Ano 22 - Semana 1.145

 

 
ARQUIVO de MÚSICA




16 de outubro, 2019

ORQUESTRA OURO PRETO:

um presente de Minas para o Brasil

 
Cândido de Lima Fernandes


A Orquestra Ouro Preto foi fundada no ano 2000 pelo compositor e professor Rufo Herrera, junto com o professor Ronaldo Toffolo, associados a um grupo de instrumentistas que integravam o grupo Trilos e o Quarteto Ouro Preto. É formada por 20 músicos, aos quais se agregam músicos convidados, de acordo com o repertório a ser executado. Tem atuação marcada pelo experimentalismo e ineditismo, sob os signos da excelência e da versatilidade. Levando inicialmente o nome de Orquestra Experimental da UFOP, a orquestra começou a ser organizada com músicos ligados à Universidade Federal de Ouro Preto. Tem como regente titular o maestro Rodrigo Toffolo, que também desempenha a função de diretor artístico. Seu objetivo tem sido, desde o início, o resgate da tradição musical de Ouro Preto, aliando música erudita e popular.

Considerada uma das mais prestigiadas formações orquestrais do país, a Orquestra Ouro Preto vem se apresentando nas principais salas de concerto do Brasil e de outros países, tendo sido premiada nacionalmente. Em sua trajetória, destacam-se apresentações em todo o território nacional e nas principais capitais do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, João Pessoa, Salvador, Fortaleza e Natal. No exterior, sua qualidade foi comprovada em turnês de sucesso, com presença de grande público, em apresentações na Inglaterra, Portugal, Espanha e Argentina, bem como em outros países latino-americanos, como, por exemplo, no Festival Internacional de Música Antiga de Chiquitos, na Bolívia. Em parceria com a Missão do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a Orquestra se apresentou em Portugal e na Galiza. O projeto prevê ainda concertos em Cabo Verde, Moçambique, Angola, Açores, Timor-Leste e Macau.

A Orquestra possui nove trabalhos registrados em CD e DVD: “Latinidade” (2007); “Oito Estações – Vivaldi e Piazzolla” (2013); “Valencianas: Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto” (2014); “Antonio Vivaldi – Concerto para Cordas” (2015); “Orquestra Ouro Preto – The Beatles” (2015); “Latinidade: Música para as Américas” (2016); “Música para Cinema” (2017); “O Pequeno Príncipe” (2018); e “Quem Perguntou por Mim: Fernando Brant e Milton Nascimento” (2019). Em 2005 foi gravado um documentário sobre a orquestra para a TV France 5, com difusão na Europa e no Brasil.

Em sua discografia destaca-se o Prêmio da Música Brasileira 2015, na categoria Melhor Álbum de MPB, a indicação ao Grammy Latino 2007, como Melhor Disco Instrumental por “Latinidade”, e a distribuição mundial dos discos “Latinidade – Música para as Américas” e “Antônio Vivaldi – Concerto para Cordas” pela gravadora Naxos, a mais importante do mundo dedicada à música de concerto.

Um dos espetáculos de maior sucesso da orquestra foi em parceria com o cantor pernambucano Alceu Valença, que deu origem ao disco “Valencianas.”

Outro espetáculo emocionante, a que tive oportunidade de assistir neste mês de outubro no Palácio das Artes em Belo Horizonte, foi “Quem Perguntou Por Mim”, em homenagem a Fernando Brant e Milton Nascimento. Com regência e direção musical do Maestro Rodrigo Toffolo e produção executiva e direção de cena de Paulo Rogério Lage, o espetáculo une a musicalidade da Orquestra Ouro Preto à arte de dois dos maiores nomes da cultura mineira: Fernando Brant e Milton Nascimento. “Quem Perguntou Por Mim” revive grandes clássicos da produção poética de Brant, obras imortalizadas pelas vozes de Milton Nascimento, Elis Regina e seus parceiros do Clube da Esquina, promovendo um mergulho na alma de Minas Gerais. O nome do espetáculo é uma alusão à canção homônima escrita por Brant, que, em uma madrugada, por telefone, consolava um amigo em Paris das tristezas de uma separação.

