16/09/2023
Ano 26
Semana 1.335

 




Arquivo

Conversa

com o paciente



 

 


 

Ler e horários



Dr. Pedro Franco


É de Monteiro Lobato, um dos meus ídolos, a frase “Um País se faz com homens e livros”. De inicio vale afirmar que o escritor não estava excluindo as mulheres. O termo homem foi genérico. E leitura é importante, ainda que muitos não gostem de ler recomendações. Conto que lateralmente, em minha receita médica, a rotineira, há nove recomendações, telegráficas e, segundo minha aferição, a maioria dos clientes só lê a receita de próprio punho, onde estão remédios e dietas. As nove listadas na vertical impressas raramente são lidas. Vou me reportar a duas, que muito interessam no relacionamento do binômio paciente médico. Ei-las: A sétima é: Aconselho que chegue vinte minutos antes do horário marcado, para não se atrasar, ou chegar com o coração acelerado. Se a necessária orientação não é seguida, há taquicardia, pressão arterial mais alta e até arritmia cardíaca. Duas desculpas são usuais. Trânsito ruim. Quem mora do Rio sabe disso e, pois, deve contar com as demoras do trânsito. A segunda desculpa é pior. Todos os médicos atrasam. Não sou todos os médicos e ainda que não me julgue diferente dos da classe, sou pontual. Quem me esperar dez minutos além da hora marcada, o fato se deveu ao estado de saúde do cliente anterior. Até porque não faço encaixes. O encaixe prejudica os dois marcados e o encaixado. E se o paciente anterior se atrasou? Se o atraso for por mais de 10 minutos, não é atendido e remarca a consulta. Para bem atender, é assim que funciona. Estou abordando o assunto de forma genérica, de forma conceitual, seguindo regras, que não excluem o bom senso. E tenho ao meu favor e com mais de cinquenta anos de consultório, que em grande maioria os pacientes aplaudem e comentam positivamente a observância de horários. Medicina precisa de tempo, de calma, de exames e conversas. Consultas de dez minutos nem merecem comentários e se algum colega põe carapuça, a culpa não me cabe e sim a profissão que escolhemos. Escolhemos arte ciência complicada e cada vez mais a arte médica tem que lutar com os novos tempos e suas correrias. E vale frisar que as urgências médicas devem ser atendidas nos serviços especializados e a regra é o consultório não estar preparado para as mesmas. A recomendação nove se imbrica com a sete e diz. Mas antes da mesma uma ponderação. E se o paciente passa mal e os horários estão ocupados? Se for de fato urgência, atendo antes do primeiro horário. Ou depois do último e com o mesmo tempo normal. Nona regra. Para cumprir o horário, dependo da sua pontualidade e atenção. Acredito que em linhas gerais abordei um problema crucial dos consultórios e através os tempos as dificuldades relacionadas aos horários têm se agravado, ainda que em prol da saúde horários precisem ser estudados e resolvidos, o que só acontecerá se todos os relacionados ao sistema saúde atentem para as necessidades médicas, que são as dos pacientes.


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra