16/01/2024
Ano 27
Semana 1.351

 




Arquivo

Conversa

com o paciente



 

 


 

Divórcios e congêneres



Dr. Pedro Franco


E vou falar de separações de casais, mais comuns na atualidade do que ocorridas cinquenta anos atrás. E, sendo cardiologista, vai entrar por campo minado e que nada tem com sua especialidade? Separações têm a ver com qualquer especialidade. A regra é serem semelhantes a guerras e raras, raríssimas, se não chegam à guerra, os que se separaram, estabelecem guerrilhas e por da cá aquela palha. Logicamente que os ex-cônjuges raramente não sofrem, ainda que, quando acabem os percalços judiciais, alguns digam uff, livrei-me dele ou dela. Em maioria os dois sofrem, que não se casaram para descasar. Muitas vezes o amorômetro, que bolei, para aquilatar o amor entre duas pessoas, aparelho inteiramente descabido e falho, porque quantificar amor é difícil e já é até defini-lo. Só que vejo nos descasamentos um com reliqua de 93% e, outro, que pouco sofre, com 3,7%. Se estavam em meso a meso e com marcas acima de 80%, dificilmente vão ao divórcio, que o amor, apesar dos percalços da vida, é forte. E no consultório encontro divorciados com sintomas novos, arritmias, hipertensões arteriais, insônias, alterações abruptas de peso, outros sintomas e de outras especialidades. Então antes de casar, que tal perceber se o sentimento é firme e a vida a dois pode e merece ser vivida. Não caiam na esparrela de confundir paixão com amor. Defina-os? Estou fora de tentar definições, ainda que julgue que no amor caiba paixão e se possível deve haver e ainda que amor requeira mais que momentos agudos. E já como pessoa, quando me deparo com divórcios, quero saber se há filhos no meio do imbróglio. Há. Filhos não pedem para nascer. Vocês dois são responsáveis inclusive pela saúde mental deles e crianças não sabem dividir lealdades. Nada de guerras, guerrilhas e nem ameaças. Vocês, dois cabeças de vento, têm o dever de preservar a, ou as, crianças e de todas as formas. Virem-se. Não são mais protagonistas, são coautores e cuja missão agora é preservar as crianças. E não só vocês, também toda a Família e não me venham com mais mais, isto e aquilo. Juízo, caridade, amor ao filho, demonstrado com ações e não com desculpas. Chega de fulano fez isto, sicrana fez aquilo. E no consultório vejo filhos de pais separados. Paro por aqui. Não se brinca com a vida de quem nasceu por nossa causa e conta. Então sou contra descasamentos? Brigas em casa, ambientes de atritos, são também deletérios para as crianças. Só que o principal da separação é a criança, a saúde física e mental da criança. A situação por si já é ruim, não a agrave.


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

 __________________________

Direção e Editoria
Irene Serra