Ano 22 - Semana 1.129 

 

 
ARQUIVO de MÚSICA




16 de junho, 2019


GRANDES CANTORAS DA MPB (6)

Mônica SalmasO

 


 

Cândido Luiz de Lima Fernandes


Com sua voz grave, de timbre aveludado, super afinada e grande domínio técnico, Mônica Salmaso é considerada uma das intérpretes mais representativas da música brasileira atual. Com pouquíssima exposição na grande mídia, vem conquistando, desde os anos 90, um público fiel em shows por todo o país, atuando também como convidada em apresentações de diversos artistas, grupos musicais e orquestras (como a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais). Em suas apresentações com orquestras, a cantora produz uma obra marcada pelo equilíbrio de sonoridades, utilizando a voz como um instrumento que atua em conjunto com os demais, e não à frente deles.

Mônica Salmaso nasceu em São Paulo em 1971. O gosto pela música surgiu na infância, ao acompanhar, com a voz afinada, os discos de música popular brasileira (MPB) que escutava em casa. O estudo formal de música, porém, só se iniciou bem mais tarde, na época do cursinho pré-vestibular, quando começou a fazer aulas de canto no Espaço Musical, em São Paulo. Após alguns meses de aula, Mônica desistiu do vestibular para jornalismo e decidiu se tornar cantora.

Começou sua carreira na peça "O Concílio do Amor" dirigida pelo premiado diretor Gabriel Villela em 1989. Em 1995, gravou seu primeiro CD, “Afro-sambas”, um duo de voz e violão arranjado e produzido pelo violonista Paulo Bellinati, contendo os afro-sambas compostos por Baden Powell e Vinicius de Moraes nos anos 60, como “Consolação” e “Canto de Ossanha”.

Em 1998, lançou, pelo selo Pau Brasil, seu segundo CD, “Trampolim”, com a produção de Rodolfo Stroeter e participações de Naná Vasconcelos, Toninho Ferragutti e Paulo Bellinati, entre outros. Neste CD interpreta autores como Chico Buarque e Edu Lobo (“A Permuta dos Santos”), Paulo César Pinheiro (“Saci” e “Na volta que o mundo dá”) ,Dorival Caymmi (“O Bem do Mar”) e Dori Caymmi, que musicou o poema de Fernando Pessoa, “Na ribeira deste rio”. Com esse trabalho, Mônica fez suas primeiras turnês internacionais, na Venezuela, Estados Unidos e Europa.

Em 1999 gravou pela Eldorado seu terceiro CD, “Voadeira,” também produzido por Rodolfo Stroeter. Em “Voadeira”, Mônica Salmaso equilibra gêneros distintos da música brasileira como o samba, a valsa, o baião, o xote e a modinha, promovendo com essas leituras uma ampliação dos horizontes de nossa música popular, A Associação Brasileira de Críticos de Arte (APCA) considerou o álbum um dos dez melhores do ano, e Mônica ganhou o prêmio APCA de Melhor Cantora. Dona de um estilo único, Mônica oferece em “Voadeira”, interpretações para composições inéditas como “Dançapé” (de Mario Gil e Rodolfo Stroeter) ou “Negrinho do Pastoreio” e “Juparanã”, da compositora e cantora carioca Joyce em duas parcerias - com Paulo César Pinheiro e Silvia Sangirardi , assim como apresenta releituras de clássicos da MPB como “Ave Maria no Morro”, “Minha Palhoça” “Valsinha” e “Violeira”, respectivamente compostas por Herivelto Martins, J. Cascata, Vinícius de Moraes/Chico Buarque e Tom Jobim/ Chico Buarque.

Um dos seus melhores CDs é o “ Noites de Gala, Samba na Rua”, com um repertório de canções de Chico Buarque, que foi indicado para o prêmio de Melhor Álbum de MPB no Grammy Latino de 2007. Se não bastasse a bela voz, Mônica Salmaso se diferencia de tantas outras intérpretes que gravaram tributos a Chico por causa do auxílio luxuoso do excelente grupo Pau Brasil. Todo o trabalho de escolha das 14 faixas (retiradas de um total de 60 pré-selecionadas pela cantora) e do arranjo delas foi feito em conjunto pela cantora e pelos músicos Nelson Ayres, Paulo Bellinati, Teco Cardoso, Rodolfo Stroeter e Ricardo Mosca. Vale a pena ouvir as interpretações de “Olha Maria, “Ciranda da bailarina”, “Beatriz”, “Basta um dia” e “Construção” na voz de Mônica.

Outro CD maravilhoso, lançado em 2011, é "Alma Lírica Brasileira", um trabalho concebido a seis mãos com seu marido Teco Cardoso (saxofones e flautas) e o regente Nélson Ayres (piano). O álbum foi indicado para o prêmio de Melhor Álbum de MPB no Grammy Latino de 2011 e Mônica venceu o 23º Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantora de MPB. Destacam-se neste CD as belíssimas interpretações de “Melodia sentimental” (Villa Lobos e Dora Vasconcellos), “Lábios que eu beijei “(J. Cascata e Leonel Azevedo), “Samba erudito” (Paulo Vanzolini), “Cuitelinho “ (adaptado por Paulo Vanzolini), “Derradeira primavera” (Tom e Vinicius) e “A história de Lilly Braun” (Edu Lobo e Chico Buarque), além de uma lânguida versão de “Trem das onze”, de Adoniran Barbosa.

Em 2014, Monica Salmaso lançou o disco “Corpo de Baile”, no qual interpreta músicas de Guinga e Paulo César Pinheiro compostas na década de 70 e, em maioria, ainda inéditas. Com arranjos feitos por Dori Caymmi e Paulo Aragão, além da participação de um quarteto de cordas, sopros, acordeon, contrabaixo, piano e viola caipira, esse se revela o mais ambicioso disco da cantora.

Três anos depois de “Corpo de Baile”, Mônica Salmaso lançou seu novo trabalho, intitulado “Caipira”. Nele, a artista apresenta 14 músicas que nos levam numa verdadeira viagem às origens da música brasileira. Apresenta um repertório selecionado a partir de uma pesquisa iniciada em 2003 e que, tocado de forma intimista, ressalta a alma caipira presente no povo brasileiro. A produção do CD é de Teco Cardoso, com arranjos de Neymar Dias, na viola caipira e no baixo acústico; Nailor Proveta, no clarinete e sax tenor; e Toninho Ferragutti, no acordeon. Participam ainda Robertinho Silva, na percussão e André Mehmari, no piano.

Mônica Salmaso é dona da mais bela voz surgida nos últimos anos em nosso país. A escolha criteriosa dos músicos que a acompanham é uma característica marcante de seu trabalho. Outro aspecto que marca a trajetória da cantora é a escolha do repertório, que abrange um amplo espectro da música brasileira. Enxergando a música antes como ofício do que como um dom, Mônica sempre se manteve avessa à aura de glamour que costuma cercar os cantores no Brasil, promovendo o distanciamento entre artista e público. Ao contrário, é reconhecida não só pelo seu talento musical, mas pela sua simplicidade e proximidade de seu público fiel.


 

Cândido Luiz de Lima Fernandes é
economista e professor universitário em Belo Horizonte;
email: candidofernandes@hotmail.com






 

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