15/03/2017
Ano 20 - Número 1.021

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CARLOS TRIGUEIRO

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Carlos Trigueiro



O óbito do dramaturgo em 8 ½ dimensões

Carlos Trigueiro - CooJornal



(6ª Dimensão)


DEFUNTO (Elucubrando): O vizinho que me socorreu está se lixando se fui ou deixei de ser dramaturgo! E há um par de horas éramos contemporâneos. Acho que ele nunca foi ao teatro. Bastou-lhe sempre a peça que a vida prega. Provavelmente, ele vale pelo que consome, e eu, pelo que materialmente acumulei, casando com mulheres burguesas ou não, escrevendo e montando peças teatrais, ou especulando negócios rendosos tipo a nova peça que estava ensaiando: “Brasil, país da corrupção olímpica.”. Para obter sucesso é preciso arvorar negócios da moda e manter sincronia com os ditames dos partidos políticos e famílias dominantes. Agora entendo porque os amigos diziam que eu era coxinha e chorava de barriga cheia!

LAO-TSÉ (Vulto falando, ou sabe-se lá...): “Quanto maior o número de leis, tanto maior o número de ladrões”.

CARL JUNG (Vulto falando, ou sabe-se lá...): “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta.”.

ERNST HEMINGWAY (Vulto falando ou sabe-se lá...): “Sua perspectiva será muito melhor que a minha.”

DEFUNTO (Elucubrando...): Sob o ponto de vista do mercado, sou agora um fardo barroco, mercadoria antiga em processo de consumo final. Daqui a pouco chegarão os técnicos no trato com a morte, meus dados pessoais e fisiológicos serão tratados por aplicativos e softwares específicos. De dramaturgo passarei a mera constelação semiótica criptografada! Vão me transformar noutra variação de energia a mover-se no tempo e espaço. Quanto cinismo!
Nesses momentos dramáticos, todos diminuem a louca corrida da vida, meditam sobre a morte e concluem que falecimento é tragédia em único ato, ou melhor, em única dimensão. Não entendem ser a vida peça exclusiva, quase sempre montada às pressas, raramente bem interpretada, muitas vezes entendida como tragédia sem finalidade.

ARISTÓTELES (Vulto falando ou sabe-se lá....): “A finalidade da Tragédia é provocar a catarse”.

SERTANEJO (Vulto que – em vida – morreu faminto): Tragédia é cozinhar calango, ao molho de xiquexique, beber água de cacimba, esperar a chuva que nunca virá, e morrer ao som da viola com as cordas retorcidas...

EUCLYDES DA CUNHA (Vulto falando ou sabe-se lá...): Catarse é deglutir o calango e lamber os beiços!

SÊNECA (Vulto falando ou sabe-se lá...): “Devemos nos cuidar não para viver muito, mas para viver bastante.”

NIETZSCHE (Vulto falando, ou sabe-se lá...): “Temos a arte para não morrer da verdade.”.

RUI BARBOSA (Vulto falando, ou sabe-se lá...): “A morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima.”.





Extraído do livro "HISTÓRIAS TIPO ASSIM: WHATS-au-au-APP",
selo IMPRIMATUR, Ed. 7Letras.

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Comentários sobre o texto podem ser encaminhados ao autor, no email
carlostrigueiro@globo.com


(15 de março/2017)
CooJornal nº 1.021


Carlos Trigueiro é escritor e poeta
Pós-graduado em "Disciplinas Bancárias".
Prêmio Malba Tahan (1999), categoria contos, da Academia Carioca de Letras/União Brasileira de Escritores para “O Livro dos Ciúmes” (Editora Record), bem como o Prêmio Adonias Filho (2000), categoria romance, para “O Livro dos Desmandamentos” (Editora Bertrand Brasil). RJ
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www.carlostrigueiro.art.br



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