02/06/2007
Ano 11 - Número 531
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
LITERATURA DE CORDEL
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A literatura de cordel ganhou tal nome por serem os folhetos com poesias
populares expostos, nas feiras e mercados, acavalados sobre cordões
estendidos, semelhando bandeirolas. Existe aqui no sul geral
desconhecimento do gênero e, às vezes, certa reserva por se tratar de
produção eminentemente popular. O desinteresse, no entanto, não se
justifica porque esse gênero literário veio com as naus cabralinas da
Europa, onde já era uma das mais antigas manifestações poéticas do povo, e
aqui entre nós se desenvolveu de forma admirável, tanto em qualidade como
em quantidade, sendo publicados incontáveis cordéis com poesias de poetas
da melhor qualidade. Existe em Porto Alegre a Academia Gaúcha de Poetas de
Cordel, muito ativa, a única de que tenho conhecimento na região sul.
Os folhetos, em regra, são impressos em papel jornal nas tipografias
tradicionais, às vezes de fundo de quintal. Segundo a tradição, costumam
trazer a capa ilustrada com clichê, gravura ou xilogravura alusivo ao tema
tratado. São em geral do mesmo tamanho e pouco volumosos, o que os torna
baratos e de fácil aquisição. Muitos de seus autores – cantadores,
repentistas e poetas populares – se tornaram celebridades e viveram sempre
dos rendimentos de sua produção poética, além de apresentações em eventos
públicos, declamando ao som de suas violas. Patativa do Assaré, hoje
reconhecido como um dos maiores poetas populares do país pela melhor
crítica, inclusive do exterior, tem parte de sua obra catalogada como
literatura de cordel. Meu amigo Paulo Nunes Batista, homem erudito,
acadêmico, autor de vasta obra, sobreviveu durante anos como cantador de
versos em praça pública. Manoel Monteiro da Silva é dos mais renomados
poetas populares, batalhando há anos pela edificação do “Memorial do Poeta
Popular.”
Sobre literatura de cordel existe extensa bibliografia e ela foi objeto do
estudo de pesquisadores de grande renome, entre eles o folclorista Luís da
Câmara Cascudo. Livros teóricos, ensaios, teses, monografias e artigos
sobre o assunto são inumeráveis. Estabeleceu-se uma classificação dos
folhetos, dividindo-os em dezenove categorias, cada qual com suas
subdivisões: peleja, marcos, histórias populares, histórias verídicas,
fabulação, gracejos, religião, profecias, avisos, castigos, política,
reportagens, heroísmo, proezas, miscelânea, profanação, depravação,
conselhos e escândalos. A infinita criatividade dos poetas aborda os mais
incríveis temas, atuais e antigos, nacionais e estrangeiros, com muito
humor e sabedoria popular. Às vezes assume a condição de verdadeiro
manifesto. Abundam os chamados “ABCs”, cantando em versos colocados em
ordem alfabética a personalidade ou o assunto retratado. Rodolfo Coelho
Cavalcante (baiano), Hildemar de Araújo Costa (baiano) e Paulo Nunes
Batista (paraibano) me honraram com esse tipo de cordel. João Bandeira de
Caldas (cearense) enviou-me uma carta em forma de cordel. Folhetos famosos
são vendidos em grandes tiragens, suas edições se sucedem, e aqueles que
se tornam raros são procurados pelos colecionadores e adquirem elevado
preço.
José Alves Sobrinho, poeta popular, cantador durante anos, é um profundo
estudioso do assunto. Seu livro “Cantadores, Repentistas e Poetas
Populares” é um manancial de informações sobre o assunto e merece a
leitura dos interessados. (Contatos com o autor: Caixa Postal 10119 – Cep
58109-970 – Campina Grande/PB).
(02 de junho/2007)
CooJornal no 531
Enéas Athanázio,
escritor e Promotor da Justiça catarinense (aposentado)
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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