16/07/2019
Ano 22- Número 1.133


 

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PEDRO FRANCO

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Da Medicina ao tango

Pedro Franco - CooJornal

(In memorian ao Mestre Tito Abreu Fialho)              

"Pneumotórax
Manuel Bandeira.
Febre, hemoptise, dispneias e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico.
– Diga trinta e três.
–Trinta e três...trinta e três...trinta e três...
– Respire fundo.
............................................................
– O senhor tem escavação no pulmão esquerdo e o direito infiltrado.
– Então, doutor, não é possível o pneumotórax?
– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."

Se fosse poeta, gostaria de ter escrito a frase "a vida inteira etc". Genial e Bandeira falava em verso de Orestes Barbosa, em "Chão de Estrelas". Cantaram-na demais e qualquer “soi disant” seresteiro atacava o "minha vida era um palco iluminado etc " e fez cansar a música. Imitavam Sylvio Caldas, que foi parceiro de Orestes no Chão. "A lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão", foi a frase citada por Bandeira, quando contou que se fosse chamado a votar no melhor verso da poesia brasileira, talvez escolhesse o citado de Orestes Barbosa. Gosto mais da citada no Pneumotórax, “a vida inteira que podia ter sido e não foi”. Muito em poucas palavras. Voltemos à poesia, trinta e três foi uma furada tupiniquim. Para o frêmito tóraco-vocal se precisa de palavras fortes, vibrantes. E traduziram apenas. O “trinte trois” tinha o erre francês, vibrante. Já o trinta e três... Quarenta e quatro soa forte, vibrante e é mais semiológico. E, ao pedir aos pacientes que digam quarenta e quatro, perguntam-me se é por inflação! Pormenores de quem já ensinou Semiologia, matéria que poucos valorizam hoje em dia. Pede-se exames... E por fim Bandeira, que foi doente do pulmão, cita o tango argentino. Notável. Há algo mais trágico que um tango argentino? Dá-lhe Carlos Gardel. Luiz Rigoni, já falecido, um espetacular jóquei brasileiro, apelidado "o homem do violino", pela forma que tocava os cavalos, tinha tango argentino, em castelhano, com seu nome e era de total louvação. Sobre tangos prefiro os tangos clássicos, com especial destaque para “Nostalgias”, aos de Piazzolla e semelhantes, com perdão do amigo e ótimo poeta Luiz Gondim, defensor ferrenho do novo tango de Asto!



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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.



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