01/05/2025
Ano 28
Semana 1.415





Arquivo





Francisca Raimunda Pereira da Silva
Mundinha do Zíper


Nas décadas de 1960 a 1980, qual homem não teve, ao menos uma vez, a agonizante experiência de, ao puxar o zíper (ou fecho ecler) para fechar ou abrir a calça, prender, neste processo, a pele do pênis ou do saco?

O problema era tão sério que gerou debates após relatos de mutilações que foram noticiados; e o zíper, apesar de um artefato prático, estava prestes a ser banido por suas sequelas nocivas, da mesma forma que o amianto.

A indústria da moda, sem sucesso, lutava para criar um meio de evitar que o zíper enganchasse na genitália masculina. Foi quando uma humilde costureira cearense de Tamboril, Dona Mundinha, analfabeta, teve a ideia de colocar um pedaço de tecido entre o zíper e a parte interna da calça de seu marido, seu Anastácio (Tacim Zovão), que frequentemente sofria “acidentes” por conta de uma caxumba que o deixou com formas despropositadas. Logo, o “salva-rola”, como apelidaram a peça, fez sucesso em Tamboril. Encomendas não paravam de chegar e chamaram a atenção de pesquisadores. Logo, Fortaleza, São Paulo, Paris, Milão e Nova York contavam com o “tecido milagroso” em suas vestimentas. Como nunca patenteou seu feito, houve a perda de uma fortuna em royalties para o Brasil.

Dona Mundinha morreu em 2001. Pobre e esquecida. Pior. Foi vítima de ingratidão por meio de chacotas constantes, como o apelido de Mundinha Salva-Rola denota. “Quisera nunca ter inventado isso e esse bando de fela da puta morresse com gangrena na chibata depois de enganchar no zíper”, disse, certa feita.

O escritor e pesquisador Pedro Salgueiro ainda resgatou a história de Mundinha e tentou seu reconhecimento, enviando documentação até para Estocolmo, mas não houve acolhida à sua pretensão.





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