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Ler e horários
Dr. Pedro Franco
É de Monteiro Lobato, um dos meus ídolos, a
frase “Um País se faz com homens e livros”. De inicio vale afirmar que o
escritor não estava excluindo as mulheres. O termo homem foi genérico. E
leitura é importante, ainda que muitos não gostem de ler recomendações.
Conto que lateralmente, em minha receita médica, a rotineira, há nove
recomendações, telegráficas e, segundo minha aferição, a maioria dos
clientes só lê a receita de próprio punho, onde estão remédios e dietas. As
nove listadas na vertical impressas raramente são lidas. Vou me reportar a
duas, que muito interessam no relacionamento do binômio paciente médico.
Ei-las: A sétima é: Aconselho que chegue vinte minutos antes do horário
marcado, para não se atrasar, ou chegar com o coração acelerado. Se a
necessária orientação não é seguida, há taquicardia, pressão arterial mais
alta e até arritmia cardíaca. Duas desculpas são usuais. Trânsito ruim. Quem
mora do Rio sabe disso e, pois, deve contar com as demoras do trânsito. A
segunda desculpa é pior. Todos os médicos atrasam. Não sou todos os médicos
e ainda que não me julgue diferente dos da classe, sou pontual. Quem me
esperar dez minutos além da hora marcada, o fato se deveu ao estado de
saúde do cliente anterior. Até porque não faço encaixes. O encaixe prejudica
os dois marcados e o encaixado. E se o paciente anterior se atrasou? Se o
atraso for por mais de 10 minutos, não é atendido e remarca a consulta. Para
bem atender, é assim que funciona. Estou abordando o assunto de forma
genérica, de forma conceitual, seguindo regras, que não excluem o bom senso.
E tenho ao meu favor e com mais de cinquenta anos de consultório, que em
grande maioria os pacientes aplaudem e comentam positivamente a observância
de horários. Medicina precisa de tempo, de calma, de exames e conversas.
Consultas de dez minutos nem merecem comentários e se algum colega põe
carapuça, a culpa não me cabe e sim a profissão que escolhemos. Escolhemos
arte ciência complicada e cada vez mais a arte médica tem que lutar com os
novos tempos e suas correrias. E vale frisar que as urgências médicas devem
ser atendidas nos serviços especializados e a regra é o consultório não
estar preparado para as mesmas. A recomendação nove se imbrica com a sete e
diz. Mas antes da mesma uma ponderação. E se o paciente passa mal e os
horários estão ocupados? Se for de fato urgência, atendo antes do primeiro
horário. Ou depois do último e com o mesmo tempo normal. Nona regra. Para
cumprir o horário, dependo da sua pontualidade e atenção. Acredito que em
linhas gerais abordei um problema crucial dos consultórios e através os
tempos as dificuldades relacionadas aos horários têm se agravado, ainda que
em prol da saúde horários precisem ser estudados e resolvidos, o que só
acontecerá se todos os relacionados ao sistema saúde atentem para as
necessidades médicas, que são as dos pacientes.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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