01/02/2020
Ano 23- Número 1.159

 

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PEDRO FRANCO

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Simpatias e antipatias

Pedro Franco - CooJornal


Não sei se o politicamente correto vê com bons olhos antipatias. Podemos ter? Todos teriam de mirar com olhos simpáticos todos! Beleza! Que o politicamente vá para os quintos, pois é fonte de censuras, castrações, injustiças, revoltas e principalmente hipocrisias. O riso é foco de muita ação do politicamente correto, com censura velada e constante. Vou a exemplo marcante com a obra monumental e especialmente televisiva de Chico Anysio. Quais de seus formidáveis personagens passariam incólumes por esta vil censura do politicamente correto? Será que o riso, a graça e a alegria são politicamente incorretos? E Noel Rosa com a música do gago? Idem as populares anedotas? Só sobrariam as de papagaio e assim mesmo se fossem inocentes. As há? As antipatias podem ser constantes, ou fugazes e antipáticos podem virar amigos e simpáticos nem conhecidos, às vezes, se tornam. Entra-se em novo círculo de relações e simpatizo com Fulano, antipatizo com Beltrano, Sicrano nem sim, nem não. E de repente meu maior amigo é Beltrano, com quem tenho afinidades até clubísticas. Que não se leve antipatias a ferro e fogo e sem valorizações excessivas, merecendo apenas deixar o tempo correr, que, levadas aos extremos, antipatias, podem atrapalhar relações. Vou a exemplo literário e pedras vão chover na minha cartola (homenagem ao dito Cartola). Não julgava Vinicius de Moraes simpático, ainda que se esmerasse por ser. E sua obra? Excelente e em todas as nuances poéticas. Em música popular ele e seus importantes parceiros produziram obras inesquecíveis. Só que meu foco não era quem se dizia o branco mais preto do Brasil etc (será que os do politicamente correto recriminariam a própria classificação do Poetinha?). Deixo o diplomata e fico e me fixo em Lupicínio Rodrigues. Além de não simpatizar com Lupicínio, achava sua figura pernóstica. Até que fui à sua obra e o gaúcho se tornou muito simpático e eclético. Lupi para os amigos e de vida tumultuada e com rasgos de bondade, foi rei. Deixo o retrato e vou à obra, listando algumas músicas, já que para citar todas não há espaço. Inicio por samba, que fica entre os melhores do Brasil, 1- “Se acaso você chegasse”, gravação original de Cyro Monteiro e com ritmo sensacional. Depois um tango, machista agora, normal na época e no CD com interpretação notável de Cauby Peixoto, 2- “Vou brigar com ela”. Ainda Cauby em 3 – “Ela disse-me assim”. Cauby foi das vozes mais mal aproveitadas do Brasil e que pena. Final de vida de chorar. 4 – “Felicidade”, conjunto vocal do qual participava Luiz Bonfá, os Quitandinha Serenaders, conforme denominação de Carlos Machado para o grupo. Os Quitandinhas levam bem a canção terna, tudo a ver com saudades. 5 – “Quem há de dizer”. A que diz que “‘quando ela dança, todos com a mesma esperança, sempre lhe lançam um olhar”, e já dissera antes que ela “ilumina mais a sala do que a luz de um refletor”. Dor de cotovelo das brabas. Nem vou detalhar mais as poética e sofridas letras, dando apenas o título da música, para mostrar o valor das composições do simpático e de bigodinho Lupicínio Rodrigues, 6 – “Nervos de aço”, 7 – “Vingança”, 8 – “Volta”, 9 – “Nunca”, 10 – “Esses moços”, 11- “Minha história”, 12 – “Conselho”, 13 – “Brasa”, 14 – “Cadeira vazia” e 15 – “Castigo”. Lupi usualmente compunha sozinho, tanto que foi difícil ver o nome de seus parceiro, fato que lamento. E há muito mais sucessos que assinou, interpretados pela nata dos cantores daquela época, bastando citar As irmãs Batista, Linda e Dircinha, Nelson Gonçalves, Cyro Monteiro (que show em Se acaso você chegasse, o primeiro grande sucesso nacional do poeta da dor de cotovelo), Paulinho da Viola (Nervos de aço fica ótima em sua voz), Trio de Ouro. E já ouvi Simonal dando ótima interpretação a “Quem há de dizer”, Orlando Silva, Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Altemar Dutra. E de quando em quando um cantor mais novo tira do baú uma Lupicínio Rodrigues e mostra que sua obra por mérito venceu o tempo e continua sendo cantada. Exemplos, Elis Regina em “Cadeira Vazia” e Adriana Calcanhotto, “Loucura” e “Ela disse-me assim”. Valeu Lupicínio Rodrigues e valeu muito.



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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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