Newton Braga, seu irmão, pessoa extremamente afável, accessível. Rubens, diziam, não tanto. Daí a minha sadia inveja, quando trabalhava na Caixa Econômica Federal, do colega e amigo Álvaro Roberto Figueiró Murce, que, na qualidade de Gerente da Agência Ipanema, teve a oportunidade de vê-lo, identificá-lo, e, algumas vezes, atendê-lo, descrevendo-o como um homem casmurro, interiorizado.

Outros depoimentos:
UM
Rubem Braga era homem de poucos amigos... Eu ficava constrangido de apresentá-lo às pessoas... Era uma personalidade muito complexa. Tinha uma sensibilidade de poeta, mas não gostava de intimidade. (Jornalista gaúcho Carlos Reverbel, que conheceu Rubem em 1935, cobrindo as comemorações do centenário da Revolução Farroupilha para a Folha do Povo de Recife, e que com ele conviveu em 1939, quando Rubem era redator do Correio do Povo e colaborador da Folha da Tarde (crônica diária), em Porto Alegre. (Reportagem de capa da Revista Zero Hora, em 19.05.1966, de Jerônimo Teixeira}.
DOIS
“Feroz em seu focinho de lobo solitário” (Vinicius); “esquivo e desconcertante” (Drummond); “varão justo, limpo e sábio’ (Otto Lara Resende); “Um lírico que se corrigia com o humor” (Paulo Mendes Campos);“ Rubem Braga provavelmente escondia, por trás da aparente carranca, a alma de menino curtidor de pitanga, rapadura, mato, sol, brejos, flores, formigas e, claro, passarinhos.” (João Máximo, artigo no JB, Cidade, fl..6, de 21.12.1990).
TRÊS
...; “era caladão e carrancudo (chamavam-no de urso), mas fez da amizade um sacerdócio Jornalista Álvaro Costa e Silva - Gazeta Mercantil, 10.01.2005, “Fim de Semana”).
QUATRO
Jornal da ABI – Associação Brasileira de Imprensa, set/out/nov/2002. fls.10 e 11; texto: Temos saudades- breve e singela homenagem a alguns companheiros que estão em outro patamar, de Anderson Campos. Subtítulo: Braga, o mal-humorado. “Oposto de Antonio Maria, o velho Rubem Braga era irascível, mal-humorado e péssimo vizinho. Seu humor só variava na presença de Tonia Carrero (a Mariinha), sua grande paixão, ou após o segundo uísque servido no seu latifúndio da rua Barão da Torre, em Ipanema, onde cultivava dezenas de plantas e árvores. Daí, aliás, a bronca dos vizinhos, porque as raízes das árvores do Braga estouravam as divisórias e muros. Embora desfrutasse da convivência de dezenas de artistas, Braga tinha total assintonia com a música, seja ela qual fosse. Esse fato levou seu amigo Paulo Mendes Campos ao seguinte veredicto: “O Braga tem ouvido de pau”.
CINCO
Millor Fernandes, JB, 19.01.2003: “Há 10 anos exatamente morria Rubem Braga, o sólido, solitário e casmurro capitão de Ipanema, o cantor melancólico de Cachoeiro de Itapemirim, o sabiá da crônica... Conheci Rubem Braga a vida inteira. Li Rubem Braga a vida inteira. Foi, sem dúvida, o ser humano que mais admirei a vida inteira.”
SEIS
Luiz Garcia, crônica Magra Terça-feira, fl.7, O Globo, 28.02.2006: “Ora porque ele inventou a crônica da falta de assunto. Encarava a página em branco (para os mais novos, página é o que hoje chamamos de tela) e partia cavalgando em todas as direções, aparentemente sem rumo nem propósito. Mas sempre chegava ao fim do espaço determinado, com arte e graça.”... “Rubem tinha má dicção, no que parecia com o Castelinho (o Castelo Branco que durante anos foi o maior nome da crônica política nacional). Ambos falavam mais para dentro do que para fora. Um dia, garoto ainda, vi-os num jantar, sentados a metros de distância um do outro: dialogaram horas, e quase ninguém entendia patavina. Certamente disseram coisas de alta relevância – mas para a platéia hipnotizada, era como se fosse uma conversa de fanhos....”
SETE
Edvaldo Pacote, jornalista da Rede Globo, depoimento a Luciano Trigo, O Globo de 21.12.1990: “O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres.”...
OITO
Affonso Romano de Sant´Anna, na crônica Rubem, o passarinho: “Era um econômico em termos de palavras. Aí está a explicação melhor para o seu estilo. Quem com ele convivia teve que aprender a conversar com ele ao seu modo. Ou seja: ele não falava em linha reta. Fazia grandes silêncios, ficava com o ar de que não estava nem ali e, de repente, soltava uma frase que arrematava ironicamente tudo.”... “Todos sabiam que ele era meio esquisito ao telefone. Ligava, ia conversando, falando as coisas e, de repente, achando que já tinha dito e ouvido o que queria, se despedia abruptamente deixando o outro no ar.” (O Globo, 23.12.1990).
NOVE
Maciel de Aguiar, escritor residente no Porto de São Mateus, ES, confessa, na crônica “O cadáver sou eu”, publicada na Gazeta de Vitória e transcrita no jornal-revista Sete Dias, de Cachoeiro, em 14.01.2006...”Mas não tinha jeito, ele era mesmo carrancudo, intragável aos estranhos, monossilábico nas respostas e fazia questão de não arredar pé dessa posição.”

(continua)

(22 de janeiro/2011)
CooJornal no 719


Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com

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