16/04/2022
Ano 25
Semana 1.268

 




Arquivo

Conversa

com o paciente



 

 


 

A “sinistrose”, os pacientes e a Covid



Pedro Franco



Digamos que a "sinistrose" é o arauto boateiro do pessimismo, ou a deterioração do otimismo e da esperança.

Posso constatar, como médico, que a "sinistrose" se abateu sobre alguns clientes. Só leem e veem o triste, o violento, o ruim. E como há muito de péssimo para ler e saber, ficam cada vez mais medrosos e temerosos e passam a se nutrir do medo e do terror, não vivendo então, e tendo agravados seus problemas físicos. E são palpitações, anginas, gastrites, crises hipertensivas, ansiedades, insônias, pesadelos, dispneias etc. Não querem sair ou andar, não se divertem e murcham.

Ninguém vai aconselhar a bancarem avestruzes; a enterrarem cabeça na areia, para não verem o que ocorre, o que de mal ocorre. Nem há areia para tanto. Daí a só lerem sobre violência, inflação, ou doença social vai uma distância muito grande. O masoquismo não me parece aconselhável, principalmente para os enfermos. Exemplifico: tenho pacientes, principalmente senhoras, que moram sós, hábito que não aconselho, mas que, às vezes, é inevitável. Temem ser assaltadas e se previnem com trancas alarmes, visores, etc. Até aí tudo bem. Rezam muito. Melhor ainda. Passam a só ler, ouvir, ver tudo aquilo que se relaciona com crimes ou Covid. Correm ávidas às páginas dos jornais, onde se descrevem os crimes; nas casas e nas ruas, procuram os telejornais e os programas de rádio onde a matéria é amplamente detalhada e, principalmente, trocam, como assunto básico, único e principal com as companheiras de solidão, as informações colhidas em rádios, jornais, televisões, ou mesmo na vizinhança.

Antigamente vi tal fenômeno ocorrer em relação às doenças, agora ocorrem e se nutrem da violência, da "sinistrose". E assim não há saúde que aguente! Colocadas as trancas, não leiam sobre crimes e desgraças, guerras e roubos. Procurem a sessão de cinema, teatro, quebra-cabeças, literatura, música, esportes. Vejam novelas e séries amenas, ouçam música, leiam, tricotem, trabalhem para a caridade, preencham seu tempo com otimismo ou, pelo menos, não façam do ruim o seu único passatempo, pois o violento e a Covid não são passatempo, são mata tempo, ou mata vida, creiam.

E mais cuidado: vem eleição e suas fake news.



Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra