“Ela sabia como ninguém que escrever é reflexo do perguntar. E que estava destinada a indagar sempre, pois trabalhava no diapasão do inesperado. Ela escrevia assim por fatalidade de voz. E era seu próprio timbre: insígnia, amplidão, riqueza sonora. E queria escrever com palavras tão agarradas que não houvesse intervalo entre elas e ela. E no fundo não havia, pois escrever foi resultado fatal de seu ato de vida”.

Este é um dos parágrafos de meu texto “No timbre de suas palavras”, que escrevi para o catálogo da exposição “A paixão segundo Clarice Lispector”, inaugurada no CCBB/Rio em novembro de 1992, por ocasião dos 15 anos da morte da escritora. E que foi também colocado na parede principal da mostra.

Com grande apuro gráfico, farto em fotos e fragmentos das muitas palavras de Clarice em vários tempos, o catálogo era enriquecido por textos de Caetano Veloso, Nelida Pinõn, Hélio Pellegrino e Lúcio Cardoso (por quem Clarice curtiu pela vida afora uma “paixão impossível”). Meu texto, assinado “Centro Cultural Banco do Brasil”, abria a publicação – e acho que não fez feio entre as palavras das estrelas citadas, e da própria Clarice.

Em dezembro agora, ela faria 100 anos. Em homenagem ao seu centenário republico esse meu texto (lá se vão quase trinta anos!) no blog, junto com uma “crônica-introdução” sobre ele, extraída de meu livro “Há Controvérsias 2” (Editora Artepaubrasil, São Paulo, 2011), que saíra anteriormente no jornal “Cataguases”, em 2006.

Na época, foram tantos os e-mails recebidos que acabei publicando mais três crônicas dedicadas a eles (acabo de colocar no blog alguns desses e-mails). Clarice tem seus mistérios... e leitores fiéis. Bem o sabia Drummond: “Clarice veio de um mistério./ Partiu para outro./ Ficamos sem saber a essência do mistério./ Ou o mistério não era essencial,/ era Clarice viajando nele”.

Vejam no meu blog, link a seguir:
https://ronaldowerneck.blogspot.com/2020/10/ela-clarice-ja-centenaria.html?fbclid=IwAR1nviAHYZGaLqvSsY_QU1pJYv03bCLoCCQE0m5AIbtypUECKdoOGghr5tw