Ano 24
Semana 1.240




Cultura
e
Tradição

 




 

Chanucá, a vitória dos fracos

 
Jane Bichmacher de Glasman
      
      
Desde a morte de Alexandre da Macedônia, em 323 a.C., os governantes gregos da Palestina fizeram contínuos esforços para forçar o povo judeu a abandonar sua fé e adotar as idéias e costumes gregos. A maioria do povo resistiu ao intento. Com o advento do Rei Antioco da Síria, no ano 175 a.C. foi empregada a força para impor os costumes de vida gregos. Este rei começou a perseguir sistematicamente a todos os judeus que se negavam a deixar o judaísmo; desmantelou e profanou o Templo de Jerusalém, obrigando-os a ajoelharem-se ante os ídolos que ali instalou.


Na pequena cidade de Modiin, o velho sacerdote Matatias, da família dos Hashmoneus, colocou-se, com seus 5 filhos à frente da revolta. Seguidos de um grupo de corajosos judeus, eles chegaram a bater seus inimigos, à princípio nos montes da Judéia e, mais tarde em toda a região, até Jerusalém. Foi a luta de um punhado de homens contra uma multidão, de fracos contra fortes. Venceram grandes exércitos sírios, possuidores de elefantes e máquinas de guerra. Como divisa, inscreveram em sua bandeira estas palavras: “Quem é como tu, entre os poderosos,ó Senhor?” Das iniciais hebraicas destas palavras, formou-se o nome macabeu (macabi), como foram conhecidos os 5 filhos de Matatias. Por outro lado, makevet, em hebraico,é martelo, alusão aos golpes assentados ao adversário.

Em 25 de kislev de 165 a.C.(exatamente 3 anos após a profanação do Santuário), os macabeus fizeram sua entrada no Templo e voltaram a dedicá-lo ao serviço de Deus. O Talmud registra assim: “Quando os Hashmoneus prevaleceram contra os gregos, fizeram uma busca no Templo e encontraram somente um frasco de azeite que jazia intacto e inviolado com o selo do Cohen haGadol (Sumo Sacerdote). Este frasco continha azeite suficiente para iluminar todo um dia, mas então ocorreu com ele um milagre e a menorá (lâmpada) ardeu com este azeite durante 8 dias. Um ano mais tarde nesta data se designou uma festividade em que se recita o Halel e oração de graças (Shabat 21b). Para recordar a vitória dos Hashmoneus e o milagre do óleo, celebra-se, até hoje, no dia 25 de kislev, a festa de Hanuká (=inauguração, no caso a reinauguração do Templo, após a vitória sobre o inimigo).

Esta festa dura 8 dias. Nesta ocasião celebram-se ações de graça e, à noite, acende-se um candelabro de 8 braços (hanukiá). Na 1ª noite acende-se uma vela, e cada noite adiciona-se mais uma, até a 8ª noite, quando são acesas todas as velas.Hanuká é chamada também a Festa das Luzes.

Fatos curiosos: Heroínas

Hana: se nega a renunciar à religião judaica, comendo carne de porco, não cedendo nem quando seus 7 filhos foram mortos, um atrás do outro antes dela.

Judith: por sua beleza, conseguiu iludir o general inimigo (Holofernes) dando-lhe de comer panquecas e embriagando-o; corta sua cabeça e a entrega a seus compatriotas. O desaparecimento do chefe desmoralizou seus soldados, que fugiram da cidade, deixando-a livre do cerco.

Como se festeja Hanuká em casa

. Lembrando o milagre dos 8 dias, acende-se a hanukiá. Cada noite se acende o shamash (vela principal) e uma vela a mais.
. Canta-se e reza-se Al ha-nissim e Maoz Tzur.
. Come-se levivot (latkes = panquecas de batata), sufganiot (sonhos) ou seja, frituras que lembram o milagre do óleo. As crianças brincam com o sevivon (pião de Hanuká).
. Costuma-se também dar dinheiro para as crianças. Com as moedas, elas compram doces para alegrar a festa.

