01/06/2020
Ano 23- Número 1.175

 

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PEDRO FRANCO

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Fuja de ser classificado de brega

Pedro Franco - CooJornal

A primeira dificuldade é classificar o que é brega. Talvez cafona. Que é cafona? Não é ultrapassado, sem gosto, ou popular em excesso e sairíamos por muitas vertentes e sem definir bem. O brega costuma ser algo espalhafatoso, caudaloso, pouco literário, ou duvidoso no geral. E se acho fulano brega, para mim é brega e para outro, não brega, pode não ser brega. Nos tempos do politicamente correto temo ir a exemplos, já que ser processado por difamação não está em minhas perspectivas. Se não der exemplos, ficarei chovendo no molhado. E cronicar com censuras prévias ainda é mais difícil. Ficando no politicamente correto, vou citar um gênio, que por sorte dele e nossa, fez arte antes desta terrível censura. Só não foi gênio mundial em humorismo, porque nasceu no Brasil e se expressou em português. Mestre Eça reclamava que escrever na última flor do Lácio, era escrever em um túmulo. E ao humor volto com Chico Anysio. Escrevia, representava, fazia rir, só que muitos dos seus personagens poderiam incomodar alguém. Humor tem disto. E se passarem em mente seus tipos, nem vou precisar exemplificar. E, sorte dele, nunca foi classificado de brega. Vou ao risco e desde já não concordando com a classificação, que com o tempo se desfez. Chico Buarque e com toda a razão, desde “Pedro pedreiro” ganhou halos de poético, avançado, com valor literário, o antônimo de brega. E quem podia ombrear-se com ele em popularidade seria Roberto Carlos, até melhor cantor que Chico. Só que na cabeça de muitos só pode haver um ídolo musical e se as músicas de Roberto/Erasmo descambavam para o erótico, viraram músicas de motel e mais danado ainda ficaram quando o compositor ficou na música e desdenhou impressões políticas. Se questiono as ideias do Chico político, fiquei muito satisfeito com o Prêmio Camões, poeticamente muito bem dado (perdi vários amigos com a frase, que fazer?). E julgo a dupla Roberto/Erasmo Carlos ótima, ainda que não atinja na maioria das letras o patamar poético do Chico. Então para mim Roberto nunca foi brega. E chego ao que me levou a buscar o tema: Brega. Ouvia “Retalhos de cetim” de Benito de Paula. Que samba espetacular! E aí vi nos youtubes da vida show do artista. No piano e cantando. Será que o politicamente correto deixe dizer, que se a música nada tinha de brega, não era um “Chão de Estrelas” – Orestes Barbosa/Sylvio Caldas, os cetins no Carnaval do Benito estão ótimos. Parêntese, tenho amigo que se dana ao ouvir falar em cabrocha, acha brega e de fato não é do tempo de cabrochas. Voltando ao fio da meada, brega. O visual do compositor, cantor, intérprete, não ajuda a música, porque é.... pouco recomendável. “Não pensei que mentia, a cabrocha que eu tanto amei.” E, infelizmente o Covid 19 é brega, bem como muitos que o apoiam.  



Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.



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