Ano 22 - Semana 1.125 

 

 
ARQUIVO de MÚSICA




16 de maio, 2019


GRANDES CANTORAS DA MPB (5)

BETH CARVALHO

 

Cândido Luiz de Lima Fernandes


Em abril tivemos mais uma perda irreparável na MPB. Morreu no dia 30 de abril a cantora e sambista Beth Carvalho, aos 72 anos. Segundo o Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, onde ela estava internada desde o dia 8 de janeiro, a causa da morte foi uma infecção generalizada (sepse).

Um dos maiores nomes da música brasileira, Beth Carvalho tinha cinquenta anos de carreira e uma discografia de mais de trinta títulos. Beth deixa um valioso legado para a música popular brasileira e sempre será lembrada por sua luta pela cultura e pelo povo brasileiro. Seu talento nos presenteou com a revelação de inúmeros compositores e artistas que estão na estrada do sucesso, como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Jorge Aragão. Começando com o sucesso arrebatador de “Andança”, até chegar a Marte com “Coisinha do Pai”, Beth traçou uma trajetória vitoriosa laureada por vários prêmios, inclusive um Grammy pelo conjunto da obra.

O nome de batismo de Beth é Elizabeth Santos Leal de Carvalho. Nasceu no Rio, em 5 de maio de 1946. Herdou da família a paixão pela música – sua avó tocava bandolim e violão. Desde criança, ouvia Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida, grandes amigos de seu pai, que os recebia em sua casa.

Na adolescência, cantava bossa nova e outros ritmos em festas e, para ajudar a família, passou a dar aulas de violão. A carreira de Beth Carvalho se originou na bossa nova. Gravou o primeiro compacto em 1965, com a canção “Por Quem Morreu de Amor”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Em 1966, já envolvida com o samba, participou do show “A Hora e a Vez do Samba”, ao lado de Nelson Sargento e Noca da Portela. No início de 1968 participou no movimento “Musicanossa”, criado pelos músicos Armando Schiavo e Hugo Bellard. Os espetáculos eram realizados no Teatro Santa Rosa, em Ipanema, onde teve a oportunidade de gravar uma das suas canções, "O Som e o Tempo", no LP do “Musicanossa”. Nesta época ela também gravou com o cantor Taiguara, pela gravadora Emi-Odeon. Nos anos seguintes, passou a participar como intérprete dos festivais. Seu primeiro sucesso foi “Andança”, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, que ela defendeu no Festival Internacional da Canção, em 1968, ao lado dos Golden Boys, e com o qual conseguiu o 3º lugar, ficando conhecida em todo o país. A música também deu título ao seu primeiro LP, que foi lançado em 1969. A partir de 1973, passou a lançar um disco por ano e se tornou sucesso de vendas, emplacando vários “hits” como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Olho por Olho”, “Coisinha do Pai”, “Firme e Forte”, “Vou Festejar”, “Acreditar” e “Mas Quem Disse que Eu te Esqueço”.

Beth Carvalho é reconhecida por resgatar e revelar músicos e compositores do samba. Proveniente da zona Sul do Rio, a cantora se destacou no samba quando o gênero era ainda muito masculino e ligado aos negros e aos moradores das favelas cariocas. O apelido de "madrinha do samba" veio do lançamento de nomes como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Jorge Aragão, e de seu trabalho de resgate de cantores como Cartola e Nelson Cavaquinho. Na década de 70, gravou “Folhas Secas”, com Nelson Cavaquinho, e “As Rosas Não Falam”, de Cartola.

Pagodeira, conheceu a fertilidade dos compositores do povo e, mais do que isso, os lugares onde viviam, cantavam e tocavam. Frequentadora assídua dos pagodes, entre eles os do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, ali conheceu nomes que viria a revelar, como Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, entre tantos outros.

Mangueirense de coração, foi homenageada por outras escolas de samba, tendo sido tema de enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçu, “Beth Carvalho, a Enamorada do Samba”, em 1984, e recebido da Velha Guarda da Portela uma placa comemorativa por ter sido a cantora que mais gravou seus compositores.

Em 2004, a cantora gravou seu primeiro DVD “Beth Carvalho - A Madrinha do Samba”, que lhe rendeu um disco de Platina. O CD que saiu junto foi disco de ouro e indicado ao Grammy Latino de 2005 como Melhor Álbum de Samba. Depois de lançar este trabalho com sucessos acumulados ao longo dos anos, seguiu em turnê internacional, em 2005, fechada com chave de ouro no Festival de Montreux.

Em 2009, no Grammy Latino, ganhou o prêmio “Lifetime Achievement Awards”, em celebração à sua carreira. No mesmo ano, precisou fazer uma pausa por causa de uma fissura na região sacra, que a obrigou a ficar em repouso total. Voltou aos palcos no dia 19 de fevereiro de 2011, no show de encerramento do evento Sesc Rio Noites Cariocas. Apesar de a cantora tentar se manter firme em sua carreira, suas condições físicas foram piorando. Quando deu entrevista ao EL PAÍS em 2016, já se recuperava de problemas na coluna após passar um ano hospitalizada — em 2009 ela cancelou uma apresentação durante o show de réveillon na praia de Copacabana, por conta de dores no corpo. Três anos depois, a sambista faria uma cirurgia nas costas.

Em 2018, fez apresentações deitada, pois, por causa das dores na coluna, não conseguia ficar sentada. No fim do ano passado, foi morar com a filha, a cantora e compositora Luana Carvalho, fruto de seu relacionamento com o jogador Édson de Souza Barbosa, mais conhecido como Édson Cegonha.

Entre as várias notas de pesar publicadas pela morte da cantora, destaca-se a da escola de samba Mangueira, uma das paixões de Beth Carvalho: "Com muita tristeza no coração informamos a toda nação verde e rosa que nossa madrinha, Beth Carvalho, nos deixou essa tarde e foi para o andar de cima levar sua alegria junto aos mangueirenses Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Jamelão entre outros bambas do samba (...) Obrigado Madrinha!!"

Descanse em paz, Beth Carvalho!

 

Cândido Luiz de Lima Fernandes é
economista e professor universitário em Belo Horizonte;
email: candidofernandes@hotmail.com






 

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