Cachoeiro, Casa dos Bragas – foto MXL
PERSONALIDADE
Conheci só o também talentoso prosador e poeta Newton Braga, seu irmão, pessoa
extremamente afável, accessível. Rubens, diziam, não tanto. Daí a minha sadia
inveja, quando trabalhava na Caixa Econômica Federal, do colega e amigo Álvaro
Roberto Figueiró Murce, que, na qualidade de Gerente da Agência Ipanema, teve a
oportunidade de vê-lo, identificá-lo, e, algumas vezes, atendê-lo, descrevendo-o
como um homem casmurro, interiorizado.
Outros depoimentos:
UM
Rubem Braga era homem de poucos amigos... Eu ficava constrangido de
apresentá-lo às pessoas... Era uma personalidade muito complexa. Tinha uma
sensibilidade de poeta, mas não gostava de intimidade. (Jornalista gaúcho Carlos
Reverbel, que conheceu Rubem em 1935, cobrindo as comemorações do centenário da
Revolução Farroupilha para a Folha do Povo de Recife, e que com ele conviveu em
1939, quando Rubem era redator do Correio do Povo e colaborador da Folha da
Tarde (crônica diária), em Porto Alegre. (Reportagem de capa da Revista Zero
Hora, em 19.05.1966, de Jerônimo Teixeira}.
DOIS
“Feroz em seu focinho de lobo solitário” (Vinicius); “esquivo e
desconcertante” (Drummond); “varão justo, limpo e sábio’ (Otto Lara Resende);
“Um lírico que se corrigia com o humor” (Paulo Mendes Campos);“ Rubem Braga
provavelmente escondia, por trás da aparente carranca, a alma de menino curtidor
de pitanga, rapadura, mato, sol, brejos, flores, formigas e, claro,
passarinhos.” (João Máximo, artigo no JB, Cidade, fl..6, de 21.12.1990).
TRÊS
...; “era caladão e carrancudo (chamavam-no de urso), mas fez da amizade um
sacerdócio Jornalista Álvaro Costa e Silva - Gazeta Mercantil, 10.01.2005, “Fim
de Semana”).
QUATRO
Jornal da ABI – Associação Brasileira de Imprensa, set/out/nov/2002. fls.10 e
11; texto: Temos saudades- breve e singela homenagem a alguns companheiros que
estão em outro patamar, de Anderson Campos. Subtítulo: Braga, o mal-humorado.
“Oposto de Antonio Maria, o velho Rubem Braga era irascível, mal-humorado e
péssimo vizinho. Seu humor só variava na presença de Tonia Carrero (a Mariinha),
sua grande paixão, ou após o segundo uísque servido no seu latifúndio da rua
Barão da Torre, em Ipanema, onde cultivava dezenas de plantas e árvores. Daí,
aliás, a bronca dos vizinhos, porque as raízes das árvores do Braga estouravam
as divisórias e muros. Embora desfrutasse da convivência de dezenas de artistas,
Braga tinha total assintonia com a música, seja ela qual fosse. Esse fato levou
seu amigo Paulo Mendes Campos ao seguinte veredicto: “O Braga tem ouvido de
pau”.
CINCO
Millor Fernandes, JB, 19.01.2003: “Há 10 anos exatamente morria Rubem Braga, o
sólido, solitário e casmurro capitão de Ipanema, o cantor melancólico de
Cachoeiro de Itapemirim, o sabiá da crônica... Conheci Rubem Braga a vida
inteira. Li Rubem Braga a vida inteira. Foi, sem dúvida, o ser humano que mais
admirei a vida inteira.”
SEIS
Luiz Garcia, crônica Magra Terça-feira, fl.7, O Globo, 28.02.2006: “Ora porque
ele inventou a crônica da falta de assunto. Encarava a página em branco (para os
mais novos, página é o que hoje chamamos de tela) e partia cavalgando em todas
as direções, aparentemente sem rumo nem propósito. Mas sempre chegava ao fim do
espaço determinado, com arte e graça.”... “Rubem tinha má dicção, no que parecia
com o Castelinho (o Castelo Branco que durante anos foi o maior nome da crônica
política nacional). Ambos falavam mais para dentro do que para fora. Um dia,
garoto ainda, vi-os num jantar, sentados a metros de distância um do outro:
dialogaram horas, e quase ninguém entendia patavina. Certamente disseram coisas
de alta relevância – mas para a platéia hipnotizada, era como se fosse uma
conversa de fanhos....”
SETE
Edvaldo Pacote, jornalista da Rede Globo, depoimento a Luciano Trigo, O Globo de
21.12.1990: “O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma
pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo
para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as
mulheres.”...
OITO
Affonso Romano de Sant´Anna, na crônica Rubem, o passarinho: “Era um econômico
em termos de palavras. Aí está a explicação melhor para o seu estilo. Quem com
ele convivia teve que aprender a conversar com ele ao seu modo. Ou seja: ele não
falava em linha reta. Fazia grandes silêncios, ficava com o ar de que não estava
nem ali e, de repente, soltava uma frase que arrematava ironicamente tudo.”...
“Todos sabiam que ele era meio esquisito ao telefone. Ligava, ia conversando,
falando as coisas e, de repente, achando que já tinha dito e ouvido o que
queria, se despedia abruptamente deixando o outro no ar.” (O Globo, 23.12.1990).
NOVE
Maciel de Aguiar, escritor residente no Porto de São Mateus, ES, confessa, na
crônica “O cadáver sou eu”, publicada na Gazeta de Vitória e transcrita no
jornal-revista Sete Dias, de Cachoeiro, em 14.01.2006...”Mas não tinha jeito,
ele era mesmo carrancudo, intragável aos estranhos, monossilábico nas respostas
e fazia questão de não arredar pé dessa posição.”
(continua)
(22 de janeiro/2011)
CooJornal
no 719