01/06/2022
Ano 25
Número 1.274






ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Enéas Athanázio


VARGAS VILA

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal


Na minha casa de Piçarras deparei com alguns livros de Vargas Vila (1860/1933), escritor que foi dos mais lidos no Brasil na segunda metade do Século XX. Suas obras eram publicadas pela extinta Editora Prometeu, de São Paulo, em papel grosso e amarelado, com sobrecapas berrantes e coloridas. Foi um escritor incansável, exercitando quase todos os gêneros e produziu uma obra imensa. Embora autodidata, foi jornalista, professor, político e diplomata, além de orador de grandes dotes. Viveu em vários países mas não se deu bem em alguns deles.

Espírito inquieto e revolucionário, segundo seus biógrafos, aos 16 anos já participava de uma revolução na Colômbia, seu país natal. Derrotado, foi forçado a se refugiar no remoto interior. Mais tarde residiu na Venezuela, na Espanha e nos Estados Unidos. Teve que se exilar para não ser preso e parece que foi expulso de Nova York por ter escrito que os ianques são os maiores inimigos dos latino-americanos, o que constitui inegável verdade. Passou longas temporadas em Paris e Madri, fixando-se depois em Barcelona, onde viria a falecer, vítima de breve enfermidade. No Vaticano, onde ocupou um cargo diplomático, recusou-se a ajoelhar aos pés do Papa Leão XIII, alegando que nenhum homem deve jamais se ajoelhar diante de outro. Foi considerado persona non grata e teve que buscar outros ares. Com o passar do tempo foi aprimorando o pensamento revolucionário chegando a beirar o anarquismo científico, como ele próprio admitia. Intérpretes de sua obra aproximam seu pensamento ao existencialismo de Kirkgaard. Anticatólico e anticlerical ao extremo, professava um ateísmo explícito que conflitava com o Divino e isso tudo se revela de forma clara nas suas obras. Em 1900 foi excomungado pela Santa Sé em virtude da publicação do romance “Ibis”. A impressão que fica é de que não deu a mínima importância.

Envolvido em quanta “revolução” eclodia na Latino América, num período histórico em que golpes militares e “pronunciamentos” se sucediam, Vila lutava e escrevia como um desesperado. Seus panfletos políticos repercutiam, os ensaios eram debatidos e os romances tinham grande aceitação, inclusive no Brasil. Os romances chegavam a numerosas edições. Não obstante, hoje está completamente esquecido.

Editou várias revistas literárias, sempre com boa aceitação, A relação de suas obras é impressionante; creio que ultrapassam as duzentas. No Brasil muitas foram editadas, quase sempre em tradução de Galvão de Queiroz, tradutor que verteu incontáveis livros para o português. Segundo a editora, foram publicadas entre nós:
“Ibis”
“Flor do Lodo”
“Lírio Branco”
“Lírio Vermelho”
“Lírio Negro”
“A Loucura de Job”
“A Semente”
“O Caminho do Triunfo”
“A Conquista de Bizâncio”
“Aurora Rubra”
“O Rosal Pensante”
“Os Farias”
“Salomé”
“Aura, ou As Violetas”
“O Minotauro”

Diversas delas mereceram mais de uma edições brasileiras. Embora “Ibis” seja o mais famoso entre os romances, “A Conquista de Bizâncio” me impressionou mais.

Em Nova York, Vila conviveu com o poeta e revolucionário cubano José Marti, homem de vasta cultura, de quem se tornou grande amigo. Tudo indica que foi uma relação benéfica no sentido cultural.

A vida e a obra de Vargas Vila são de uma riqueza existencial espantosa. Nelas a realidade e a ficção se envolvem de tal forma que é difícil separá-las.

To be continued, como dizem os americanos.
 


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Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC





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