12/06/2010
Ano 13 - Número 688


Sheila Sacks
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Sheila Sacks



DILEMA CONTEMPORÂNEO

 

Sheila Sacks, colunista - CooJornal

A ação militar que impediu a entrada não autorizada de uma expedição de barcos à costa israelense – seja qual fosse o seu objetivo, já que seria um ato ilegal, um desafio à soberania de uma nação e portanto sujeito à reação - criou uma celeuma previsível entre aqueles que de alguma forma necessitam ou vivem do marketing da mídia, como os políticos, ativistas, articulistas e figuras públicas em geral.

A mais recente tática de misturar grupos violentos e radicais como o Hamas com as chamadas ONGs (Organizações Não Governamentais) de ajuda ao próximo, está resultando em comandos híbridos e dissimulados que confundem e dividem as tradicionais posições ideológicas. A noção do mal tornou-se obsoleta e a farsa ganha tons de verdade.

Um exemplo de orientação equivocada a qual figuras respeitáveis das mais variadas nacionalidades estão assumindo diz respeito à condenação, a priori, de toda ação militar do estado de Israel que provoque baixas em seus antagonistas. Segundo esse ponto de vista, os militares israelenses, mesmo que afrontados e correndo risco de morte, deveriam pensar inicialmente no constrangimento e atribulações pessoais que poderão causar aos judeus do mundo com sua movimentação bélica. Entretanto, exigir cavalheirismo em meio a uma operação de corpo a corpo onde de um lado predomina o vale-tudo e do outro se exige a prática dos bons costumes cheira a hipocrisia.

Pretexto para o antissemitismo

Na entrevista ao jornal “O Globo” (5/6/2010), a escritora, historiadora e psicanalista francesa, Elizabeth Roudinesco, expressa o sentimento que dominou grande parte da comunidade judaica mundial diante da ação israelense para barrar a entrada não autorizada do comboio marítimo. Disse ela que o ataque ao barco estimula o crescimento do antissemitismo. Ao se definir como “mais francesa, mais universalista, mais europeia do que judia”, a respeitada acadêmica repete os mesmos jargões da elite judaica alemã, nos anos 1930, antes do nazismo se instalar na Alemanha e se espalhar pela Europa.

Para esses judeus universalistas, os israelenses fariam melhor destacando-se tão somente como escritores, filósofos, músicos, pintores, doutores, cientistas e demais profissões que rendem dividendos em “boa publicidade”. Um sonho ao qual os israelenses ainda não se podem dar ao luxo, ainda que o desejem. Vivendo sob risco e pressão continuada, o estado de Israel, surpreendentemente, faz as duas coisas: defende-se e produz ciência e arte.

Mas, vale lembrar que ser bom patriota ou figura ilustre da sociedade não é garantia de que se esteja a salvo do preconceito. O antissemitismo está vivo e independe das ações de Israel para sobreviver. Encontrar pretexto para alimentar o ódio milenar não é tarefa das mais complicadas, seja na França, Suécia, Argentina ou Brasil, para citar alguns países.

Da parte de Israel, a incessante busca ao longo de mais de seis décadas pela convivência pacífica com os seus vizinhos, associada à tranqüilidade e segurança que os seus habitantes têm o direito de usufruir, afigura-se penosa de se alcançar. Essa dificuldade - advinda da insensata obstinação dos árabes em não aceitarem a existência de Israel – é uma realidade clara e transparente que o mundo prefere ignorar ou minimizar, principalmente quando o país se vê levado a reagir a um ato premeditado de desestabilização à sua autoridade.

Existem maneiras legais de ativistas pacíficos realizarem as suas missões, mesmo que sejam políticas e ideológicas. Mas o que anima essa gente a desafiar, preferencialmente as nações democráticas em detrimento às ditaduras onde imperam o terror, o medo e o silêncio, é a certeza de que as leis e a justiça nos países livres sempre atuam a favor dos cidadãos, sejam quais forem as suas nacionalidades e crenças. Os ativistas estrangeiros têm consciência que após o tumulto e a desordem, que fatalmente ocasionam vítimas, retornarão aos seus países de origem e receberão tratamento de herois no foco da mídia.

Hamas prega a destruição de Israel

Em sua coluna semanal no jornal Washington Post, o jornalista Charles Krauthammer, destacou alguns pontos importantes sobre o tema: o Hamas já disparou, de Gaza, mais de 4 mil foguetes sobre as cidades israelenses (isso em tempo de paz); semanalmente são inspecionados e enviados a Gaza, por Israel, 10 mil toneladas de alimentos, remédios e outros suprimentos; nas últimas décadas, Israel saiu do sul do Líbano (2000) e de Gaza (2005) visando a paz, entretanto nesses locais se intensificaram a beligerância e a militarização; o bloqueio tem a finalidade de evitar o rearmamento pesado para grupos radicais como o Hamas; na 2ª Grande Guerra, os EUA, com legalidade total, bloquearam a Alemanha e o Japão; em 1962, durante a Crise de Mísseis, em Cuba, os EUA bloquearam a ilha para impedir que um estado hostil obtivesse armas letais.

Para o jornalista, prêmio Pulitzer em 1987 e cujos artigos são reproduzidos em 200 jornais em todo o mundo, o objetivo da incessante campanha internacional é privar Israel de qualquer forma de legítima defesa. Ironizando a situação, ele escreve: “O mundo está cansado desses judeus problemáticos no Mediterrâneo, recusando todos os convites ao suicídio nacional. Eles são implacavelmente demonizados, isolados e coagidos a não se defender, mesmo que os iranianos, em particular, preparem abertamente uma solução final.”



(12 de junho/2010)
CooJornal no 688


Sheila Sacks é jornalista e trabalha em Assessoria de Imprensa no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, RJ
ssacks@oi.com.br



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