16/03/2021
Ano 24- Número 1.214



 

ARQUIVO
PEDRO FRANCO

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Biscoitos finos


Crônica. Eis campo onde o Brasil já esteve melhor nas paradas, tanto que ouso dizer que no momento muitos cronistas aparecem e alguns com crônicas de uma nota só. Muitas vezes ameaçam sair do martelar constantemente um assunto, só que estão procurando rodovias secundárias e chegam, como nas suas demais crônicas, à Brasília. Não é que Brasília seja mau assunto para crônicas, ainda mais agora, só que os acontecimentos por lá tanto se repetem, que há que buscar outros delírios. E há cronistas que deixam lacunas, quando suas digitações são interrompidas, valendo brigar com os fados e reclamar, parou por que, por que parou. E culpo a ceifadora por três lastimáveis deserções. Fernando Sabino, Rubem Braga e João Ubaldo. Qual o melhor? Não cogito desta espécie de torneio. Medalho os três. De Sabino reclamavam que fazia biscoitos, quando devia fazer bolo. Tolice, pois seus biscoitos eram finos, afirmou, finíssimos aduzo e nem precisaria de bolo, quem escreveu o romance “O instante perdido”. Este livro é uma espécie do “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde. Só escreveu um romance. Para que mais, se Sabino e Wilde chegaram ao topo do romance. E viva os crocantes de Fernando Sabino! De Braga se dizia tolice da grossa, quanto menos assunto tem, melhor escreve. O gênio de Cachoeiro de Itapemirim trazia na sua cachola aquela crônica dormitando e apenas a acordou com a graça e leveza de sempre. E escrevia perto do seu jardim/pomar elevado, que criara e com sabedoria. Viveu bela vida, ainda que todas acabem. Apenas perseverando viver por intermédio de suas obras, feito ocorrido por todos que se destacam. Já o baiano Ubaldo foi acusado de só falar de Itaparica. Mentira, andou por Ceca e Meca e deixou crônicas notórias e se ao final foi muito à Itaparica e com um bando de seguidores, que esperavam a viagem do próximo domingo, para ter notícias de deleite. Quem não conheceu Zecamunista e seus desdobramentos, perdeu vaza de conhecer tipo complexo e com idéias mirabolantes. E não se zanguem baianos, ou moradores de Itaparica, a ilha de João Ubaldo era mais luminosa, risonha e inventiva, que a real. E não há cronistas de boa escrita agora? Vide “O Globo” e que tal ler Cora, ou Joaquim; E há cronista diário, que muito me espanta pela criatividade, o cartunista Chico, que com suas charges pinta diariamente o Brasil. Grifo. Diariamente. E há vários bons cronistas que jogaram a toalha, pela angústia de não vir o mote para aquele dia e que a hora da entrega da crônica lhes chegava e o parto/crônica não vinha. Mestre Drummond de Andrade, na procura do assunto, viu pedra no caminho de sua crônica e foi à poesia. Interpretado, decantado, teorizado o poema, danou-se, destruiu teses, interpretações esdrúxulas e avisou. A pedra que havia no meu caminho era a falta de assunto, que atravancava a crônica e que então exausto foi à homenageava com verso. Drummond além de poeta, era ótimo cronista, diga-se e vale ler a crônica “Um sábio discreto”, em que homenageou o cientista Helmut Sick e com total propriedade e acerto. Enfim como tivemos confeiteiros soltando biscoitos finos, muito finos. Aceito um pito final. Fui comedido em excesso nas citações de cronistas atuantes e notórios e imperdoavelmente não citei algum dos meus colegas da Rio Total, posto que me incluo quinzenalmente entre eles e ainda sou do tempo que, de alguma forma, elogio em boca própria é vitupério.

PS. já com a crônica pronta em 02/03/2021. E se disse que não nomearia cronista colega, mantenho o prometido, visto que não citarei os da Rio Total e os há ótimos. Lembre-se que não somos de rasga sedas! Só que após o número deste 02 de março da Rio Total, anoto que a Editora Irene Serra nos sai de biscoito muito fino e com crônica de muito gentil contexto. Obrigado.
   


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.



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