O acendimento das velas

A fim de diferenciar as luzes de Hanuká, não se deve acendê-las no lugar onde as velas são acesas o ano inteiro. Devem ser acesas perto de uma janela ou porta e deste modo “proclamar publicamente o milagre” (Shabat 21b, 23b). O tempo indicado para fazê-lo é imediatamente após o surgimento das estrelas. As velas ou o azeite deverão iluminar pelo menos por meia hora. A ordem do acendimento é a seguinte: se começa acendendo uma luz no extremo direito da Hanukiá; na 2ª noite se acende uma vela a mais à esquerda e assim em diante cada noite consecutiva. Uma vela adicional, chamada Shamash, já mencionada é usada para se acender as demais e para que as velas de Hanuká não sejam usadas com fins seculares.

Antes de acender as velas na 1ª noite, 3 bençãos são ditas (nas seguintes pronunciam-se somente as duas primeiras):
1. Baru’h atá Adonai Elohenu mele’h ha-olam asher kidishanu bemitsvotav vetsivanu lehadlik ner Hanuká (Bendito és Tu, Senhor nosso Deus, rei do universo, que nos santificou com seus mandamentos e nos ordenou acender vela de Hanuká).
2. Baru’h atá Adonai Elohenu mele’h ha-olam sheassá nissim laavotenu baiamim hahem bazman ha-zé (Bendito és Tu, Senhor nosso Deus, rei do universo, que fez milagres para os nossos antepassados naqueles dias, nesta época).
3. Baru’h atá Adonai Elohenu mele’h ha-olam shehe’heianu vekiemanu vehiguiánu lazman ha-zé (Bendito és Tu, Senhor nosso Deus, rei do universo, que nos deu vida, nos manteve e nos permitiu chegar até a presente época).
Depois que as luzes estão acesas, canta-se Hanerot Halalu, cuja tradução é: “Nós acendemos estas velas pelos milagres e feitos maravilhosos que realizaste para nossos antepassados, naqueles dias, por meio dos Teus sacerdotes sagrados. Durante todos os 8 dias de Hanuká estas luzes são sagradas e não nos é permitido fazer outro uso delas, apenas olhá-las a fim de que possamos agradecer e louvar Teu grande Nome, por Teus milagres, Teus feitos maravilhosos e Tuas salvações”. Canta-se também o hino de Hanuká, Maoz Tsur.
Hanuká é uma festividade que comemora um grande ato de fé. Simboliza a luta de poucos contra muitos, dos fracos contra os poderosos, a luta pela liberdade de culto - a eterna luta do povo judeu por sua existência.

Mais curiosidades

Examinando-se Purim e Hanuká, encontram-se alguns fatos bem curiosos ligados às duas festividades. Ambas não estão presentes na Torá, pois aconteceram muito depois, sendo que ambas relatam milagres acontecidos com o povo judeu.
As heroínas Ester e Judith tiveram participação ativa, porém diferente, no desenrolar dos acontecimentos que deram origem a essas festas. Judith, vivia em Israel e defendia sua própria pátria; Ester vivia na Pérsia e defendia a sobrevivência de seu povo em solo estrangeiro. Judith, cujo nome já indicava sua origem judaica, foi voluntariamente, sem nenhuma ajuda, até o acampamento dos gregos que sitiavam a cidade e degolou o chefe grego Holofernes. Já Ester (cujo nome significa escondida), só foi ao palácio do rei Assuero a pedido do tio.
Em Hanuká, o motivo da luta era espiritual; os gregos queriam converter os judeus ao seu credo. Em Purim, o motivo da luta era mais físico: queriam aniquilar o povo judeu. Por isso, a festa de Purim é mais material: come-se e bebe-se muito. Em Hanuká, o maior símbolo é espiritual: acender a Hanukiá.
Quanto às brincadeiras, em Purim usa-se máscaras (simbolizando o segredo da trama); em Hanuká usa-se o pião, que se segura de cima (simbolizando que o milagre veio do céu), em Purim brinca-se com o reco-reco, que se segura por baixo (como o milagre que veio do povo).

Observação: O sevivon (pião) tem 4 lados com uma letra hebraica em cada, equivalentes a N, G, H, Sh, cada uma representando uma palavra: Nes, Gadol, Haia, Sham, que forma a frase = um grande milagre houve lá. Em Israel a última letra é P (Po=aqui). Com o sevivon brinca-se de jogos como rapa-tudo.
 

Extraído do livro À Luz da Menorá.
Jane Bichmacher de Glasman é professora
de língua, literatura e cultura hebraicas

RT, Ano 9 - Semana 457, janeiro/2006

 



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Direção e Editoria
Irene Serra