16/06/2019
Ano 22- Número 1.129


 

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PEDRO FRANCO

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Dar certo, dar errado

Pedro Franco - CooJornal

Conheceram-se, afinaram-se, tinham afinidades, eram da mesma sociedade, as famílias estavam de acordo e chegaram ao casamento com as pompas necessárias e juras de amor eterno. Sete meses depois contribuíram para mais um divórcio e com as querelas de praxe, já que se formaram dois esquadrões e com esquadras potentes, inclusive com assessorias jurídicas de relevo e com conotações familiares. Ainda bem que não houve rebento e assim sendo nenhuma criança sofreu. Crianças não sabem dividir lealdades e se pai e mãe se separam, de que lado ficar? De preferência nos dois, ainda que no ardor das primeiras batalhas, os que se divorciam, esqueçam-se do principal que compuseram, o filho, ou os filhos. No caso presente não houve esta criança e menos mal. Só que aquele casamento tinha tudo para dar certo e não deu. Alguns perguntam nestas ocasiões porque não deu certo. Nos antigamentes muitos desastres nupciais ocorriam face às divergências de alcova. Na modernidade esta fase já foi vencida e não deve ser motivo, ou os motivos, do pronto desgaste. Ditado antigo, quando se elogia o marido, a mulher só diz, mora com ele. É, morar, conviver no dia a dia requer muito amor e muitas vezes nem este segura a relação. Enfim o casamento de João e Maria deu errado. Está bem, prefere o casamento de Maria e João, tudo bem. E enquanto ainda se preparava o casamento de Maria e João, a família de João enfrentou em sigilo outro casamento, que tinha tudo para dar errado. Ambas as famílias eram abonadas e por negócios de parentesco. Uma no ramo dos massames, a outra na criação de gado. As duas em escalas financeiras importantes. E se a de João era a que se dedicava à criação de gado, havia uma fazenda, que era gerida por um tio solteirão, de poucos estudos e que ficou por lá, vindo ao Rio para receber ordens, prestar contas, muitas vezes levar reprimendas dos outros três irmãos, que de fato cuidavam dos dinheiros e futuro da família. Então tio Juca era pau mandado e pelo menos uma vez ao mês saía da fazenda e vinha ao Rio, ficando então na casa do irmão mais velho e pai de João. Numa destas escapulidas Juca conheceu moça e a apresentou à família, avisando e todos se espantaram, porque já chegara aos sessenta anos e com proposta inequívoca de solteirice. Apresentou a moça e a firma da família quis logo saber quem era aquela moça, de vinte e sete anos, que se não era bela feito Maria, para Juca era areia demais. E o setor encarregado da segurança da firma descobriu com facilidade que Angelina, vulgo Angel, era garota de programa e o título dado era para pegar leve. Os três irmãos se reuniram e contritamente foram dar a infausta notícia ao Juca. E Juca sabia de tudo, Angel lhe contara e assim mesmo ia se casar. Os três irmãos tentaram pôr juízo na cabeça do irmão e razões foram dadas. Juca, que sempre ouvira admoestações de cabeça baixa, bateu pé, avisou que ia casar, fazer festa, tinha dinheiro e pronto. Juca acedeu em fazer o casamento um mês depois do de João e Maria. O casório aconteceria na cidade perto da fazenda. Os irmãos pediram com medo do passado da noiva, que o casório não ocorresse no Rio. Juca e Angelina acederam. Esta moça não aguenta a fazenda por três meses e ainda vai pôr chifre no Juca. Assim aconteceu o casamento, não a traição e dois juquinhas tiveram a feliz primeira infância na fazendo com pais enamorados e sempre amorosos. Quando fizeram dez anos de casados e João já estava no terceiro casamento, os três irmãos deram a mão à palmatória e então aceitaram Angelina. Por que o casamento de João e Maria deu errado? Como o casamento de Juca e Angelina deu certo? Mistérios nupciais.



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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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