01/07/2020
Ano 23- Número 1.179

 

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PEDRO FRANCO

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Acordar

Pedro Franco - CooJornal


Acordar pode trazer logo uma sensação boa, ou ruim. Droga, mais um dia, ou que bom, mais um dia. E a vida de todos é cheia de alternativas, ainda que em certas épocas a sensação do mais um dia a ser difícil predomine. Vide pandemia. Acresce que se o dia tiver um bom prognóstico, usualmente não é valorizado. O dia com aspecto de dificuldades é logo vislumbrado. A infelicidade costuma falar mais alto que a felicidade. A feiura se sobrepõe à beleza, a maldade à bondade, a demagogia à democracia e assim por diante. Aceitemos que há fases difíceis na vida. Ser Poliana não é de todo recomendável e demonstra certo grau de alienação, ainda que possa ser confortável. Portanto aceitemos que há dias em que acordar é ato que traz conotações desagradáveis e até os jornais e a televisão com suas informações não animam muito. Atentados, crimes, assaltos, roubos de toda a espécie, despreparo, burrice, demagogia, aparecem em quase todas as notícias. Até por religião se mata, rouba-se, engana-se. Portanto as notícias do bairro, município, estado, país, mundo, não mostram nuvens rosas nas manchetes das manhãs. Talvez seja hábito salutar trocar notícias por músicas, desde que se saiba escolher o repertório, pois se cair no funk, fica tudo dominado e você acaba dizendo meurmão e perdeu. Música no café da manhã, jornais e televisão para depois, quando o dia já tiver engrenado com bons propósitos. Café, algo com fibras, música, ou quem sabe um bom livro policial e livros policiais, ao contrário do que podem parecer, costumam ser menos agressivos que os jornais. São assépticos e saudavelmente nos alienam dos males cotidianos. PD James é ótima pedida, ou a coleção Inspetor Maigret Simenon. Ian Fleming nunca saberá como me ajudou a vencer fase complicada da vida, com graves doenças e etcs na família.
Percebo que há momentos na vida de cada um que o prognóstico pessoal, ou familiar, ou nas amizades, ao acordar, não é ruim, muito pelo contrário, mas eu, você, ela, ele, acordam enfastiados e não pensam em gozar o dia, concebem apenas que há que ultrapassá-lo, com se fosse um fardo. E bastava chegar à janela, ouvir o canto de um pássaro, ver moça bonita passar, ou um cão labrador, ou mesmo automóvel Mini-Cooper, ou a passagem de bando de bicos de lacre, ou a fugaz flor da munguba, ou, e de acordo com o gosto de cada um, as citações encheriam linhas e linhas, pois o mundo de Deus é vasto em beleza e possibilidades. Se estamos em fase de borrasca, devemos pensar que depois dela vem a bonança. Paciência, rezas e denodo. Se estamos em fase de bonança, não vamos pensar que depois vem a borrasca, pois ela lamentavelmente vem, com mais ou menos intensidade, aparece. Logo é apreciar os dias amenos e curti-los, para usar um verbo em voga. Intensamente usufruí-los com toda a ganância, com todo élan de corpo e alma. Tanto faz se há sol, ou chove, se está quente, ou frio, pois o tempo da alma, a temperatura do coração, independem do clima externo. Gaste seu amor nela, nele, nos próximos, em você e se entregue ao bom dia. “Carpe diem - Horacio”. Muito “carpe diem”. Você merece, creia.
 



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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.



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