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Francisca Raimunda Pereira da Silva
Mundinha do Zíper
Nas
décadas de 1960 a 1980, qual homem não teve, ao menos uma vez, a agonizante experiência de, ao
puxar o zíper (ou fecho ecler) para fechar ou abrir a calça, prender, neste
processo, a pele do pênis ou do saco?
O problema era tão sério que gerou
debates após relatos de mutilações que foram noticiados; e o zíper, apesar de um
artefato prático, estava prestes a ser banido por suas sequelas nocivas, da
mesma forma que o amianto.
A indústria da moda, sem sucesso, lutava para
criar um meio de evitar que o zíper enganchasse na genitália masculina. Foi quando uma
humilde costureira cearense de Tamboril, Dona Mundinha, analfabeta, teve a ideia
de colocar um pedaço de tecido entre o zíper e a parte interna da calça de seu
marido, seu Anastácio (Tacim Zovão), que frequentemente sofria “acidentes” por
conta de uma caxumba que o deixou com formas despropositadas. Logo, o
“salva-rola”, como apelidaram a peça, fez sucesso em Tamboril. Encomendas não
paravam de chegar e chamaram a atenção de pesquisadores. Logo, Fortaleza, São
Paulo, Paris, Milão e Nova York contavam com o “tecido milagroso” em suas
vestimentas. Como nunca patenteou seu feito, houve a perda de uma fortuna em
royalties para o Brasil.
Dona Mundinha morreu em 2001. Pobre e esquecida. Pior. Foi
vítima de ingratidão por meio de chacotas constantes, como o apelido de Mundinha
Salva-Rola denota. “Quisera nunca ter inventado isso e esse bando de fela da
puta morresse com gangrena na chibata depois de enganchar no zíper”, disse,
certa feita.
O escritor e pesquisador Pedro
Salgueiro ainda resgatou a história de Mundinha e tentou seu reconhecimento,
enviando documentação até para Estocolmo, mas não houve acolhida à sua
pretensão.

Direção e Editoria
Irene Serra
irene@revistariototal.com.br

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