10/02/2007
Ano 10 - Número 515


 

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Enéas Athanázio


 

A AMAZÔNIA BRASILEIRA

 

O conhecido jornalista Reis de Souza, do Rio de Janeiro, cujos artigos aparecem em jornais de nosso Estado, acaba de apresentar substanciosa comunicação como subsídio à campanha em defesa da Amazônia que, aos poucos, toma vulto no país. Esse trabalho está na mesma linha dos que tenho publicado nesta coluna, confirmando que são reais os riscos de perda daquela região, fato nem sempre aceito pelas pessoas e que a mídia nacional não tem tratado com a relevância merecida.

A região amazônica nacional é integrada pelos Estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá e Tocantins, totalizando a área de 3.581 km2, o que equivale a 42,07% do território nacional, ou seja, quase metade do total. Vivem na região 7.625.500 habitantes, população superior à de inúmeros países. A região abriga 33% das florestas tropicais do mundo, com uma flora imensa e variada, em sua maior parte ainda não estudada, e cerca de 30% das espécies conhecidas da fauna. Os recursos minerais existentes são incalculáveis, a área própria para o cultivo propiciaria a produção de alimentos em quantidade que fariam dela o celeiro do mundo e por lá corre o maior rio do mundo, centralizando uma bacia hidrográfica sem igual, com incontáveis afluentes, lagos, igapós e igarapés que contêm a maior reserva mundial de água doce. Todos esses dados e muitos outros estão expostos com meridiana clareza na referida comunicação. Por tudo isso, a Amazônia é considerada “o pulmão do mundo”, para usar a surrada definição, e tem sido objeto da cobiça internacional.

Não é de hoje, porém, a exploração desenfreada daquela região, agravada nos últimos tempos pelo avanço incontido da fronteira agropecuária, substituindo a floresta por lavouras e pastagens. A quantidade de focos de incêndio nas matas é impressionante e a região permanece muito tempo submersa em intensa nuvem de fumaça. Além dessa exploração predatória, aventureiros de todos os tipos agem com liberdade, traficando espécies vegetais e animais, pesquisando em benefício próprio e levando para fora os resultados sem qualquer controle. A incursão de cultos exóticos e seus pastores, quase sempre estrangeiros, é permanente. Tudo isso configura uma desnacionalização com a qual já se preocupava o jurista e escritor catarinense Osny Duarte Pereira, em livro de 1948, e o bravo jornalista português Alfredo Nascimento, nos anos 1990, em livro estarrecedor. Por outro lado, o violento ataque à floresta por meio das queimadas e da depredação tem aumentado sem cessar e os resultados são visíveis em toda parte. Em minhas andanças pela região, fiquei chocado com o que vi.

Agora, porém, as coisas se agravam. Na esteira das declarações pela internacionalização da região, subtraindo-a da soberania nacional, formam-se grupos pelo mundo a fora com o objetivo de coletar recursos com essa finalidade. Fala-se na criação de um “estado ianomâmi”, adquirem-se vastas áreas por particulares, cogita-se da criação de consórcios para suprir nossa incapacidade de administrar a região. Tudo é feito às claras, aos olhos de todos, contando com a indiferença geral e muitas vezes com o apoio de interesses políticos poderosos, propinas, subornos, tráfico de influência e outras mezinhas que tão bem conhecemos.

É um brado contra isso tudo que Reis de Souza faz ecoar pelo país, em defesa de seus mais legítimos interesses, e que aqui tento reproduzir como forma de apoiá-lo pela iniciativa. Antes que seja tarde.



(10 de fevereiro/2007)
CooJornal no 515


Enéas Athanázio,
escritor e Promotor da Justiça catarinense (aposentado)
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC