16/02/2021
Ano 24- Número 1.210


 

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PEDRO FRANCO

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Azeitonas, pastéis e músicas


No tempo da minha entrada para a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores-RJ, conforme proposição de quem veio a ser grande e saudoso amigo, poeta Luiz Gondim, era praxe todos os participantes lerem algo, a ser comentado pelo plenário. As reuniões se chamavam tertúlias, achei o título meio mofado, mas os mais antigos naquela época tinham grande apreço por ele. Ao fim da minha arenga em tertúlia, douto e premiado médico escritor julgou oportuno colocar o neófito no bom caminho das letras e do alto de seus merecidos prêmios me avisou que não era conveniente colocar azeitona no pastel dos outros. Trocando em miúdos (ótima música do Chico Buarque), aconselhava o confrade (confreira ainda é pior) que citar outros autores no que escrevia, era pôr azeitona em obra alheia. No caso presente, na crônica lida e aplaudida, até que chegou a vez de quem falou em azeitona, deu veredicto e veio com a história do pastel, vale contar que minha citação era a respeito de obra do Chico, de quem sou seguidor literário, não político, desde que vi, ouvi, em Festival da Canção, “Pedro Pedreiro”. Se segui o conselho do confrade? No caso em tela não, até porque minhas azeitoninhas são migalhas diante da obra literária do meritório vencedor do Prêmio Camões de 2020. Também nunca vou me furtar de elogiar o que me agrada. Se não me agrada e não sendo crítico de carreira, não solto elogio vão, fico na minha e segue a roda. Crônicas são para contar e, saindo da culinária, vou a suposições que fazem sobre meus costumes. Vamos à música prometida no título dessa. Fiz impoluta chefa de gabinete de determinado órgão previdenciário ficar em estado de choque. Conto coisa antiga. Rua Inhaúma, perto do Arsenal de Marinha e embaixo da sede do SASSE havia loja de discos long plays. É já houve bolachas, que começam a voltar. E a chefe de gabinete, com seu sorriso plantado, fez-se de curiosa sobre o disco da minha aquisição. - Que disco erudito vai adquirir o jovem Chefe do Departamento de Assistência? Fiquei no cargo por doze anos e julgo que valeu para instituição, que foi fechada, já que não dava prejuízo e no departamento de assistência para todo o Brasil não ocorreu roubo, que eu soubesse, ou aceitasse. Paguei pessoalmente caro, por tentar fazer algo técnico e honesto por 12 anos. Voltemos à compra de... E estávamos na casa de discos em 1968/9, avisei que estava comprando o long play dos Novos Baianos, “Acabou Chorare”. E por rara vez tive a honra de ver na fisionomia da dita Senhora, o que de fato pensava. Se ela fosse o presidente do instituto, o admirador dos Novos Baianos estaria ferrado e demitido. Só faltou ela pedir ao dono da loja meus sais. Não, não teve chilique e minutos depois voltou a exibir seu estereotipado sorriso, agora menos derramado que antes. Vejam só, chefe de departamento comprando este tipo de disco! Aduzo, se não mais tenho o long play e foi pena dar, que tenho em CD e Baby, Paulinho Boca de Cantor, ótima designação, Pepeu Gomes e Moraes Moreira ainda me encantam em “Acabou Chorare”. É verdade que nesta pandemia tenhamos muito que chorar e até pela direção que não temos. Que trapalhada fizeram na compra de vacinas e alhos técnicos ficaram imbricados com bugalhos de toscos. E se há quarentena e amantes confinados se estranhando, voltemos à música. Ouçam “Discussão”, Tom Jobim/Newton Mendonça e na voz de João Gilberto. “Às vezes é melhor perder, do que ganhar, você vai ver”. Concordo e ponho várias azeitonas sem caroço e com aplausos para os três grande artistas.  


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.



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