Integram o repertório deste espetáculo canções como “Travessia”, “Saudades dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)”, “Milagre dos Peixes”, “Encontros e Despedidas”, “Canção da América” e “Maria, Maria”, entre outras. Segundo o Maestro Rodrigo Toffoli, “Depois de Valencianas e The Beatles, pensávamos em realizar um novo projeto que homenageasse Minas Gerais, que captasse o sentimento da mineiridade na figura de dois grandes artistas. Fernando Brant é esse grande artista que poetizou Minas de forma transcendental como um compositor de sinfonias. E Milton Nascimento é um patrimônio da nossa cultura e leva o nome do Estado para o mundo. É a força da poesia musicada de Brant e Milton que registramos em CD e DVD”.

Uma novidade deste espetáculo é a presença da cantora Leopoldina como a “voz” da Orquestra Ouro Preto. Natural de Campos Gerais, ela conta que sua ligação com este repertório vem desde sua infância, e que chegou a viajar de trem para Três Pontas para assistir as apresentações de Milton. Segundo Leopoldina, “Aos 18 anos, desembarquei em Belo Horizonte e me deparei com Brant. Abracei-o e foi emocionante. Minha vida é permeada pela poesia de Brant. São músicas lindas e marcantes”.

Em 2018, a Orquestra Ouro Preto celebrou a maioridade e comemorou em grande estilo: foram 56 concertos em 31 cidades brasileiras. Após tantos sucessos, a temporada 2019 tem sido ainda mais surpreendente, marcada por apresentações em todo o país, novos projetos sociais e parcerias musicais.

A Academia Orquestra Ouro Preto é a principal novidade do ano. Voltada para talentos da música de concerto, a Academia selecionou 22 jovens músicos e musicistas para uma série de atividades ao longo do ano. Criada com o objetivo de fomentar a prática da música de concerto no país, a Academia é patrocinada pela SulAmérica, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (a Lei Rouanet) e já nasce como referência em Minas Gerais. Ela busca aperfeiçoar a técnica de músicos entre 18 e 28 anos de idade que têm em comum a paixão pela música, além de enxergarem nela a possibilidade de uma carreira artística e um futuro promissor. Rodrigo Toffolo aponta que a iniciativa foi construída como instrumento de inclusão social e cultural, tendo como base os valores artísticos da formação principal e sua forma de fazer música, que a elevaram ao status de uma das mais importantes e premiadas orquestras brasileiras. Segundo Rodrigo, “A Academia é a materialização de um sonho antigo e mais um passo importante na história da Orquestra Ouro Preto. Queremos apresentar a esses jovens a experiência da música como modo de vida possível, criando oportunidades de inserção no mercado profissional, através de um trabalho prático e, sobretudo, humano, Além disso, os instrumentistas que se destacarem terão a oportunidade de fazer parte do grupo de músicos da Orquestra Ouro Preto”.

Outro projeto sociocultural da Orquestra Ouro Preto é o Núcleo de Apoio a Bandas. Iniciando o terceiro ano de atividades, o Núcleo continua ampliando suas ações em 2019. A iniciativa tem como objetivo fomentar e capacitar regentes, professores e instrumentistas das tradicionais bandas de Minas Gerais e do Brasil. Consultorias, oficinas, palestras, atividades práticas e teóricas estão entre as ações realizadas. As atividades são inteiramente gratuitas, prezando pela troca de experiências e o diálogo entre os participantes.

Para quem quiser assistir a um concerto da Orquestra Ouro Preto até o final do ano, estão previstas as seguintes apresentações:
Fortaleza – O Pequeno Príncipe – 18 e 19 de outubro
Rio de Janeiro – O Pequeno Príncipe – 22 de outubro
Recife – Valencianas – 27 de outubro
Porto Seguro – The Beatles Volume I e Volume II -14 de novembro
São Paulo – Valencianas – 17 de novembro
São Paulo – Orquestra Ouro Preto, Ivan Lins e Gilson Peranzzetta – 25 de novembro
Belo Horizonte – Valencianas – 15 de dezembro
Belo Horizonte – The Beatles Volume I e Volume II – 21 de dezembro.

Recomendo assisti-los ou, na impossibilidade de fazê-lo, adquirir os CDs e DVDs dos espetáculos apresentados. No momento, estou ouvindo muito o CD e assistindo ao DVD “Quem Perguntou por Mim: Fernando Brant e Milton Nascimento”, que são muito bonitos.


Cândido Luiz de Lima Fernandes é
economista e professor universitário em Belo Horizonte;
email:
candidofernandes@hotmail.com






 

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