01/12/2021
Ano 24
Semana 1.250

 


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A saúde e o dinheiro


Pedro Franco


- É melhor chorar em um Jaguar, do que em um bonde. (Françoise Sagan).
- A pobreza não tem dignidade. (Charles Chaplin).

A escritora colocou a frase na boca de um de seus personagens, o genial cineasta falava da internação final de sua mãe. Aparentemente os dois estariam cobertos de razão, se olharmos os pensamentos sob uma ótica eminentemente materialista. Há que reconhecer também que, em determinadas situações, o amparo financeiro minimiza os problemas. A hora das enfermidades graves o exemplo mais palpável.

Mas qual a relação entre a saúde e o dinheiro? A que conclusões quer chegar o "Assuntos Assistenciais" de hoje? Como doutrina de vida, nossa conclusão inteiramente diferente à induzida pelo introito do artigo. Vejo, no dia a dia do consultório, que a excessiva valorização dos bens materiais, o esforço levado às raias da exaustão pelo sucesso financeiro, fazem mal à saúde, desgastam o indivíduo. Depois de toda uma vida norteada em determinado sentido financeiro, não há como buscar outros valores mais altos, éticos e espirituais. Foi a família que perdeu o seu chefe, para ter o homem que lhe ganha o dinheiro. Perdem os valores morais pela posição, pelo "status". Anoto ainda que determinadas mães de família esqueceram as suas primordiais funções no lar (não estou falando em permanecer o dia inteiro no lar) e passaram a viver, exclusivamente, para as suas profissões. E com esta distorção, acabam por perder o equilíbrio interior e, por fim, a saúde.

Todo o bem material tem um preço. É necessário se saber se o que é dado em pagamento, em outros valores, é compatível com o que se adquire. Não temos uma saúde física e uma saúde mental, como compartimentos estanques. Já nos basta a soma de agressões externas, que recebemos pela vida afora. É necessário saber se o prego do Jaguar, apresentado simbolicamente pela escritora, não limpou as nossas reservas éticas, morais e físicas.

Em contrapartida, estou inteiramente de acordo com a ideia de que certo grau de ambição é benéfica ao indivíduo. Não  podemos deixar que o meio se transforme em meta e o preço pago pelo dinheiro venha a ser o caminho da infelicidade, pela destruição da saúde psicossomática.


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ

 

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