Ano 24 - Semana 1.220

 
ARQUIVO de MÚSICA




1º de maio, 2021

Roberto Carlos – 80 anos




Cândido Luiz de Lima Fernandes



Roberto Carlos Braga nasceu no dia 19 de abril de 1941, em Cachoeiro do Itapemirim (ES). Desde pequeno mostrava gosto pela música, tinha aulas de violão e piano, além de sempre ouvir o rádio, onde estrearia aos 9 anos, cantando o bolero “Amor y más amor” no “Programa Infantil” da estação da Rádio Cachoeiro. No fim dos anos 50, se mudou para a casa de uma tia, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, e ingressou na cena musical carioca com o grupo The Sputniks, formado pelo cantor Tim Maia.

Em 1957 foi convidado a se apresentar na TV Tupi. Entoando a canção “Tutti Frutti”, do cantor americano Little Richard, um do expoentes do rock n’ roll, e sentado em uma lambreta, Roberto dava o tom da Jovem Guarda, linguagem musical e estilo de comportamento que inauguraria no início dos anos 60. No mesmo ano, o apresentador da emissora Carlos Imperial o chamaria de "Elvis Presley brasileiro".

Ao lado de Tremendão e Ternurinha, como eram apelidados Erasmo Carlos, seu grande parceiro, e Wanderléa, que ditava a moda da época, cantou ao vivo no programa “Jovem Guarda”, que ficou no ar da Rede Record entre 1965 e 1968. Eles formavam a chamada Turma da Matoso, o nome da rua na Tijuca onde se reuniam, e eram motivo de um fanatismo adolescente que deu a Roberto o apelido de "Rei da juventude", ou simplesmente “Rei”. Naquele último ano, o trio estrelou o filme “Roberto Carlos em ritmo de aventura”, de Roberto Farias, onde o Rei interpretava ele mesmo e fugia de criminosos internacionais. A fórmula rendeu outras películas com o diretor, como “Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa” e “A 300 km por hora”.

Ao decidir seguir carreira solo, Roberto Carlos se firmou como cantor consagrado de músicas românticas, emplacando sucessos como “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, “Amada amante” e “Detalhes”. Esta última música foi eleita como a melhor canção de 1979 por 85 mil pessoas, em concurso promovido pelo programa Fantástico, da TV Globo. Em 1973, vendeu 820 mil unidades do LP "A Janela", firmando-se como o artista que mais vendia discos do Brasil, título que manteve por muitos anos, já que, em 1980, era tocado nas rádios brasileiras até 15 vezes por dia.

O primeiro “Especial Roberto Carlos”, show transmitido pela TV Globo no final do ano de 1974, se firmou como uma tradição da emissora, que reserva o horário nobre para uma apresentação do cantor desde então, sempre na época de festas. Em 2005, zarpou o cruzeiro “Emoções em alto mar”, projeto que tirou o cantor da sua vizinhança da Urca, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde costuma circular com sua Lamborghini, para apresentar shows navegantes ou em cidades estrangeiras, como Jerusalém e Las Vegas, em 2012 e 2014.

Na vida pessoal, o cantor não teve uma trajetória fácil. Aos seis anos, quando celebrava a festa de São Pedro, padroeiro de sua cidade, perdeu um pedaço da perna ao cair na linha do trem logo antes da passagem de uma locomotiva. Perdeu duas mulheres para o câncer, Nice Rossi, em 1990 — quando já era casado com a atriz Myriam Rios — e Maria Rita, em 1999.

Em 2015 travou uma intensa batalha judicial para proibir a biografia que o jornalista Paulo Cesar de Araújo escreveu sobre ele, ação que acabou ganhando. Suas superstições ficaram conhecidas pelo público, especialmente a de só usar as cores azul e branco na hora de se vestir. O cantor passou a proibir que outros cantores gravassem a música “O divã”, que traz lembranças do acidente de trem que sofreu e a música “Que vá tudo para o inferno”, que passou a rejeitar na fase de grande religiosidade.

Tive a oportunidade de assistir a um show do Rei no Palácio das Artes em Belo Horizonte. Era casado com Denise, cujo avô materno era tio do Roberto Carlos. Este gentilmente cedeu convites para que Denise e eu fôssemos ao show.

Na minha adolescência, quem, como eu, era ligado na turma da MPB e assistia o programa “O Fino da Bossa”, comandado por Elis Regina, não podia assistir aos programas da “Jovem Guarda” sem sofrer críticas do grupo de amigos. Eu fazia questão de assisti-los, pois as canções do Roberto me tocavam o coração. Elas tratavam de paixões e dores de amor que nos remetiam a um amor antigo ou mesmo atual. Quem não se emocionou ouvindo o Rei cantar “Detalhes”?

No dia 19 de abril de 2021 Roberto Carlos completou 80 anos, mantendo uma carreira de sucesso, com inúmeros discos e shows desde a sua juventude. Roberto Carlos é o artista solo com mais álbuns vendidos na história da música popular brasileira, tendo vendido mais de 140 milhões de cópias, incluindo gravações em espanhol, inglês, italiano e francês, em diversos países. Atualmente continua se apresentando com frequência, e estrela anualmente o especial intitulado Roberto Carlos Especial, exibido na semana do Natal pela Rede Globo. Dezenas de artistas já fizeram regravações de suas músicas, entre os quais Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia.

Vida longa ao Rei!


Cândido Luiz de Lima Fernandes é
economista e professor universitário em Belo Horizonte;
email:
candidofernandes@hotmail.com






 

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