16/03/2024
Ano 25
Semana 1.359

 




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Conversa

com o paciente



 

 


 

Estupefato


Dr. Pedro Franco



Mais moço pensava que idosos, devido às experiências vividas ou sabidas, perdiam a capacidade de espantarem-se. Veio a velhice, que tento encarar da melhor forma e com ânimo, e para tal há família e amigos, e eis que escrevo crônica para dizer que estou estupefato, tanto que me permito escrever estupefacto, como outrora se grafava. E com o quê? Primeiro vou ao futebol para dar exemplo invertido. Pensam que vou falar de salários estapafúrdios, ou da falta de um armador no meu Fluminense? Escrevo em 03/11/2013, antes de um Fla Flu, importantíssimo para o que fascinava pela sua disciplina e hoje no brasileirão é o time com mais jogadores expulsos. Não vim à digitação para falar diretamente no tricolor. Vim falar da paixão tricolor. Hoje o Fluminense está na primeira divisão (Será que continua? O ano passado foi de glórias?), mas há vários campeonatos atrás foi à segunda divisão e chegou à terceira divisão. Que ridículo! Deixei de ser Fluminense? Confesso que fui até mais interessado e mais preocupado do que o bom senso aconselhava. Então aceito que em futebol, amplie-se, em esportes em geral, para agradar as massas, uma vez Flamengo, sempre Flamengo. Ninguém vai mudar de paixão clubística porque seu clube vai mal, está perdendo. Eu uma vez Fluminense, sempre Fluminense e que sejam assim também vascaínos e botafoguenses. Saíamos do futebol e oh tristeza, adentremos à política. Deixo exemplos ao leitor, até porque não tenho parâmetros de qualidade no momento e meu voto no menos ruim está perigando de defesa. E vamos ao que me deixa estupefato. Não é um indivíduo ser de determinado partido, só que este partido assume o governo, federal, ou estadual e seus elementos não honram o que pregaram, aparecem escândalos, que tentam encobrir, governantes probos defendem corruptos e aquele indivíduo que conheço, que sei correto, bem pensante, não só continua no uma vez um clube, sempre aquele clube, faz a defesa dos errados com argumentos que sempre combateu. Sei que continua honesto, quer ser patriota, não está em boquinhas. Aferra-se às passadas convicções porque não quer dar o braço a torcer. Chega a pôr a culpa em quem se opõe às maroteiras, às "eleitorices" e com veemência, desdizendo tudo o que já disse e até com desfaçatez, deixando o fraterno diálogo impossível. O mesmo acontece na política internacional. Países pregam democracia e em nome desta vivem em total ditadura, ou quebrando conceitos internacionais de boa convivência e respeito pela soberania de outras nações. Chegam estas nações a culpar nações de conceitos antagônicos por tudo de mal que gerenciam, por seu desgoverno e com total falta de compromisso com argumentos honestos. Estou simplificando? Sei que estou, mas se espremermos certas situações governamentais e mesmo estaduais, ou de países e os há de todos os matizes e portes econômicos, vamos encontrar contradições flagrantes até de suas próprias normas constitucionais. Enfim um velho médico, que não faz política, apenas vive, está estupefato. Confesso que não gostaria de “ser aquela metamorfose ambulante”, da qual nos falava Raul Seixas, ou pessoa que muda de ideia a toda hora. Só que não sei defender ideias com as quais não mais compactuo e nem desejo passar a discutir, brigando com a razão e com o bom senso pregresso. Alguém mais está estupefato, ou estou em bloco do eu sozinho? "Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo..." 



Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra